T03 Ep17 O caso do Monstro de Fortaleza
O Caso
Luís
Miguel Melitão Guerreiro, filho de Carlos José das Dores Guerreiro e de
Carolina Assunção Melitão Guerreiro, natural de Barreiro em Portugal nasceu no
dia 19 de maio de 1970.
Não
se sabe profundamente como foi sua infância e adolescência, sua vida com seus
outros dois irmãos, ele tinha um irmão e uma irmã.
O primeiro emprego dele foi como ajudante de canalizador,
ele ajudava a reparar canos de água, a mexer com drenagem. Ainda jovem ele
entrou para a Marinha Portuguesa, onde ficou por 6 anos, mas acabou sendo
dispensado por insubordinação após sem autorização, pegar um carro oficial e ir
para a Espanha por 8 dias. Ele foi
acusado de furto e condenado a 1 ano de prisão.
Em 1997, no mesmo
ano em que sai da Marinha, ele se casa com Alexandra Ferreira Nunes, uma empresária
no ramo da construção civil. Ele continuou trabalhando como encanador e o
casamento acabou não durando muito.
Foi trabalhando
como encanador que Luís Miguel conheceu Antônio Correia Rodrigues, que Luís
Miguel chamava de Tavares, dono de uma construtora civil e pra quem, Luís
Miguel começou a prestar serviços. Os
dois acabaram criando uma amizade.
Quando Luís Miguel
se divorciou, ficou recluso, faltava trabalho, vivia triste e foi Antônio que
emprestou a casa de sua irmã para que o Luís Miguel fosse morar por uns meses,
enquanto não melhorava e voltasse a trabalhar. Mais do que isso, Luís Miguel
pediu a Antônio o que seria equivalente 500 mil escudos, 2.500 mil euros na
época (o processo de implementação do Euro ainda não estava finalizado então a
moeda em Portugal era o escudo) emprestados para pagar algumas dívidas, comprar
comida e sair da casa da irmã de Antônio e alugar algo pra ele. Antônio
emprestou de boa-fé, acreditando que o amigo iria voltar a trabalhar e o
pagaria. Foi o primeiro erro de Antônio. Com esse dinheiro, Luís Miguel decidiu
que iria embora de Portugal.
Primeiro, Luís
Miguel pensou em ir para a Bélgica. Acabou se decidindo pelo Brasil. Em
fevereiro de 2001, Luís Miguel Melitão Guerreiro desembarcou em São Paulo. Mas
não ficou muito tempo. Conversando com algumas pessoas em um bar, disseram a
ele que em Fortaleza, capital do Ceara, talvez fosse bom de ir viver, era um
lugar bonito, de praia e cheio de mulheres. Não precisaram falar duas vezes. Em
dias, Luís Miguel partiu para fortaleza.
Ao chegar, Luís Miguel se hospedou no Hotel Américas, um hotel bem simples, mas a 300 metros da Praia de Iracema. Por 15 dias ele ficou hospedado no quarto 108.
Ali era um local
com muitas danceterias e pontos de prostituição. Fortaleza tinha passado e
ainda passava, por um aumento exponencial de turismo sexual. Diversos
estrangeiros iam ao Ceara para isso. Mesmo não tendo sido esse o seu objetivo
principal quando decidiu vir ao Brasil, o Luís Miguel se tornou frequentador
assíduo de uma danceteria chamada Desigual e se envolveu com algumas garotas de
programa.
Como se espera ao
se viver de bar, danceteria e mulheres, o dinheiro que ele trouxe começou a
acabar rapidamente. Nesse contexto, ele conhece Maria Leandro Cavalcante.
Maria trabalhava
como arrumadeira no Hotel Américas e se aproximou do português. Ela o levou a
Praia do Futuro, o apresentou a uma barraca, aqui no Rio eu conheço como
quiosque, as fontes falam em barraca. A Maria tinha alguns irmãos e um deles,
Manoel, que as pessoas conheciam como Claudio, chama o Luís Miguel para serem
sócios.
No dia 27 de maio
de 2001, Luís Miguel e Maria Leandro casaram-se no civil em Fortaleza, dois
meses após se conhecerem.
Manoel alugou a barraca de Adelina Farias Barroso, que tinha o espaço desde 1978 e fica na Avenida Zezé Diogo número 2479 em abril de 2001, por R$ 300. Adelina, que trabalhava em outra barraca, vivia com a filha, Virna, em um quarto em uma área na frente da barraca, porém um pouco afastada.
A ideia de Manoel
foi abrir um bar chamado “Os Rodrigues”: não deu certo. Em junho, o Luís Miguel
entra como socio do cunhado na barraca e eles resolvem fazer dela uma
danceteria.
O
nome da barraca virou Vela Latina. E os pagamentos dos aluguéis, começaram a
atrasar. Eles abriam pouco a barraca e faziam festas privadas.
Luís
Miguel e Maria alugaram um sobradinho na rua Deputado Joaquim Figueiredo,
Conjunto São Pedro no Morro Santa Terezinha em Vicente Pizon, 5 minutos da
barraca e com vista para a Praia do Futuro. A família de Maria morava na mesma
localidade.
O
Manoel e o Luís Miguel contratam para trabalharem no Vela Latina, o Raimundo Martins
da Silva, como segurança, Leonardo Sousa dos Santos, como garçom e José
Jurandir Pereira Ferreira, como segurança, todos moradores do mesmo bairro que
eles.
Mesmo investindo em uma pequena reforma na barraca, divulgação e em bebida, a barraca não dava lucro. Se eram os preços que eles cobravam, se era a localização da barraca, se era o fato de ser ou não uma danceteria, não se sabe, o que sabemos é que além de gastar o dinheiro que tinha, Luís Miguel acumulou uma dívida de R$ 3 mil. E os pais dele, ainda mandavam dinheiro de Portugal pra ajudá-lo, mesmo assim, o dinheiro nunca era o suficiente. Ele chegou ao Brasil com mais ou menos R$ 20 mil reais e ele já estando aqui, parece que a ex-mulher ainda enviou uma quantia pra ele da venda de algo que eles teriam comprado ainda estando casados ou algo do tipo.
No
meio disso tudo, a Maria Leandro descobre que esta grávida. O Luís Miguel agora
não tem mais dinheiro, está com uma dívida, conta pra pagar e um filho vindo. E
achando que resolveria todos os seus problemas, ele tem uma ideia.
Ele
mante contato telefônico com o Antônio Correia em Portugal. Nesses contatos,
ele começa a insistir que Antônio venha ao Brasil de férias. Ele conta que era
um empresário em Fortaleza, que era um lugar fácil de se encontrar mulheres
bonitas e que juntos, eles poderiam até pensar em terem algo juntos no Brasil.
A
ideia surgiu durante uma conversa entre Luís Miguel e Manoel, enquanto Luís
Miguel contava que estava conversando com um amigo empresário de Portugal para
que ele viesse ao Brasil: assaltar.
Depois
da insistência de Luís Miguel, Antônio decidiu vir ao Brasil. Seria o seu 2º
erro. A princípio, em julho, Antônio disse que viria com outro amigo, Vitor
Manuel Martins, de 53 anos, natural de São Brás de Alportel, casado e do ramo
da construção civil. Antonio era de Freixianda / Ourem e pelas fontes consta
que ele era ou estava solteiro. A viagem seria em agosto, na segunda semana.
Com
a confirmação da viagem, Luís Miguel e Manoel, chamam Raimundo e Leonardo para participarem
do plano. Eles tinham duas armas, mas 1 delas sumiu e eles acharam melhor
chamarem o José Jurandir para ajudar. Um
deles teria perguntado se esse empresário era estribado, se ele era rico, se
tinha dinheiro, Luís Miguel disse que sim e foi assim que nasceu a macabra
ideia do que viria a ser conhecida como a Chacina dos Portugueses.
A
ideia inicial evoluiu de assalto para sequestro e em seguida um pedido de
resgaste, para execução. Eles alugariam um lugar no Castelo Encantado ou no
Santa Terezinha, áreas em Fortaleza, uma casa que teria areia ou um espaço com
terra que desse, caso fosse necessário enterrar algo e sequestrar o português
para tentar o máximo de dinheiro que fosse possível, talvez em torno de R$ 200
mil reais. Para que eles não pudessem ser identificados, eles precisariam matar
os portugueses.
O
Joaquim Mendes, o seu cunhado Manuel Barros e o Joaquim Martins, fizeram no dia
03 de agosto as reservas de hotel, o Holiday Inn, na praia de Iracema e um guia
com uma agência de viagens que ficava em Pombal, onde eles moravam. O plano
eram os 6 ficarem em torno de 9 dias no Brasil, chegando no dia 11 ou 12 e indo
embora dia 20.
Faltando
dois dias para a viagem, que seria 11 de agosto, Antônio Correia avisa a Luis
Miguel que iriam para o Fortaleza, no total, 6 portugueses, além dele e o
Vitor, também iriam: Joaquim Fernandes Martins, 47 anos, natural de Pombal,
casado; Joaquim Manuel Pestana da Costa, 50 anos, natural de Arrentela /
Seixal, casado; Joaquim Silva Mendes, 52 anos, natural de Abiul/Pombal, casado
e o Manoel Joaquim Barros, 52 anos, natural de Abiul/Pombal e cunhado do
Joaquim Silva Mendes.
No
dia, 11 de agosto, 8 da manhã, o Manoel e o Leonardo aparecem na casa de Luiz
Carlos de Lima perguntar se ele alugaria a kombi dele para um frete que o chefe
deles queria fazer. Luiz pede aos dois que o tal chefe fosse lá pra conversar
com ele e acertar o aluguel. Trinta minutos depois, o Manoel voltou de moto com
um homem que se apresentou como Miguel, um português e que pediu para alugar a
kombi para ir buscar uns amigos no aeroporto. O Luís Carlos, dono da kombi,
tinha saído, ele tinha ido até o Montese, outro bairro quando a sua esposa
ligou, por volta das 9:30 da manhã avisando que os homens estavam lá esperando
por ele.
O
homem português então pagou a ele R$ 50 reais para alugar e mais R$ 15 pelo
combustível e fica acertado que eles ficariam com a kombi até o dia 12.
O grupo do Luís
Miguel escolhe usar a barraca Vela Latina para pôr em pratica o plano de roubar
a matar os portugueses. Com a kombi alugada, eles voltam para a barraca e o
buraco, de 3m de largura por 2m de profundidade, em que os portugueses seriam
enterrados, começa a ser aberto na área da cozinha da barraca no dia 11 de
agosto, um dia antes do que estava planejado para eles chegarem.
Usando um nome
falso, Luís Miguel liga para a agência Netur, em Fortaleza e cancela a van, que
estava planejada de ir buscar os portugueses no Aeroporto Internacional Pinto
Martins.
Os 6 portugueses
saíram de Lisboa em um voo da TAP as 1 da tarde no dia 11 de agosto até o Recife.
Chegaram em Recife as 19:30, fizeram uma conexão na Varig para Fortaleza. Eles
desembarcaram no Aeroporto Internacional Pinto Martins no começo da madrugada
do dia 12. Luís Miguel e o Manoel foram com a kombi buscá-los e acabou os
convencendo a irem direto para a barraca na praia do Futuro, onde supostamente,
já estariam algumas garotas de programa que ele chamou. Por fim, eles
concordaram. A van da agência Netur, mesmo com o pedido de cancelamento falso
feito por Luís Miguel, estava no aeroporto os aguardando para levar até o
hotel. Eles nunca entraram nessa van. O Check in no hotel nunca foi feito. Na
bagagem, Antônio trazia com ele, encomendas que os pais de Luís Miguel tinham
enviado.
O dia 12 de agosto
de 2001 foi um Dia dos Pais e por isso, Adelina tinha, no dia anterior, ido
para a casa da sua irmã, Marlucia, com a filha. Como a menina dormiu, Adelina
achou melhor ficar na casa da irmã aquela noite pra filha não precisar pegar a
friagem vinda da praia tão tarde. Foi o que salvou a vida de Adelina e de
Virna.
Ao chegarem todos
na barraca Vela Latina, na areia da Praia do Futuro, 01:30 da manhã, estavam lá
o Leonardo, Raimundo e o José Jurandir.
O Luís Miguel afirmava
que tinha entrado em contato com uma mulher que ele conhecia, uma garota de
programa, que se chamaria Patrícia e que ela estaria indo para o Vela Latina
com outras garotas de programa. O Raimundo saiu para comprar uma quentinha com
frango assado e eles ficaram na mesa, ouvindo música, bebendo e comendo o
frango.
Com as horas
passando e nenhuma mulher chegando, o Antônio disse que já era tarde e queria
ir para o hotel descansar. É nesse momento que Luís Miguel fala a frase que dá
o start para a Chacina: é agora ou nunca.
Raimundo, armado
com um revólver 38, manda aos gritos, todo mundo deitar-se no chão. José
Jurandir, Manoel e o Leonardo também ameaçam os portugueses com facas. Nesse
primeiro momento, Luís Miguel também é rendido, para que os outros acreditassem
que era um assalto. Os 7 são amarrados com fios de nylon. Luís Miguel é
colocado no banheiro masculino e os outros 6 no banheiro feminino.
Pegaram todo o
dinheiro que estavam com eles. Para que eles dessem os cartões de débito e crédito
com as senhas, falavam que, se eles não colaborassem, eles matariam o Luís
Miguel e a esposa dele grávida. Todos deram. O próprio Luís Miguel apareceu no
banheiro e pegou todos os cartões e senhas, ainda atuando como se fosse uma vítima
e estivesse sendo coagido a ajudar.
Luís Miguel de
posse dos cartões, pega um taxi e vai até o centro de Fortaleza, tenta sacar
dinheiro, não consegue, mas confirma que as senhas estavam corretas. O tempo
todo ele mantinha contato com os comparsas na barraca pelo telefone fixo.
Com as senhas
confirmadas, os portugueses não eram mais necessários e perto das 5 da manhã, ele
dá a ordem de execução.
O primeiro a ser
assassinado foi o Vitor Manoel Martins. Ele foi retirado do banheiro sob a
desculpa de ir ao telefone atender uma ligação de Luís Miguel. Quando ele pegou
o telefone, recebeu uma pancada na nuca dada por Raimundo, ainda vivo, foi
jogado na cova aberta pelos outros 3.
O 2º foi o Antônio
Correia, que já desconfiava do envolvimento do até então, seu amigo, Luís
Miguel Melitão Guerreiro. Com a mesma justificativa, eles tiram Antônio do
banheiro, mas quem dá as pauladas nele ao pegar o telefone, seria o José
Jurandir e o Leonardo o joga na cova.
O 3º, Joaquim
Manoel Pestana, teve o mesmo fim.
Percebendo o que
estava acontecendo, os outros 3 ainda no banheiro, Joaquim Fernandes Martins,
Joaquim Silva Mendes e Manoel Joaquim Barros, começam a se desesperar e
implorar por socorro aos prantos.
Luís Miguel foi de
moto taxi até um bar na Praia de Iracema perto da Ponte dos Ingleses, ou Ponte
Metálica como alguns moradores chamam e se sentou para beber. O José Jurandir
liga avisando que 3 já estavam mortes. Um dos portugueses ainda vivos, grita ao
ponto de ele ouvir e diz: Miguel, eu não vou contar nada para o seu pai nem
para a sua mãe. Ele não diz nada, a linha fica muda e ele continua bebendo a
sua cerveja.
Irritado com os
gritos, Raimundo pega a arma, abre a porta do banheiro e começa a atirar, os
portugueses não morreram então eles começam a serem agredidos com pauladas.
O Manoel Joaquim,
além dos tiros e das pauladas, recebeu uma mata leão.
Com todos os 6
mortos, Raimundo liga para o Luís Miguel avisando que tinha terminado. Todos
estavam mortos. Ele pede que se limpem do sangue. E vai até um ponto de taxi.
Antônio Carlos de
Lima era o segundo na fila de taxis. No dia 12 de agosto as 6 da manhã, estava
na fila quando um homem abordou o carro da frente negociando uma corrida, mas o
taxista não aceitou.
O homem o
perguntou se ele pegaria 2 amigos dele perto do Motel Sol e Mar, na Praia do
Futuro e os levaria até lá, na Praia de Iracema por R$15. O Antônio aceitou,
mas pediu que ele fosse junto. Perto do Sol e Mar, o homem ofereceu aumentar o preço
para R$20, caso lá, no local, tivessem mais 1 ou 2 amigos para irem também
depois.
Em um orelhão
perto do Motel, o português dentro do carro viu 2 amigos, eles entraram e foram
em direção a Praia de Iracema. Na bifurcação da Avenida Abolição com a Avenida
Beira Mar, o homem do sotaque português pediu que o taxista entrasse na Beira
Mar que ele queria comer um peixe. Os 3 homens desceram perto da Boate Mucuripe
Ilha, ele recebeu R$10 e o homem pediu que ele pegasse outros 2 amigos que
também estariam no Sol e Mar e levasse até o mesmo lugar onde os deixou.
Ele retornou,
tinham 2 homens no local que perguntou se ele era o taxi que o Miguel mandou e
ele também os deixou perto da Boate.
Os 5 ficaram
bebendo até umas 9 da manhã, quando uma casa de cambio ali perto abriu e eles
foram trocar os dólares e escudos que tinha pegado dos 6 portugueses
assassinados. O total da conversão foi de R$10.000, ficando R$ 2 mil para cada
um.
Eles ainda tinham
a questão das bagagens para resolverem e o buraco na barraca aberto, então
combinaram que o Raimundo, o Leonardo e o José Jurandir voltariam para terminar
esse serviço.
No dia 13, a
esposa de um dos portugueses liga para o Luís Miguel preocupada com a falta de notícias
do marido e dos amigos dele. O Luís Miguel responde que ainda não tinha
encontrado com eles, mas que eles tinham ido para o hotel e sabia que eles
estavam descansando. Ela pede a ele o contato do hotel, ele desconversa. Ela
então pede que, assim que eles se encontrarem, pedir para eles ligarem para
Portugal.
O Raimundo com os
outros foram até o Vela Latina, prepararam cimento e cimentaram o buraco onde
os 6 corpos estavam.
No dia 14, o
Raimundo contrata Antônio Francisco da Costa por R$5 para ele cavar um buraco
na barraca para o que seria, de acordo com ele, uma fossa. Era na verdade onde
as bagagens e malas seriam enterradas.
O Antônio aceitou
o trabalho e foi fazer o buraco, ao chegar, viu quando o Leonardo e José
Jurandir, finalizavam a cimentação do chão da cozinha. Ele achou estranho, mas
nem poderia imaginar que ali embaixo, estavam os corpos de 6 portugueses
brutalmente assassinados.
As
famílias em Portugal ligam de novo para o Luís Miguel. Algumas estavam vendo
saques e compras sendo feitas nos cartões deles em Fortaleza e não entendiam o
porquê deles não se comunicarem com as famílias. Ele mante a história que
estava tudo bem, que eles tinham ido a Canoa Quebrada e decidiram que talvez
ficariam mais dias, mas lá não tinham sinal bom de telefone.
Nesse
interim, Luís Miguel fez mais de R$ 45 mil em compras e saques nos cartões de débito
e crédito dos portugueses. Ele foi filmado por circuitos internos de agencias
de bancos. Em uma loja, ele chegou a gastar R$ 3 mil só em 1 cordão de ouro.
No
dia 15 de agosto, o Luís Miguel compra uma kombi, não fica muito claro se a
mesma que ele pegou para ir ao aeroporto ou se uma outra, por R$3 mil e com a
esposa gravida, os sogros, o cunhado mais novos e 3 sobrinhos da esposa, ele
foge.
Chega
à data em que eles todos os portugueses deveriam voltar. E não voltaram. As
famílias então ligam para a companhia aérea e são avisados que ninguém remarcou
as passagens ou embarcou. Na agência de turismo Netur, contam que eles nunca se
hospedaram e que tudo tinha cancelado por um homem no dia da chegada deles.
Desesperados,
eles procuram a polícia judiciaria em Portugal e reportam o sumiço. A Polícia
Judiciaria entra em contato com a Polícia Federal e começa uma busca em Canoa
Quebrada, onde o Luís Miguel disse que eles estavam. Ninguém tinha visto um
grupo de 6 portugueses, nem em hotéis, nem em pousadas, nem na rua. Não havia
sinal deles em Canoa Quebrada.
A
investigação começou então a tentar refazer os passos deles a partir da chegada
ao aeroporto e foi nas câmeras do Aeroporto Pinto Martins, que eles viram os 6
sendo recepcionados por Luís Miguel e mais um homem e saindo do aeroporto em
uma kombi branca.
A
polícia federal chegou à barraca Vela Latina e conversou com a Adelina e
descobriu que a barraca tinha sido alugada para o Manoel Cavalcante, cujo socio
era o Luís Miguel Melitão Guerreiro.
Pela
idade deles, pelo fato de estarem sozinhos e terem ido para a Praia do Futuro, a
1ª hipótese aventada, era a de que eles tinham vindo ao Brasil fazer turismo
sexual e foram sequestrados. Ninguém desconfiou por um segundo sequer do Luís
Miguel.
A
polícia federal e a civil levantam as movimentações dos cartões e rastreiam que
todas as compras e saques sempre foram feitos em Fortaleza, não em Canoa
Quebrada.
A
notícia do sumiço dos turistas portugueses chega a imprensa que rapidamente começa
a investigar e acompanhar o caso, que ainda se imaginava ser um sequestro,
mesmo sem ter tido um pedido de resgaste.
A
última pessoa que se sabia ter visto, ter estado com os 6, pelo menos no
aeroporto, era o Luís Miguel Melitão Guerreiro, então era com ele que a polícia
federal e civil precisava falar. Mas ele já estava longe do Ceara.
A
família da Maria Leandro tinha parentes no Maranhão, e de acordo com o que ela
conta depois, eles estavam planejando irem lá a algum tempo. E foram. A polícia
teve uma informação de que eles poderiam ter ido para a cidade de Rondon do
Para, no Para.
De
fato, Luís Miguel tinha planejado ir para o Para, mas estava no Maranhão. Eles
foram parar na cidade de Tuntum e a polícia federal do Piauí estava à procura.
Moradores denunciam que, estava andando pela cidade um casal desconhecido, que
ninguém nunca viu. No rastro, a PF chegou em Barra da Corda.
Era
dia 22 de agosto. Em uma plantação de bananas, a polícia encontra toda a família.
Primeiro quem se entrega é Maria Leandro, seguida dos pais dela e das crianças.
O Luís Miguel só se rendeu, com as mãos pra cima, depois da polícia ameaçar
começar a atirar no bananal.
Todos
são levados para o Teresina, em Piauí e ele foi interrogado pelo delegado
Airton Franco e pelo promotor Afonso Gil Castelo, na Superintendência da Polícia
Federal no Piaui. Além de vários pertences das vítimas, ele também tinha com
ele em dinheiro, R$15 mil reais em espécie. Desde que tinham chegado na região,
Luís Miguel estava tentando comprar um sítio e até negociou a compra de um por
R$5.500, apesar da intenção dele era levar a família para Joselândia no
Maranhão, onde a Maria Leandro tinha alguns parentes também.
Ele
e Maria Leandro são presos. Luís Miguel alega que, levou os amigos para a
barraca, onde 3 homens armados entraram e anunciaram o assalto, os ameaçaram e
o obrigou a sair para caixas eletrônicos com os cartões.
Com
a notícia do desaparecimento dos portugueses e as imagens deles no aeroporto em
todos os veículos de comunicação, o dono da kombi alugada, o Luís Carlos,
através de um advogado, procura o delegado da Polícia Federal Claudio Joventino
dizendo ter a informação sobre um homem, chamado Leonardo, que alugou a sua
kombi no dia 11 de agosto.
Ao
ser ouvido, Leonardo primeiro nega envolvimento no desaparecimento dos
portugueses, mas que conhecia o Luís Miguel. Só que essa negação durou pouco.
Ele acaba contando tudo o que aconteceu: todos os portugueses estavam mortos e
enterrados no Vela Latina. Ele deu os nomes dos outros envolvidos, Raimundo,
Manoel e o José Jurandir, que também foram presos.
No
dia 24 de agosto, Leonardo vai algemado, levado pela polícia até a barraca e
apontou o piso cimentado da cozinha como o lugar onde os portugueses estavam.
Enquanto
os buracos eram abertos, havia por parte da polícia a desconfiança de que
garotas de programas poderiam também estarem mortas e enterradas, porque tinha uma
informação de que o Luís Miguel teria ligado para 3 mulheres e pedido que elas
fossem na barraca.
Depois
se ouviu uma garota de programa na delegacia e ela contou que nenhuma menina
chegou a ir lá porque ele não queria pagar o valor que elas pediram, mas que
sim, ela já tinha prestado uns serviços pra ele no Vela Latina, na danceteria,
em uns eventos que ele promoveu.
Após
horas de trabalho acompanhados tanto da imprensa brasileira quanto da
portuguesa, os corpos dos 6 portugueses são desenterrados quase amontoados um
em cima do outro e já em estado de saponificação. A saponificação é um processo
cadavérico em que a gordura do corpo vira tipo uma cera acinzentada que unta o
corpo e isso acontece quando ou o corpo está em água, ou em solo arenoso ou
quando são vários corpos enterrados muito perto um do outro.
Com
a descoberta dos corpos iniciou-se uma comoção não só no Brasil claro, mas também
em Portugal. Seis portugueses tinham sido assassinados supostamente por um
outro português amigo deles.
No
dia 25, posterior ao descobrimento dos corpos, o Raimundo foi preso na cidade
de Quiteriannópolis, quase na divisa entre ceara e o Piaui. Com ele, foi achado
uma caneta Parker, um relógio Império, pulseiras de ouro e um deposito na conta
da namorada dele, Maria Francileuda, na Caixa Econômica, no valor de R$ 1.500
realizado no dia 15 de agosto e um telefone celular e um Discman (quem foi
jovem nos anos 90 e começo dos 2000 sabe o que é um Discman). Não preciso dizer
que todos esses itens e o dinheiro, eram das vítimas.
E
é após essa prisão, que a polícia descobre que lá na barraca não só os
portugueses estavam enterrados, mas as 2 bolsas e 5 malas deles também. Quem
conta é o Raimundo que narra que essa foi a participação dele no crime:
enterrar as malas e por isso, Luís Miguel pagou a ele R$2 mil.
A
primeira entrevista que o Luís Miguel dá, é para uma radio portuguesa, no dia
26. A sua versão nessa entrevista era a de que, Antônio Correia era quase como
um pai pra ele e que ele levou sim os portugueses para a barraca e enquanto
bebiam, o grupo de seguranças apareceu com um revólver e 2 facas. Ele foi
amarrado e separado dos outros, que foram forçados a darem os cartões e senhas.
Mandaram que ele fosse fazer os saques e ele foi, com medo de matarem ele e a
esposa. Ele foi liberado e fugiu porque sabia que achariam que ele estava
envolvido.
Só
que essa versão, como o Luís Miguel sendo uma pobre vítima, não durou muito.
Ele acabou confessando ter planejado com o cunhado Manoel os assassinatos e
chamado os empregados da barraca pra participarem.
Segundo
José Jurandir e Leonardo, ambos foram chamados para roubarem e matarem os
portugueses que iriam para Fortaleza convidados pelo Luís Miguel, mas ao verem
o desespero deles, tentaram demover Luís Miguel Melitão de matar os 6. Ele não
aceitou.
A
Maria Leandro, por falta de materialidade para sustentar o pedido de prisão
temporária, foi solta. Ela deu entrevista dizendo não saber de nada. A mãe dela
estava doente, então o seu tempo era pra cuidar da mãe, não da vida do marido,
ela não sabia o que ele fazia com o dinheiro dele, o que ele fazia durante o
dia, aonde ia, com quem e nem notou algo diferente dele antes, durante ou
depois dos crimes, até porque ela estava muito ocupada com os cuidados da mãe.
O
revólver usado no crime estava na casa de Leonardo.
Eu
vou detalhar para vocês agora o que os exames necroscópicos descobriram sobre o
assassinato dos 6 portugueses.
Os
exames diziam que TODOS foram enterrados vivos. Isso mesmo, estavam todos vivos
quando eles os jogaram no buraco, tacaram areia em cima e cimentaram. Por 2 a 5
minutos, eles ainda estavam vivos enterrados. Eles morreram por asfixia
mecânica, soterrados. E como eles sabiam isso: areia. No nariz, laringe,
estomago deles todos, havia areia, o que caracteriza movimentos tanto
respiratórios quanto de deglutição após o soterramento.
Os
tendões dos pulsos estavam expostos em 1 deles, outro tinha uma fratura exposta
na perna. Os corpos estavam brutalmente assassinados.
Para
identificar, ter a certeza da identificação de todos, foram analisadas as
arcadas dentarias e foi confirmado que Antônio Correia, Joaquim Silva Mendes,
Manoel Joaquim Barros, Joaquim Fernandes Martins e Joaquim Manuel Pestana
estavam mortos. O Vitor Manuel Martins foi identificado por uma tatuagem no
ombro esquerdo que dizia “Leste de Angola 70-72 Sangue Suor e Lágrima”, uma
lembrança dele de quando esteve nas forças armadas numa missão em Angola.
Vitor
Manuel tinha hematomas na cabeça; escoriações no tórax; equimose nos ombros;
fratura no peito; fratura em 5 costelas esquerdas e 6 direitas; rompimento do
pulmão esquerdo, baço e fígado, ele foi o único que conseguiu romper os fios de
náilon dos punhos e teve os tendões do pulso esquerdo completamente expostos. A
causa da morte: asfixia mecânica, politraumatismo com rompimento de vísceras e
órgão tóraco-abdominais. Presença de areia, esôfago, traqueia e brônquios. Ele
foi enterrado. Vivo. Nas pontas do dedo dele, estavam ferimentos profundos com
cimento, o que sinaliza uma possível tentativa dele ainda vivo, de sair
enquanto o cimento ainda estava fresco.
Manuel
Joaquim tinha escoriações; equimose no ombro direito, na coxa esquerda e no
braço direito; fratura de ombros e antebraço; lesão de um tiro que raspou a
nuca. A causa da morte: asfixia mecânica. Presença de areia na traqueia e no
esôfago. Ele foi enterrado. Vivo.
Joaquim
Fernandes tinha escoriações nas pélvis, glúteos; equimose na perna esquerda;
hematoma no ombro e braço esquerdo; escoriação na perna esquerda; lesão de
musculo; fratura exposta na tíbia esquerda; tiro na boca que atingiu a veia
jugular; rompimento do pulmão direito, diafragma direita e fígado. A causa da
morte: asfixia mecânica e politraumatismo. Presença de areia no esôfago e
traqueia. Ele foi enterrado. Vivo.
Joaquim
Manuel tinha ferimentos no couro cabeludo; equimose no peito esquerdo e abdômen
a esquerda; hematoma nas costas; equimose no dorso, lombar, glúteo e pélvis;
marcas profundas de amarração nos punhos; contusão no pulmão esquerdo;
rompimento de diafragma, baço e músculos das costas. A causa da morte: asfixia
mecânica, traumatismo torácico abdominal. Presença de areia na traqueia,
brônquios e esôfago. Ele foi enterrado. Vivo.
Antônio
Correa tinha hematomas; equimoses e escoriações no ombro, nuca e tórax,
abdômen, coxa direita, joelhos e pés; punho direito com tendão exposto. A causa
da morte: asfixia mecânica, traumatismo do tórax e abdômen. Presença de areia
no esôfago e traqueia. Ele foi enterrado. Vivo. Ele sofreu mais de 27 lesões
graves. O tendão exposto foi de uma tentativa de se soltar, já dentro do
buraco.
Joaquim
Silva Mendes tinha um tiro na cabeça a curta distância; equimose profundas no
tórax, estomago e pulmão; escoriações no ombro e cabeça; sulcos nos punhos
provenientes de amarração; equimose pulmonar profunda. A causa da morte: asfixia mecânica,
traumatismo fechado de tórax e cranioencefálico. Presença de areia na traqueia
e brônquios. Ele foi enterrado. Vivo. O tiro na cabeça apesar de grave, não o
matou.
Dos
6, o que tinha mais chance de ficar vivo e sobreviver era o Manuel Joaquim, ele
demorou 5 minutos enterrado vivo ainda. Quatro poderiam sobreviver se não
tivessem sido enterrados, provavelmente. O projetil extraído do Joaquim Silva
Mendes foi comparado na perícia com as balas do revólver que estava na casa do
Leonardo e deram match.
Dez
dias após suas mortes, os corpos dos 6 portugueses foi translado para Portugal.
Os caixões foram com tampa sem abertura com uma foto de cada deles em cima.
O
primeiro advogado de Luís Miguel, o Dr. Aldemar Xavier queria tentar a tese de
insanidade mental na defesa. Alegar que ele não estava mentalmente bem quando
planejou e ordenou as mortes. Acabou sendo demitido porque Luís Miguel não admitiu
que achassem que ele fosse um doente mental.
O
presidente do Brasil a época, FHC, o Fernando Henrique Cardoso e o primeiro-ministro
de Portugal acertaram um acordo sobre um pedido de extradição do Luís Miguel
para Portugal que até chegou a ser assinado, no dia 05 de setembro de 2001. O
acordo não foi pra frente. Posso estar falando bobeira, mas puxando de memória,
me parece que no artigo 5º da Constituição tem lá em um dos seus incisos que
independente da nacionalidade quem comete crime no Brasil tem que responder no
Brasil, exceto se tiver uma norma internacional vigente ou com o pais de origem
do acusado, que seja contrária , é o princípio da territorialidade temperada,
ou algo assim, eu já tive essa aula a muito tempo e não fui no google conferir,
estou confiando somente na minha capacidade estudantil.
A
vida das famílias das vítimas acabou. Eram empresários até bem-sucedidos, com
filhos, famílias grandes e que perderam tudo. AS empresas faliram, tiveram que
vender tudo o que conquistaram durante toda a vida. Somente duas famílias
entraram com pedidos na Comissão de Proteção a Vítimas de Crimes Violentos das Nações
Unidas e conseguiram um pouco mais de 29 mil euros de indenização cada.
Por
serem acusados de Latrocínio, Associação criminosa entre outras acusações, os
julgamentos não foram para o Tribunal do Juri, seriam julgados por um juiz
especializado.
O
do Luís Miguel Melitão Guerreiro aconteceu no dia 21 de fevereiro de 2002 na 4ª
Vara Criminal de Fortaleza pela Juíza Rosilene Facundo. O advogado Felipe Melo
Abelleira foi nomeado pela justiça, em face da falta de defensor público, para
defender o Luís Miguel. Aber Fernandes era advogado representante das famílias.
Ele foi acusado de Latrocínio, Associação Criminosa e Ocultação de Cadáver. Ele
foi condenado a 150 anos de prisão.
Raimundo
foi condenado a 132 anos. Leonardo, José Jurandir e Manoel, a 120 anos cada.
Logo
depois de preso no Instituto Penal Paulo Sarasate, IPPS, uma carta dele foi
interceptada. Nessa carta ele pedia ao irmão, um passaporte falso. Ele também
tentou fugir algumas vezes do presidio, se envolveu em tráfico de drogas, lenocínio
(favorecimento de prostituição) e tbm foi acusado de organizar crimes. Isso
tudo dentro do presidio.
Em
2008, ele e mais 9 presos construíram um túnel pra fugir. Ele chegou a ser
acusado juridicamente pelo tráfico de drogas, mas acabou absolvido.
Quando
o IPPS foi desativado em 2013, ele foi transferido para o Presidio de Pacatuba.
Em
2010 ele escreveu um livro chamado Morrer na praia do futuro: a verdade de Luís
Miguel Melitão, pela Editora portuguesa Guerra e Paz. No livro, ele conta que o
Manoel, seu cunhado, foi quem deu a ideia de sequestrar os portugueses. Foi o
Manoel quem mandou Leonardo ficar escondido atras do balcão do bar com um
pedaço de madeira, enquanto ele ia chamando um português de cada vez preso
dentro do banheiro dizendo que Melitão estava no telefone e que quando um
pegava no telefone, o Leonardo batia. Ele foi omisso, mas não um assassino.
Ele
estudou Pedagogia EAD, se formou e diz que seu sonho é ser professor. Nunca
quis e não quer, voltar para Portugal. Ele também fez uma especialização em
Gerontologia (voltada para idosos) e tentou fazer Letras, mas acabou
abandonando faltando 2 materiais.
Ele
e Maria continuam casados. Ela não o deixou de visitar todo o tempo em que ele
ficou preso e o filho deles, que me parece ter o mesmo nome do pai, também
sempre foi presente no presidio visitando.
Ele
trabalhou na penitenciaria com o eletricista, como bombeiro, soldador. A sua
pena, como no Brasil há um limite de anos a ficar preso, acaba em março de
2027, mas ele progrediu para o regime semiaberto em 2019 com tornozeleira
eletrônica.
Dos
5 presos e condenados, só o Leonardo ainda está em regime fechado quando eu
estou escrevendo esse roteiro, setembro de 2024.
Fontes de Pesquisa
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