#5 Eloá Pimentel
O Caso
O apartamento 24 do Bloco 24 no Conjunto
Habitacional do Jardim Santo André, conhecido como CDHU, em um bairro da cidade
de Santo André, no ABC Paulista, tornou-se o ponto de quase um reality show ao
vivo em canais de tv aberta, jornais, rádio, internet, entre os dias 13 de
outubro ao dia 17 de outubro de 2008. Todo mundo acompanhando o que acontecia
naquele pequeno apartamento. A curiosidade era muito maior que pelos próximos
capítulos da novela A Favorita que estava no ar na época.
Naquele pequeno apartamento, Lindemberg Alves
Fernandes de 22 anos, estava mantendo em cárcere privado Eloá Cristina Pereira Pimentel,
de 15 anos, sua ex-namorada.
Mas vamos começar do começo.
Lindemberg Alves Fernandes nasceu na cidade de
Patos, no interior da Paraíba, a quase 300 km de João Pessoa. Filho de Maria
das Dores e José Luciano. Era o caçula de Maria das Dores, que tinha outras
filhas, mais velhas. Quando ele tinha 2 anos, a mãe decidiu sair de Patos e ir
com os filhos para Cuiabá, onde ela tinha família e onde moraram até os 12 anos
de Lindemberg. De Cuiabá a família se instalou em Santo André, no CDHU, em um
bloco próximo ao bloco 24, palco de tudo o que ele provocaria anos mais tarde. Depois que todos saíram da Paraíba, Lindemberg
nunca mais teve contato com o pai.
Eloá Cristina nasceu no dia 05 de maio de 1993 na
cidade de Maceió, em Alagoas, filha de Ana Cristina Pimentel e seu pai, era
conhecido como Aldo da Silva. Ana Cristina tinha um filho do seu primeiro
casamento, Ronickson. A família saiu de Maceió quando Ronickson tinha por volta
de 7 anos e Ana Cristina estava grávida de Eloá. Ana Cristina e o pai de Eloá
tiveram ainda mais um filho, Everton Douglas, que é um ano mais novo que a
irmã.
A família já morava há 1 década no apartamento
comprado através da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano,
conquistado para ser pago em 25 anos.
Ana Cristina trabalhava em uma creche e a noite
estava fazendo um curso de graduação. O marido trabalhava como segurança no
turno noturno.
Lindemberg, chamado pelos amigos de Liso, ficou
muito amigo de Everton Douglas, irmão mais novo de Eloá e através dele a
conheceu, em 2004.
Ele tinha 2 empregos, trabalhava em uma fábrica de
material de limpeza pela manhã e entregava pizza em algumas noites e fim de
semana, para ajudar no sustento da casa. Não bebia, não fumava, era descrito
como calmo, trabalhador, sociável, bom amigo.
O namoro de Lindemberg e Eloá começou em 2005. Ele
tinha 18 anos, ela, 12. começaram namorando escondido, até que uma vizinha,
comentou com Ana Cristina, mãe de Eloá, sobre o namoro dos dois. Os pais da
menina, mesmo não achando que era o momento de a filha namorar, acabaram
permitindo a relação sob certas regras e horários, preocupados com a filha
namorando escondido e sem supervisão.
Lindemberg começa a frequentar a casa da família.
Tanto o pai de Eloá quanto o irmão dela, que já era amigo dele, criam uma
relação de amizade, se dão bem. A mãe, acreditava que o namoro não tinha muito
futuro, já que a filha era muito nova e logo teria outras experiencias e
conheceria novas pessoas.
Eloá estudava na escola estadual Carlos Antunes, onde fazia o 1º ano do Ensino Médio. Além da escola, ela estava fazendo 3 cursos técnicos: de administração, comércio exterior e telemarketing, mas o sonho dela era ser médica veterinária.
Apesar de se gostarem, como pessoas próximas dizem
que realmente eles se gostaram muito, a relação começou a ficar conturbada.
Eles constantemente brigavam e terminavam. O Lindemberg era muito ciumento e a
cada crise de ciúmes, acabava o namoro, para se arrepender logo depois e agir
como se nada tivesse acontecido e Eloá sempre concordava em voltar. Ao todo,
eles terminaram e voltaram mais ou menos 11 vezes em 2 anos e 7 meses de
namoro.
Até que, como a Ana Cristina já tinha previsto,
Eloá decide que não queria mais continuar. Queria estudar, aproveitar a
juventude, sair daquela relação instável. O ciúme dele aumentou a ponto de a
proibir de sair com as amigas, de ir a festas.
Um dia, indo para um dos cursos, Lindemberg e Eloá
se esbarram, discutem e ele dá um tapa nela, derruba todo o material dela no
chão e Eloá volta chorando pra casa. Os pais proíbem então que eles continuem
juntos.
No dia 11 de setembro de 2008, Lindemberg terminou
novamente com Eloá, mas dessa vez, ela não aceitou voltar.
Um mês depois, 13 de outubro de 2008, uma segunda
feira, Ana Cristina pede pra que Eloá e Douglas, não abrissem a porta para
Lindemberg e que, se ele aparecesse, mandasse ele voltar a noite para falar com
ela e o marido.
Ana Cristina foi trabalhar e Aldo ainda estava no
seu turno de segurança, que naquele dia era de manhã, quando Eloá saiu para a
escola e Douglas ficou em casa dormindo. Lindemberg começa a ligar para o
apartamento e pede pra ir lá.
Depois de algum tempo no computador, Lindemberg tira Douglas de casa sob a justificativa de irem no Parque Municipal Pedroso, na represa, a uns 3km do condomínio.
Chegando lá, Lindemberg deixa o menino de 14 anos
esperando, achando que ele tinha ido comprar um lanche pra eles. Porém, ele não
sabia, que aquele era o começo dos planos macabros de Lindemberg.
Eloá saiu da escola 12:30 com a melhor amiga Nayara
Rodrigues da Silva, o namorado da Nayara, Iago Vilera de Oliveira e outro amigo
Victor Lopes de Campos. Os 4 foram para a casa de Eloá fazerem um trabalho de
geografia.
Por volta das 1:15 da tarde, enquanto Eloá estava
na cozinha, fazendo algo para o grupo comer, Nayara arrumava as camas no quarto
de Eloá e os meninos começavam o trabalho no computador, Lindemberg entra pela
porta destrancada, armado com um revólver calibre 32, aos gritos dizendo que
estava ali para matar Eloá e depois se matar e que tinha uma sacola cheia de balas
para a arma.
Ele achava que Eloá estaria sozinha, razão pela
qual ele tirou Douglas de casa, pra que só ela estivesse em casa, mas com ela tinham
outras 3 pessoas, o que acabou pegando Lindemberg desprevenido, mas não menos
disposto a fazer o que tinha ido fazer.
Primeiro ele dá uma coronada em Iago, outra em
Victor. Manda todo mundo sentar-se em uma das camas. Em seguida, ele bate em Eloá,
ela grita, berra, manda ele ir embora, enquanto ele insiste de que a mataria e
depois tiraria a própria vida.
Eloá então muda a abordagem e tenta acalmá-lo, diz
que volta com ele. Lindemberg diz que não quer mais.
Depois de esperar 40 min e nada de Lindemberg
voltar, Douglas decide voltar andando pra casa, um trajeto que a pé, leva mais
de 40 min. Quando finalmente chegou, tocou a campainha, bateu na porta, mas
ninguém atendeu. A porta estava trancada, ele não tinha a chave. Como já tinha
perdido o horário do treino de futebol e não tinha como entrar em casa, ele
desce até o térreo do bloco e fica esperando o pai chegar com a chave.
O pai do Victor, tinha tentado falar com o filho
pelo celular a tarde toda e preocupado com a falta de notícia, vai até o
apartamento. Quando ele bate na porta, Lindemberg avisa que estava lá dentro
com os 4, armado e ameaça atirar. O homem resolve pedir ajuda a uma viatura da
Força Tática do 41º Batalhão.
Os dois juntos, sobem. Quando Aldo coloca a chave
na porta e começa a girar, Lindemberg grita de dentro do apartamento que gostava
do ex-sogro, mas que se ele virasse a maçaneta, ia atirar para matar.
Enquanto Douglas e o pai desciam as escadas, a polícia
subia.
Um dos PM, o 3º sargento Atos Valeriano, tenta
conversar com Lindemberg e entender o que estava acontecendo. Com raiva,
Lindemberg atira na direção dos policiais militares. Preocupados, eles acionam
reforço e a área do bloco 24 é cercada. Já era noite do dia 13 de outubro.
Começava um dos sequestros mais longos do Brasil e
sem sombra de dúvidas, o mais televisionado.
O primeiro a ser libertado
do sequestro, é Victor. Depois de passar mal e de chegar a desmaiar, a pedido
de Nayara e Eloá, Lindemberg aceita soltar o menino. Ele manda que Victor saia
rápido e sem olhar pra trás.
Do lado de fora do CDHU, já
se via movimentação da imprensa e diversas viaturas policiais.
Logo que Victor sai,
Lindemberg atira do basculante do banheiro na direção da polícia.
Dentro do apartamento, ele
pega o celular de Eloá e vê uma troca de mensagens entre ela e um outro menino
da escola chamado Felipe. Com raiva, ele atira para fora do apartamento mais
uma vez.
Quase no fim da mesma
noite, Lindemberg solta Iago.
O GATE é um grupo da Polícia
Militar de São Paulo. Ele atua em situações de alto risco, reféns, desarmamento
de bomba, terrorismo, incursão em local de alto risco.
A noite do dia 13, o GATE
entrou em operação no local as 11 da noite, liderados pelo Capitão Adriano Giovanini,
que já estava há 13 anos no GATE. Eles se instalam em um colégio próximo.
Lindemberg em tom de ordem,
pede a mãe de Eloá lá. Até aquele momento, ela estava na faculdade, sem ter
noção do que acontecia. A polícia vai até a faculdade buscá-la. Trinta minutos
depois ela chega e conversa com Lindemberg ao celular. Ele repete as mesmas
ameaças de que ia matar Eloá e se matar, diz que avisou que ia fazer uma
besteira e só permite que ela troque 2 frases com Nayara, não com a filha.
Ana Cristina se desespera
com a possibilidade de nunca mais ver a filha viva.
Como a casa estava com a
despensa cheia, porque a compra do mês tinha acabado de ser feita, o medo era
de que aquilo tudo poderia demorar.
Lindemberg amarra Nayara na
cama de casal dos pais de Eloá e a amarra na sala.
Era a 1ª noite do
sequestro.
No dia seguinte, ele troca
as duas de lugar e volta a bater em Eloá enquanto pede para ela o beijar e cada
vez que ela nega, ele bate mais forte.
Duas irmãs dele vão pra
perto do apartamento, Francismar e Lindomar, acompanhadas de Eduardo Lopes, um
advogado, para tentar negociar a rendição do irmão.
A 1ª aparição dele acontece
07:30 da manhã encapuzado. Eloá aparece de jaqueta preta na frente de
Lindemberg. Depois ele aparece com a Nayara, vestindo uma blusa rosa claro.
Já eram mais de 70 policiais
na operação, equipes de tv com entradas ao vivo, equipe de rádio, vizinhos,
curiosos. Tudo o que acontecia ou se achava que acontecia, era noticiado em
tempo real.
O contato entre a equipe de
negociação e o Lindemberg era feito por celular. E por ele, o Lindemberg falou
com os pais de Nayara, prometendo a eles que a soltaria.
O clima dentro do
apartamento não era nada bom. Lindemberg culpava Nayara, a quem as pessoas
chamavam de Barbie, pelo fim do namoro com Eloá, ele a culpava por encorajar a
amiga a não voltar com ele.
Do lado de fora, a intenção
do GATE era vencer pelo cansaço. Deixa-lo cansado até que ele se entregasse.
A família da Eloá e a do
Lindemberg ficavam em apartamentos de vizinhos, com vista para as janelas do
apartamento 24.
Em entrevista, uma das
irmãs dele chegou a dizer em entrevista:
“Ele vai ser preso e ela vai ficar por aí desfilando.”
Nesse mesmo dia, 14 de outubro, ele atira no computador e dá um outro tiro pelo basculante do banheiro.
É quando o GATE manda
cortar a luz do apartamento. Lindemberg coloca Eloá no celular para falar com
Ana Cristina e pedir que religassem a luz, Aldo também fala com a filha e diz
que a polícia não podia religar. No fim, depois de muita conversa, o GATE
religa a luz no meio da noite. Em seguida, Nayara é liberta as 11 da noite e
levada imediatamente para o Pronto Socorro da Vila Luzita.
Toda a imprensa começa a
divulgar que a libertação da Nayara, derivava do corte de luz, o que deixou
Lindemberg, que, como a cobertura era ao vivo, acompanhava pela TV,
entrevistas, comentaristas, vídeos do lado de fora.
Ele afirmava que a saída de
Nayara se devia a relação dela com o pai. Nayara morava com a mãe, Andreia e o
padrasto. O pai não era muito presente e ele, muito generoso, queria dar aos
dois a oportunidade que ele mesmo não teve com o pai, que era deles conviverem,
poderem se acertar. Ele estava dando ao pai da Nayara, uma chance de recuperar
a relação com a filha.
Naquele ponto do sequestro,
já tinha sido criado um circo em torno do bloco 24. Canais de TV alugaram
apartamentos para ficarem com equipes 24 horas gravando, narrando, comentando,
mostrando a movimentação e fazendo entradas ao vivo durante outros programas
das grades das emissoras. Vizinhos se amontoavam no térreo do bloco com os
olhos vidrados para cima, esperando o momento que alguém apareceria na janela,
enquanto apontavam, comentavam baixinho, alguns passavam rindo, fazendo joinha
para as câmeras, dando entrevistas dizendo conhecerem ou a Eloá ou o
Lindemberg.
As câmeras brigam por uma
palavra vinda de autoridade seja policial seja da segurança pública de são
Paulo, davam zoom em qualquer pequena movimentação que a polícia tentava fazer,
se algo novo parecia que aconteceria, entravam ao vivo mostrando a localização
da polícia e o que parecia que eles fariam. Era um prato cheio para Lindemberg
que sem qualquer esforço, recebia sentado no sofá, minuto a minuto do que
acontecia, do que se falava e do que a polícia estaria planejando.
O cárcere privado de Eloá
entrou no 3º dia. Talvez o dia que acabou ficando o mais marcado na memoria de
quem viveu aquele 2008.
O dia inicia com Lindemberg
pedindo que fosse colocado crédito nos celulares do apartamento.
Eloá depois joga uma corda
feita de lençóis pela janela da área de serviço e as câmeras mostram Douglas,
colocando comida em uma sacola, amarrando na ponta do lençol e Eloá puxando a
corda de volta.
Longe, Ana Cristina vê a
filha e grita por ela. É quando ela faz aquele gesto muito mostrado, abaixando
as mãos em direção a mãe, pedindo calma enquanto chora.
Concomitantemente, Nayara
presta depoimento na delegacia por 6 horas. Conta que ele viu o celular de Eloá
com um menino, que atirou pela janela de nervoso, que no dia anterior, dia 14,
ele bateu na Ela e tentou forçá-la a beijá-lo e que, quando ele a mandou sair
rápido senão levaria um tiro pelas costas.
Se divulgava muito sobre o
motivo de Lindemberg ter soltado Nayara e irritado com os comentários sobre ter
sido uma troca pela luz religada, ele liga para a mãe de Nayara pedindo que ela
dissesse a imprensa que ele tinha a deixa ir não porque a luz foi religada, mas
pra dar a chance de a Nayara conviver com o pai.
As 2 da tarde, no dia 15 de
outubro, entraram no programa A tarde é Sua, da Sonia Abrão, uma gravação feita
pelo repórter Luiz Guerra ao telefone com o Lindemberg. Na mesma conversa
telefônica, ele fala com Eloá que diz estar fraca e com fome. Lindemberg chega
a citar o caso do sequestro do ônibus 174 ocorrido em junho de 2000.
A reportagem foi ao ar e
assim que acabou, o próprio Lindemberg entrou ao vivo, mais ou menos as 15:30
da tarde. Ele conta que se emocionou com a história da Nayara porque ele não
teve um pai presente, conta que Eloá tinha tentado tirar a arma dele e acabou
disparando. Estava preocupado que pensassem que ele era um bandido, um
criminoso, o que ele afirmava não ser.
Enquanto a ligação cai e
volta várias vezes, Sonia faz o papel de negociadora. Fala com ele, em tom
quase de pena, pede atitudes, faz questionamentos. Tenta, sozinha, convencê-lo,
ao vivo, a acabar com o sequestro.
Com a exclusiva ao vivo
dada a Sonia Abrão, outros canais e veículos de comunicação, começam a também,
entrar em contato diretamente com Lindemberg. A noite ele falou o Jornal
Nacional transmitiu uma entrevista que ele deu a repórter Zelda Mello, ele
também falou com o jornal Folha Online, com a Record, em entrevista a Reinaldo Gottino
e pra eles, a história de Lindemberg é que, não fez o que fez porque a Eloá o
traiu ou porque ela não tinha caráter, mas porque quando ele precisou dela, ela
virou as costas. Quando ela terminava com ele e depois chorava, segundo ele,
chegando até a pôr uma faca no pescoço pedindo para que ele voltasse com ela,
ele sempre voltava, mas quando ele terminou e quis voltar, ela não quis.
A discussão, que até hoje
perdura, sobre até que ponto aquela intromissão da imprensa de forma tão
direta, era ou não benéfica. Até onde, a tal liberdade de informar ia? Matar a
curiosidade de quem assistia ou ter uma exclusiva do assunto do momento era
mais importante que preservar a vida da Eloá ou de não dar a Lindemberg a
oportunidade de falar o que queria e impor a sua narrativa?
No mesmo programa da Sonia Abrão,
o advogado criminalista e também comentarista do programa Ademar Gomes, faz um
comentário que na época e hoje, ainda soa péssimo.
O pai de Lindemberg, o José
Luciano, chamado de Zé Viola, morava na cidade de Teixeira na Paraíba, era um
agricultor, analfabeto com 64 anos na época, pai de outros 6 filhos. Não via o filho há mais uns 20 anos. Com a
repercussão de todo o caso, uma madrinha dele ligou dizendo que o menino que
estava sequestrando a ex-namorada, era filho dele. Quando viu na tv uma tia de
Lindemberg e a avó materna que ele teve certeza de que era mesmo o filho dele,
além, de um dos seus 6 filhos ser bastante parecido.
No começo do 3º dia,
policiais vão até a casa de Nayara pedir que ela voltasse ao CDHU. Estava
somente ela e avó, que liga pra mãe avisando que a polícia estava lá. A
motivação da ida, segundo os policiais, era a de Nayara conversar por telefone
com Lindemberg e ajudar nas negociações da libertação de Eloá. Tanto Nayara
quanto a mãe, vão para a escola onde o GATE estava, mas Nayara entra sozinha no
posto de comando.
Quando Nayara entrou,
estava, o capitão Giovannini no telefone e Douglas, irmão de Eloá também lá
dentro. O capitão explica que o Lindemberg exigiu que os dois, Nayara e
Douglas, fosse até o apartamento. O GATE orienta os dois que, fossem até o 1º
piso do bloco, para que Lindemberg os visse. A Nayara subiria até o 2º para
levar um celular e voltaria. Da janela do banheiro, Lindemberg observa a
movimentação e vê quando Nayara e Douglas vão em direção ao prédio.
Nayara e Douglas vão até o
1º andar, onde Douglas fica. A Nayara para na escada que dá acesso ao apartamento
24, Lindemberg grita que não consegue enxergar onde ele está e ela sobe um
pouco mais. Ele vai mandando que ela se aproxime perto o suficiente para que Eloá
estique o braço e pegue o celular.
Um policial observa tudo,
pela fresta da porta do apartamento ao lado.
Lindemberg abre a porta
segurando Eloá na frente do corpo, apontando pra ela uma arma. Ele ordena que
Nayara segure a mão da Eloá e entre. Ela segurou e entrou.
Dentro do apartamento, o
Lindemberg começa quase que um interrogatório, querendo saber o que Nayara
falou no depoimento na delegacia e porque demorou tanto. Dez minutos depois, o
GATE liga e ele diz que ele e Nayara só estavam conversando. Depois, Andreia, a
mãe da Nayara também liga e fala com ele.
Lindemberg manda que
Douglas sair do prédio porque já iam sair todos. Não iriam sair. O tormento,
ainda estava longe de acabar.
A tarde do dia 16, a Nayara joga uma mochila rosa
pela janela. Douglas vai até o prédio, na porta do apartamento e pega os 2
cachorrinhos da família. A mochila ele entrega ao pai.
Com toda a situação se
prolongando e parecendo não ter fim, o pai da Eloá passa mal e sai do CDHU
carregando de maca, de ambulância, com dezenas de câmeras gravando tudo.
Lindemberg pendura uma
camisa do time de futebol do São Paulo na janela e como gesto, o
superintendente do time e também vereador, Marco Aurélio Cunha, aparece no
local dizendo ter ido ajudar. A polícia rejeita a ajuda.
A Nayara chama Lindemberg
no banheiro para conversarem. Ela o questiona o proposito dele com aquilo tudo,
em trazer ela de volta. Ele responde que, sentiu saudades dela e que Eloá ficou
muito alterada quando ela saiu.
Um pouco depois, Eloá acaba
tendo uma crise, um rompo de raiva contra Lindemberg e grita que não aguenta
mais, que era melhor ele a matar logo, quebra coisas da estante da sala. Ele e
Nayara tentam pedir que ela se acalme em vão. Ele então pega Nayara pelo
pescoço e aponta a arma na cabeça dela, ameaçando atirar. Eloá só se acalma
quando Lindemberg dá dois tapas no rosto da sua melhor amiga.
Entra mais uma noite. Já se
passava de 80 horas do início do sequestro. Representantes do Conselho Tutelar e
de organizações de Direitos Humanos vão até o condomínio entender com a polícia
quem permitiu a volta de Nayara sendo ela, menor de idade.
No dia seguinte, 17 de
outubro de 2008, à tarde, Lindemberg efetua novo disparo.
Ele exigia dos policiais um
juiz que não permitisse que ele fosse preso, o que era impossível. Depois de
muita negociação, ele aceita falar com um promotor com o advogado que as irmãs
haviam conseguido. Enquanto falava com o promotor de justiça e assessor de
Direitos Humanos do MP de São Paulo, Augusto Eduardo de Souza Rossini e o
advogado Eduardo Lopes, ele também atendia ligações de emissoras de TV, pedia
que filmassem o documento que o promotor faria.
O documento era uma
garantia de que a integridade física dele seria preservada. Ele pede que o
advogado leve até ele pessoalmente, mas depois do ocorrido com a Nayara, a polícia
não permite. O documento é colocado em um saco e puxado pela corda de lençóis.
Nayara lê o documento em
voz alta para o Lindemberg.
Fica um clima de apreensão
para saber o que ele faria em seguida.
Ele tinha com ele duas
armas, a que Taurus que ele levou e uma carabina do pai de Eloá que ele
encontrou escondida.
Eloá se senta no sofá com
Nayara. Ele no sofá da outra parede.
Ao telefone, Lindemberg
fala com Gianini que tem 1 anjinho e 1 diabinho falando com ele.
Nayara se deita no colchão
na frente do sofá, Eloá permanece sentada. Lindemberg levanta e coloca a mesa
na porta da sala. As duas se deitam no sofá, uma a direita, outra a esquerda.
Anoitece e sem que ninguém
esperasse, exatamente as 18:05, ouve-se uma explosão e fumaça na porta do
apartamento. Pessoas dizem ter ouvido os gritos de Eloá, Nayara coloca um
edredom no rosto, ouve 2 barulhos e sente um calor no rosto.
Os policiais gritam
ordenando Lindemberg se render, entregar as armas e atiram nele com bala de
borracha. Pelo lado de fora, policiais sobem de escada pela janela da área de
serviço.
Um policial é visto subindo
as escadas com uma maca, mas volta quando um outro, desce com Eloá em um
lençol. No térreo, ela é posta na maca e acompanhada por um médico direto para
uma Unidade de Suporte Avançado. Ao vivo, a imagem do médico com o jaleco com
uma enorme mancha de sangue, é repetida em looping.
Nayara chega ao Hospital
Municipal de Santo André as 6:20 da noite e atrás, chega Eloá sob ventilação
artificial. Ambas seguem para o Centro Cirúrgico.
Eduardo Félix, comandante
da tropa de choque dá entrevista dizendo que a equipe ouviu um tiro, entrou no
apartamento, acertou uma bala de borracha no Lindemberg, mas Eloá já tinha sido
atingida por tiros, um na cabeça e outro na virilha, talvez dados antes da
invasão. Nayara tinha se machucado ou na explosão ou poderia ter sido pisada.
Com o fim confuso do
sequestro, as equipes de TV que estavam acampadas no CDHU desde o dia 13, são
coagidas por criminosos da área e saírem de lá o mais rápido possível.
Naquela noite, um assessor
de imprensa do governador José Serra e o próprio governador, chegaram a
confirmar que Eloá estava morta.
As 7:40 da noite, o SPTV
deu a informação repassada pela assessoria de imprensa do governo.
Prontamente, a assessoria
emitiu uma nota pedindo desculpas e dizendo que Eloá estava viva, mas em estado
grave passando por cirurgia.
Em um plantão da Globo,
Fatima Bernardes apareceu para desmentir a morte de Eloá e informar que ela
estava ainda em estado grave, mas viva.
Foram 3 horas de cirurgia
liderada pela neurocirurgia Grace Mary Lídia e pelo também neurocirurgião Marco
Tullio Setti. Eloá tinha sido atingida
na cabeça, com um tiro na testa e na virilha. A bala na cabeça não poderia ser
retirada, ela havia perdido massa encefálica, mas não teve paradas cardíacas.
Nayara também tinha sido atingida por um tiro no rosto pelo lado direito do
nariz que a fez perder um dente canino esquerdo e danificou estruturas dos
lábios e nariz.
Eloá foi colocada em coma
induzido por 8 horas com uma sonda drenando o cérebro e sua escala Glasgow, que
mede o nível de consciência, era baixíssima. Após a cirurgia, os médicos diziam
que, se ela não morresse, ficaria em estado vegetativo.
No fim do sábado, dia 18 de
outubro de 2008, em coletiva, os médicos informam que a condição de Eloá era
irreversível. O óbito foi dado as 11:30 da noite por morte cerebral.
A vida de Eloá tinha
acabado aos 15 anos, uma criança ainda, virgem, com uma vida inteira pela frente,
depois de mais de 100 horas presa por um ex-namorado inconformado.
Se conversa com Ana
Cristina sobre a possível doação dos órgãos de Eloá e no dia seguinte, ela
acaba concordando em doar os órgãos com exceção dos ossos e tendões.
O Lindemberg primeiro foi
para o 6º Distrito Policial em Santo André. Ele só perguntava sobre onde a Eloá
estava. Mais a noite, foi para a sede do GARRA. Ele dizia, nesse primeiro
momento que atirou no sofá, um tiro na Eloá e não sabia se tinha atirado em
Nayara e que fez o que fez porque queria ficar o máximo de tempo possível com a
Eloá. Ele passou a madrugada no Centro de Detenção Provisória e depois foi para
o P2 em Tremembé.
Com a decisão de doar os
órgãos de Eloá, o corpo dela vai para o IML, onde a bala alojada na cabeça é
retirada.
Na madrugada de 2ª, 20 de
outubro, o coração é levado para o Hospital Beneficência Portuguesa, os pulmões
para o Instituto do Coração, pâncreas e rins para o Instituto Dante Pazzanese.
Cinco pessoas receberam os
órgãos. O coração foi para Maria Augusta dos Anjos de 39 anos. Os pulmões para
uma moça de 18 anos. O fígado para uma menina de 12. O rim esquerdo e o
pâncreas para um rapaz de 25 anos. O rim direito, para um menino de 15 anos.
Maria Augusta tinha um
problema congênito no coração, nasceu sem o ventrículo direito.
A menina que recebeu o
fígado, de 12 anos, estava na fila a 3 anos e tinha hepatite autoimune.
O rapaz que recebeu um rim
e o pâncreas tinha diabetes crônica.
A jovem que recebeu os
pulmões sofria de fibrose cística desde os 3 anos de idade.
Eloá foi velada no dia 21
no Cemitério Jardim Santo André em um caixão branco. O tumulo foi doado pelo
Cemitério. Quinhentos policiais militares trabalharam no velório, a guarda
municipal precisou isolar o local para que a família pudesse velar Eloá sozinha
na capela. Trinta e seis mil pessoas, segundo dados da polícia, passaram pelo
velório. Com exceção do pai, toda a família de Eloá estava no enterro.
Ana Cristina teve
acompanhamento médico durante todo o velório e enterro.
Foram abertas 3
investigações: a da Polícia Civil, a do GATE e uma do Conselho Tutelar. O
Juizado da Infância e Juventude queria saber quem deixou Nayara voltar ao
apartamento.
Um amigo da família de
Lindemberg contratou a advogada Ana Lúcia Assad para cuidar da defesa dele. Ele
alegava que premeditou atirar, mas só o fez, depois que a polícia explodiu a
porta. Também escreveu um bilhete pedindo para ser protegido dentro da prisão.
O inquérito policial, presidido
pelo delegado Sérgio Ludtza, da 6ª DP de Santo André, começou a sua
investigação.
A Nayara ficou alguns dias
internada para retirar o projetil da arcada dentária e colocar um aparelho
ortodôntico. Ela teve alta no dia 22 de outubro. E aí aconteceram algumas
coisas. A primeira foi uma polemica que surgiu quando, ainda internada na
unidade semi-intensiva, questionada sobre qual seria o sonho dela, ela
respondeu que queria muito conhecer o Alexandre Pato, um jogador de futebol que
havia jogado no São Paulo e na época já estava jogando no Milan na Itália. Ele
enviou uma camisa autografada para ela.
A outra situação foi uma
entrevista a vários repórteres na saída do hospital, onde a mãe e o padrasto
dela, disse que pediria R$ 2 milhões a R$ 2,5 milhões de indenização ao Estado
de São Paulo, sob orientação do advogado da família, Ângelo Carbone.
Ela prestou o seu novo
depoimento, o 2º, lembrem que o 1º ela deu quando foi solta pelo Lindemberg,
ainda estando internada no Centro Hospitalar de Santo André. E ela afirmava
categoricamente, como continuou fazendo, que o Lindemberg não atirou antes da
explosão na porta provocada pelo GATE. Ela ouviu a explosão, se jogou no
colchão da sala e aí ela viu Lindemberg atirar pra cima e depois ouviu mais 3
tiros enquanto a polícia forçava a porta.
E esse ponto específico,
era importante, porque o GATE alegava que só invadiu o apartamento, porque
ouviu tiros.
Havia vizinhos que diziam
ter ouvido os tiros, outros que diziam que não ouviram nada.
Os primeiros exames
periciais no loca, apontavam que não houve tiros antes da invasão. Verificaram
imagens de TV, coletaram capsulas que ficaram no apartamento, vestígios de
raspão de bala em paredes.
A Rede Globo chegou a
enviar a polícia uma versão estendida da gravação de minutos antes da explosão
onde só se ouvem tiros, após o barulho da porta sendo explodida.
Também se descobriu que, a
arma que Lindemberg entrou no apartamento, uma Taurus calibre 32 de numeração
214202, pertencia a um homem chamado Joao Geraldo de Andrade, um motorista de
Recife que dizia ter a sua arma roubada há 20 anos em Olinda. De alguma forma,
ela tinha ido parar em Santo André. Inclusive, o revolver tinha 4 capsulas
deflagradas e 1 picotada, o que significa que ele tentou atirar, mas o tiro
falhou.
O inquérito polícia foi
concluído no dia 25 de outubro. Foi quando Lindemberg soube da morte de Eloá,
quando ele foi denunciado por homicídio duplamente qualificado (motivo torpe,
recurso que impossibilitou a defesa da vítima), tentativa de homicídio
duplamente qualificado, tentativa de homicídio qualificado contra o Sargento
Atos, cárcere privado qualificado, disparo de arma de fogo.
O pai de Lindemberg
procurado depois da prisão do filho disse:
“Não acredito que o sujeito
goste de uma coisa e dê fim aquilo. Então, eu gosto de uma pessoa e vou matar
aquela pessoa? Acho que foi um momento de loucura.”
Durante a investigação e a
cobertura da imprensa, outro pai ficou nos holofotes, o pai da Eloá.
Naquela filmagem dele
saindo do condomínio na maca, ele acabou sendo reconhecido, não como Aldo, mas
como sendo Everaldo Pereira dos Santos, um ex PM de Alagoas, acusado de matar
Ricardo José Lessa, delegado de polícia e irmão do ex-governador do Estado,
Ronaldo Lessa e também de ser membro de um grupo de extermínio conhecido como
Gangue Fardada.
O agora identificado,
Everaldo, falou que era um cabo, que fazia a segurança de Ricardo Lessa, mas
que a morte de Ricardo foi planejada por um grupo formado pela secretaria de
segurança do Estado, fazendeiros, pelo Coronel Manoel Cavalcante, que foi o
responsável por contratar policiais de Pernambuco para matá-lo, já que ele e
outros também, descobriram o plano e que ele fugiu para não morrer.
Ricardo Lessa e seu
motorista, Antônio Carlota da Silva foram assassinados em 09 de outubro de
1991, no bairro do Bebedouro em Maceió, dentro do carro onde estavam, que foi
metralhado por 5 homens.
O Coronel, que estava preso
desde 1997 no Presidio Federal de Catanduvas, segundo Everaldo, era o líder da
Gangue Fardada.
O delegado Sérgio Luditza
também indiciou Everaldo por falsidade ideológica, porte ilegal de armas e uso
de documentos falsos. E aí acontece outra reviravolta. Também havia uma
acusação contra ele, sobre a morte da sua primeira mulher, Marta Vieira.
A irmã de Marta, Sonia
Regina, acusava Everaldo de ter matado Marta para ficar com a Ana Cristina, mãe
de Eloá, olha que história.... De acordo com Sonia, Everaldo começou um caso
com Ana Cristina enquanto ainda era casado. A Marta trabalhava em um canavial
em Alagoas e parece que um dia, ele foi levar o almoço dela. O corpo de Marta
só foi encontrado no dia seguinte, esquartejado e com a marmita do lado.
Uma equipe da polícia de Maceió
foi para São Paulo tentar prender Everaldo que estava foragido da polícia em
Alagoas, mas ele já tinha fugido.
Através do advogado,
Everaldo propunha colaborar com a polícia em troca de um relaxamento da prisão.
Mesmo foragido e apesar de
como Aldo, ele trabalhar como segurança, a polícia em Alagoas afirmava que, ele
continuava recebendo uma pensão da PM.
Com tudo isso acontecendo,
o debate sobre os motivos do GATE não ter atirado em Lindemberg nas vezes em
que ele apareceu sozinho na janela continuava. Eram comentaristas de programas,
especialistas convidados, eram aquelas senhoras que gostam de ficar com a sua
cadeira na porta de casa conversando com a vizinha enquanto olham o movimento
da rua, todos tinham uma opinião, uma crítica, uma certeza do que deveria ou
não ter sido feito.
O que o comando do GATE
justificava era que, Lindemberg era um rapaz, sem antecedentes e que estava
psicologicamente abalado, o que não consideravam o suficiente para tentar
atirar nele.
O juiz José Carlos de
França Carvalho Neto aceitou a denúncia do promotor Antônio Nobre Folgado contra
Lindemberg Alves no fim de outubro. Ele foi denunciado por homicídio duplamente
qualificado, 2 tentativas de homicídio qualificado (cometido para a execução de
outro crime), 5 cárceres privados, disparo de arma de fogo, porte ilegal de
armas, receptação de arma e munição.
Com a denuncia aceita, foi
marcada uma reprodução simulada no local, para o dia 19 de novembro em 3 etapas,
com uma equipe de perícia com 2 desenhistas, 4 peritos, 1 legista e 1
fotografo.
Douglas, Iago e Victor
participaram da reprodução. Nayara também participou em 2 etapas: a 1ª em que o
Lindemberg entra até a saída dela e na 2ª etapa quando ela volta.
Ana Cristina, foi afastada
do trabalho pelo INSS com uma pensão de R$ 265, um pouco mais que metade de um salário-mínimo,
que era de R$ 415 em 2008. O filho dela mais velho, Ronickson que morava aqui
no Rio, era militar, ganhava um salário-mínimo e ajudava a mãe financeiramente
depois de tudo. Ela pediu ao governo do Estado, para trocar de lugar onde ela
morava e o governo trocou o apartamento por uma casa de 5 cômodos no mesmo
bairro.
Depois daquele dia 13 de
outubro quando saiu pra trabalhar, Ana Cristina nunca mais voltou ao
apartamento. Alguns meses depois ele foi repassado para um casal com um filho
de 5 anos, que tinha perdido um barraco onde moravam.
Após o primeiro
interrogatório quando preso, Lindemberg não falou mais. Na audiência de
instrução, em janeiro de 2009, permaneceu em silêncio, ouvindo as 14
testemunhas arroladas: 9 de defesa, 5 de acusação. O Sargento Atos Valeriano,
Nayara, Douglas, Victor, Iago.
Em Tremembé, onde ficou no
mesmo pavilhão dos Cravinhos, recebia a visita das 2 irmãs.
Ana Assad, a advogada de
defesa, tentou diversas vezes impetrar um habeas corpus, todos negados.
Everaldo foi julgado e
condenado à revelia em 07 de novembro de 2009. O juiz foi Geraldo Amorim, o
promotor José Antônio Malta Marques e Everaldo foi defendido pelo advogado
Gilvan de Lisboa. Ele recebeu uma pena de 33 anos, 3 meses e 23 dias em regime
fechado pela morte não só de Ricardo Lessa, mas como a de Antenor também. Além
da condenação privativa de liberdade, ele também foi condenado a indenizar as
famílias das vítimas em R$ 799 mil. Ele só foi preso em dezembro de 2009 num sítio
de parentes em Maceió depois de uma denúncia anônima. A defesa recorreu da
sentença, houve um novo julgamento dessa apelação em 26 de janeiro de 2011, mas
a apelação foi negada.
O Jornal Nacional foi indicado
ao Grammy em 2009 pela cobertura do caso.
Aquela investigação aberta
pelo GATE para tratar de como a equipe lidou com todo o sequestro, acabou sendo
arquivada em julho de 2010, sem dizer nada.
A família da Eloá processou
a PM e o Estado de São Paulo por danos morais e materiais em setembro de 2011pedindo
R$ 800 mil. O pedido foi negado em 2016.
O julgamento de fato
começou no dia 13 de fevereiro de 2012 no Fórum de Santo André.
Presidido pela juíza Milena
Dias, com a acusação formada pela promotora Daniela Hashimoto, os assistentes
de acusação José Beraldo e Ademar Gomes, o mesmo que já ouvimos aqui falando no
programa A tarde é Sua e que também era o advogado no processo de pedido de
indenização. No total eram em torno diversos advogados como assistente de
acusação, algumas fontes chegam a dizer que eram 12 advogados em nome de Ana
Cristina, 2 representando a Nayara e 1 que estaria em nome do pai da Eloá. E na
defesa, além de Ana Assad, estariam mais 4 advogados.
O Conselho de Sentença
formou-se por 6 homens e 1 mulher.
O júri durou 4 dias.
A princípio, a defesa arrolou
umas 14 testemunhas, entre elas, Sonia Abrão, Roberto Cabrini, o perito Ricardo
Molina, que fez uma analise da gravação dos tiros para a Rede Globo, os peritos
Alves Nelson Gonçalves e Dairse Aparecida Pereira Lopes do Instituto de Criminalística
que trabalhou no caso, o Reinaldo Gottino, o Márcio Campos, jornalista que
inclusive escreveu um livro sobre o caso que eu li para escrever sobre esse
caso, o também jornalista Rodrigo Hidalgo, assim como policiais como o delegado
do caso, o capitão do GATE e um tenente da PM.
No primeiro dia, foram
ouvidos o Victor, o Iago, o sargento Atos e a Nayara. Foi até mesmo um dia
muito tumultuado. A defesa pediu pra trocar algumas testemunhas pela mãe e
irmão mais novo da Eloá.
O primeiro depoimento foi
de Nayara. Ela narrou como conheceu Eloá na escola, em 2008 mesmo, quando ela
já namorava o Lindemberg. Contou que Eloá nunca falou sobre ele ser agressivo,
que eles terminavam e voltavam muitas vezes, que depois que Eloá tinha dito que
não voltaria mais ele mudou o comportamento, chegando a agredir Eloá em um
ponto de ônibus e que ele costumava buscá-la na escola de moto e que no dia,
mais cedo, viu Lindemberg com Douglas no terminal de ônibus, em uma pastelaria.
Também contou que decidiram
fazer o trabalho na saída da escola e que Eloá sugeriu fazerem na casa dela.
Contou a forma que ele entrou na casa, amarrou as duas. Também disse novamente,
que só ouviu tiros após o barulho de explosão na porta.
Tanto Iago quanto Victor
contaram basicamente a mesma história sobre terem ido juntos andando até o
terminal de ônibus, visto Douglas na pastelaria perto de uma moto, mas não
lembravam de ter visto ele com Lindemberg e sobre como ele depois invadiu o
apartamento apontando a arma.
O 2º dia foi de depoimentos
da família de Eloá. Primeiro o irmão mais velho, depois o irmão mais novo. A
Ana Cristina chegou a ir para o plenário se apresentar para falar, mas a defesa
no último momento, decidiu dispensá-la. Os jornalistas Rodrigo Hidalgo e Márcio
Campos depuseram e depois o delegado do caso e o capitão Giovanini.
O 3º dia era o mais
aguardado: dia em que o Lindemberg falaria depois de tanto tempo em silêncio.
A versão dele era que, Eloá
estaria flertando com um menino da escola e teria ficado com esse menino umas 2
vezes. Declarava que não premeditou nada, que foi até o apartamento sem saber
que tinham outras pessoas e que Victor confirmou que tinha dados uns beijos na Eloá.
Pediu desculpas a Ana Cristina.
Sobre a arma, disse que tinha
comprado 20 dias antes depois de começar a receber ameaças por telefone e que
só levou ela para o apartamento para assustar e depois pra poder fazer a Eloá
parar de fazer barraco, quando ele perguntou sobre o Victor e deu um tiro
porque ela começou a gritar que não tinha ficado. E os outros tiros foram só
para manter a polícia longe.
Quando a polícia chegou ele
ficou desesperado sem saber o que fazer. Ele atirou na Eloá, não para matar,
mas porque achou que ela ia pegar a arma dele.
A defesa alegava que, não
houve cárcere privado porque o Lindemberg pediu para os meninos saírem, eles
não quiseram sair pra não deixar a Eloá, chegou a se referir ao cárcere como
uma estadia e que eles tinham reatado 5 dias antes, mas estavam mantendo em
segredo.
Lindemberg relatou que eles
ouviam música, conversavam, Eloá fez um pavê e que pra eles, as vezes tudo
parecia uma brincadeira.
A linha defensiva era eliminar
as acusações de cárcere privado e tentar diminuir a culpa do Lindemberg ao
culpabilizar a atuação da imprensa e da polícia no caso, quase como se, as
ações dele, tivessem sido reações ao que ocorria por parte dos veículos de
comunicação e a forma com que a polícia lidava com o caso.
Como todo o caso já tinha
sido, o julgamento não foi menos midiático e a resposta da população em direção
a advogada não foi das melhores, ela foi hostilizada durante todo o processo.
Mas ela também não deu vida mole nem ao ministério publico nem a acusação como
um todo. Ela brigou, ofendeu a juíza, gritou, foi irônica.
O último dia foi reservado
para os debates, depois a réplica e a tréplica.
Os jurados receberam 12
quesitos, que nada mais é do que, perguntas que os jurados respondem com sim ou
não sobre a materialidade do crime, sobre a autoria, sobre os atenuantes, os
agravantes, as qualificadoras....
Os quesitos nesse caso eram
relacionados a Eloá, Nayara, ao Sargento Atos, ao cárcere privado de Nayara, ao
2º cárcere privado de Nayara, ao cárcere de Victor, ao cárcere de Iago, ao
disparo feito no dia 13, aos disparos no dia 14, ao disparo no dia 17.
Lindemberg Alves Fernandes
foi condenado no dia 16 de fevereiro de 2012 em todas as acusações. Pelo
homicídio duplamente qualificado, 30 anos. Pelas duas tentativas de homicídio,
30 anos. Pelos 5 cárceres privados, 24 anos e 2 meses. Pelos 4 disparos, 14
anos e 8 meses. Somando no total 98 anos e 10 meses. A dosimetria levou depois
em conta o atenuante do réu primário e da confissão.
O plenário do Fórum se
levantou em uma salva de palmas assim que a juíza terminou de ler a sentença.
Ele voltou para Tremembé, a
famosa penitenciaria, há uma foto famosa onde ele aparece ao lado do Alexandre
Nardoni, do Gil Rugai, do Mizael Bispo, do Cristian Cravinhos e do Guilherme
Longo, que recentemente foi condenado pelo assassinado do enteado Joaquim. O
fato curioso é que essa foto foi tirada enquanto eles esperavam pra dar
entrevista para o autor do livro Diário de Tremembé o presidio dos famosos, Acir
Filló.
O governo de São Paulo foi
condenado em outubro de 2008 a pagar R$ 150 mil a Nayara em indenização por
danos morais, materiais e estéticos. A Procuradoria Geral do Estado entrou com
um recurso especial contra a decisão. Não achei se o recurso foi deferido ou
não. As fontes dão a entender que o Estado pagou, mas não sabemos se foi o
valor todo ou parcial.
A Nayara pelas últimas
informações cursou e se formou em Engenharia, leva uma vida bem discreta e não
falou mais sobre o caso.
O Tribunal de Justiça de
São Paulo reduziu a pena para 39 anos e 3 meses em 4 de junho de 2013.
Há 3 anos, em 2021, cumpridos 1/3 da pena,
Lindemberg pediu a progressão para o regime semiaberto. O pedido foi concedido
e revogado 4 meses depois a pedido do MP, depois de exames criminológicos e
psicológicos apontarem nele um comportamento antissocial.
Quando foi em 2022, o
regime foi concedido novamente e o MP entrou com novo recurso para derrubar a
progressão, o que ainda não ocorreu.
Recentemente, em fevereiro
desse ano, 2024, a advogada do Lindemberg, Márcia Renata, entrou com pedido de
redução de pena em 109 dias, por ele ter trabalhado 323 dias entre 2021 e 2024
e ter realizado um curso de empreendedorismo pelo Sebrae em 2022, ela pede mais
2 dias de redução.
Everaldo, o pai de Eloá,
atualmente está no regime semiaberto e mora em São Paulo.
O caso da Eloá foi o
primeiro do retorno do meu amado Linha Direto depois de um hiato de 15 anos. No
dia 04 de maio de 2023, Pedro Bial entrevistou o Victor, o promotor Folgado, o
capitão Gianini, a Simone, amiga e vizinha da Ana Cristina na época. Tem o
episodio tanto no podcast do Linha Direta quanto no Globoplay.
E no programa o promotor Antônio
Folgado que foi o responsável por apresentar a denúncia, contou que, no dia do
fim do sequestro, havia um atirador de elite posicionado na frente do
apartamento, em um andar acima do 24 e que recebeu ordem de atirar caso
Lindemberg aparecesse na janela. Ele não atirou primeiro porque o Lindemberg
não apareceu e se tivesse aparecido, a nevoa que se formou não dava a ele visão
para atirar. Ele também relatou que a polícia demorou uns 15 segundos pra
conseguir empurrar a porta porque estava com a mesa e isso deu tempo de o
Lindemberg atirar nas meninas e também disse que antes da porta cair, um
policial do GATE apontou uma espingarda calibre 12 municiada com bala de
borracha e atirou, mas a bala atingiu a parede do lado do Lindemberg, que já
tinha dado 3 tiros e só não deu mais porque acabou a munição.
Também foi citado o
resultado do exame pericial feito para saber a trajetória do tiro que matou Eloá,
que foi de cima pra baixo e de uma curta distância entre o Lindemberg e ela.
Outra curiosidade
envolvendo pais desse caso foi com o pai do Ronickson filho mais velho da Ana
Cristina que também apareceu, deu entrevista, dizendo que, não via o filho há
anos, porque Ana Cristina tinha levado o menino de Maceió sem avisá-lo, sem que
ele tivesse dado permissão ou tivesse sido perguntado, quando o Ronickson tinha
uns 7 anos.
Fontes de Pesquisa
Entrevista Nayara ao Fantástico
Luis Guerra entrevista Lindemberg
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