#2 Claúdia Lessin

 

O Caso



Última foto de Claudia




        O Caso Claúdia Lessin foi um dos casos que mais marcou, sem sombra de dúvidas, o meu pais Rio de Janeiro. O assassinato de Claudia e o da Angela Diniz, definitivamente, foram os casos de feminicídio que mais afetaram a visão sobre o que estava acontecendo com as mulheres aqui no Rio, mas não só aqui no Rio, mas no Brasil.

 

         E foram casos que aconteceram em anos seguintes, já que a Angela Diniz foi assassinada pelo Doca Street em 1976 e 6 meses depois, aconteceu o caso da Claudia.

 

         Mas antes da gente entrar no caso em si e conhecermos quem era Claudia Lessin Rodrigues, vamos entender um pouco em que ponto a mulher estava no fim dos anos 70.

 

         Aqui, eu vou me basear no livro da Jacilene Maria Silva, chamado Movimento das mulheres e feministas, O feminismo no Brasil, que eu super indico a vocês, é um livro maravilhoso, é um estudo muito bom sobre as ondas do feminismo no Brasil, é super didático, fluido, elucidativo, eu vou deixar o link aqui pra vcs na descrição, ele vende na Amazon. 


         Nos anos 70, segundo Jacilene, é quando o movimento feminista realmente chegou ao Brasil, apesar de que, tanto no Brasil Império quanto no Brasil Republica, houveram situações de avanço nesse quesito de forma isolada e até de certa maneira, um progresso em algumas questões, como direito ao ensino superior concedida em 1879, o sufrágio feminino de 1932.

 

         Mas foi após o golpe civil militar de 1964, que as mulheres se engajaram mais efetivamente nos direitos delas e em ir atras deles. O movimento feminista no mundo já estava na segunda onda, como se chama, então chegou no Brasil já mais estruturado, mais delimitado.

 

         Quando Claudia Lessin foi assassinada, em 1977, as mulheres já tinham entrado na luta pela anistia, pela liberdade sexual, o codigo civil já tinha sido alterado para que fosse possivel (porque pasmem não era) que as mulheres pudessem trabalhar sem que o marido ou o pai autorizassem oficialmente que ela trabalhasse. Muitas autoras e autores, inclusive tem a opinião de que esse periodo, o da segunda onda, foi o que mais conquistou avanços para as mulheres.

 

         A 1ª Conferencia Mundial sobre a Mulher na ONU aconteceu em 1975, que deu inicio a Década da Mulher, então o pensamento estava em mudança, em evolução. Era um fim de década onde as mulheres entenderam que elas poderiam ser livres pra serem quem elas queriam ser. E defenderem seu direito a saúde, aborto, tratar de anticoncepção, questões de violência contra a mulher, como foi o movimento Quem ama não mata que surgiu em 1980 em BH e acabou crescendo e tendo um papel fundamental no caso da Angela Diniz, por exemplo.

 

         Então, a mulher dos anos 70, era uma mulher diferente da mulher dos anos 60. Com mais consciência social, mais consciência de classe e mais disposição politica pra se posicionar.

 

        

         Claudia Lessin Rodrigues nasceu no dia 17 de julho de 1956 em um antigo hospital de Botafogo, o Hospital dos Estrangeiros que ficava no Morro do são Joao que depois foi derrubado e hoje é o Condominio Morada do Sol, bem em frente ao Rio Sul Shopping.

 

Cláudia Lessin Rodrigues




         Era filha do casal Hilton Calasans Rodrigues e Maria Doroteia Lessin Rodrigues, que já tinham dois filhos, o Guilherme que já tinha 9 anos e Márcia, de 7 anos.

 

Maria Doroteia com os 3 filhos: Guilherme, Márcia e Claudia



         Hilton era um funcionário público, piloto de avião pelo Ministério dos Transportes.

 

         Maria Doroteia era alemã nascida da cidade de Mannheim, mas aos 9 meses, veio com a família para o Brasil. Na época em que tudo aconteceu, ela trabalhava como secretaria executiva para uma família alemã e tambem fazia alguns trabalhos como taquígrafa para hospedes alemães do Copacabana Palace.

 

         A família morava na zona sul do Rio, na rua Fernando Mendes, na esquina do Copacabana Palace.

 

         Não deixava de ser uma típica família de classe media da zona sul carioca.

 

         Claudia estudou em bons colégios, como o Colégio Americano, que não existe mais.

 





         Ela teve um problema na coluna por causa da diferença de 1 cm que ela tinha de uma perna para outra e isso a obrigava a sempre usar um calço nos sapatos pra igualar a sua altura. E Claudia era alta medindo 1m76.

 





         Ela foi uma adolescente apaixonada por musica, teatro, ver filmes no Cine Veneza.  Muito animada e apegada a irma, Márcia.

 

         Quando terminou a escola, fez um pre vestibular porque queria fazer faculdade de Psicologia.

 

         Aos 19 anos, em 1975, Claudia estava sofrendo com a depressão. Naquele ano ela estava cursando Psicologia, mas abandonou o curso. A sua relação com o pai, principalmente, estava cada dia mais difícil. Ela já não era mais a mesma.

 




         Os pais, preocupados, colocaram Claudia na terapia em um grupo organizado por 2 psicanalistas, Doutor Luis Alberto Pinheiro de Freitas e o Doutor Carlos Castelar.

 

         Como eu disse, Claudia era muito apegada a sua irma, Márcia que atuava como atriz desde os 15 anos quando começou a estudar teatro. Depois de alguns pequenos trabalhos, ela conquistou o papel principal no filme Garota de Ipanema, de 1967,  inspirado na musica de Tom Jobim, depois de disputar o papel com outras 130 meninas, já que Helo Pinheiro, que inspirou a musica, estava grávida na época. E foi um sucesso o filme.

 










         Claudia e Márcia chegaram a estrelar um comercial para um remédio juntas.

 




         No inicio ainda de 1975, Claudia foi pra Bahia e acabou se aproximando do filho de um casal amigo dos seus pais, o Mário. A intenção da viagem era que talvez a Bahia ajudasse Claudia a se animar. Mas o curto namoro não deu certo e ela voltou ao Rio pior do que foi.

 





         Em outubro, depois de insistir muito com os pais, eles concordaram em mandar ela para a casa do irmão mais velho, Guilherme, nos EUA. Ele havia casado com uma estadunidense e estava morando na cidade de Madison, em Wisconsin.

 

         Claudia foi para os EUA estudar, mas aparentemente sua estadia com o irmão não deu muito certo. Algumas fontes dizem que a esposa dele teria sido o problema, que as duas não se entenderam muito bem, mas o que de fato aconteceu é que Claudia saiu de Madison e foi para Los Angeles, na California. Ela tinha essa vontade de tentar atuar, ela tinha amado fazer o comercial então hollywood era um lugar atrativo. Varias produtoras, estúdios famosos, atores mundialmente conhecidos e a famosa calçada da fama.

 





         E lá nos EUA a Claudia conhece um rapaz chamado Deane Leonard Lenox, que todo mundo chamava de Dusty.

 

         Porem as coisas não saíram como ela gostaria que tivesse sido. Os dois tinham pouco dinheiro, brigavam e ela voltou a se sentir perdida. Um dia ligou para casa e começou a chorar copiosamente. A mae ficou muito preocupada e o Seu Hilton, procurou os psiquiatras que cuidavam de Claudia para entender o que eles poderiam fazer pela filha.

 

         O que eles orientaram é que eles fossem buscar Claudia, que o comportamento dela era de alguem que pede socorro, pedia ajuda, pedia apoio, amor.

 

         E o pai foi, já que Claudia se recusava a voltar por conta própria.

 

         Era março de 1977.

 

         Hilton, quando chegou e viu como a filha vivia, em um lugar pequeno, insalubre e com Dusty trabalhando vendendo coisas na rua pra conseguir algum dinheiro e ela como babysitter, insistiu em levar a filha de volta ao Brasil, que ainda teimava em não voltar de jeito algum.

 

         Achando não ter uma alternativa, Hilton lembrou que o visto de Claudia, tinha vencido e a denuncia para a imigração.

 

         Claudia foi levada para o aeroporto algemada. Ela ficou profundamente magoada com o pai. De volta em casa, ela ficou meses sem sequer tocar no assunto com o pai. Ela parou de comer por um tempo e a depressão piorou. Ela ainda manteve contato com Dusty que frequentemente ligava pra ela.

 





         Claudia voltou para a terapia, não só em grupo mas em sessões individuais tambem.

 

         Novamente por orientação dos médicos, os Rodrigues contratam um acompanhante para Claudia, Joao Barta, que a buscava em casa para irem a terapia e depois a deixava em casa, pelo receio dos médicos de que o quadro dela piorasse e evitar que ela ficasse muito tempo sozinha. Depois de um tempo, eles tornaram-se amigos.

 

         No começo de julho de 1977, Márcia tinha terminado de filmar Gente Fina é Outra Coisa, uma pornochanchada e o coquetel de estreia do filme, seria dia 07, no Hotel Le Meridien, em Copacabana, na esquina da Avenida Atlântica com a Princesa Isabel, atualmente o Hotel Hilton, um dos pontos mais famosos da zona sul carioca e onde, no subsolo, ficava o clube Régine’s, badaladíssimo em 1977.

 

         Claudia insistiu pra ir com a irma na festa de estreia. As pornochanchadas estavam em alta e o filme era muito bem estrelado. Foi dirigido por Antonio Calmon, com roteiro de Graça Mota, tinha Marieta Severo, Nuno Leal Maia, Louise Cardoso no elenco. O filme produzido por Pedro Carlos  Rovai com financiamento do magnata suico Egon Frank, dono, além de outros empreendimentos, da marca Mondaine, a dos relógios sabe? E tambem tinha colaboração de Nelson Mota.

 





 

         As duas foram a estreia e lá Claudia conheceu Pedro Carlos Rovai e Michel Frank, um dos filhos de Egon Frank e amigo de Pedro.

 

         Depois do coquetel de estreia, Pedro Rovai convidou algumas pessoas para irem a um after party que aconteceria no Régine’s, mesmo Márcia declinando o convite, Claudia aceitou.

 

 

Pedro Carlos Rovai



         Foi um encontro literalmente fatal. Em menos de 20 dias depois desse encontro, Claudia estaria morta.

 

         Pedro e Claudia começam a se aproximar. Se falavam ao telefone, saíram juntos.

 

         Naquele 23 de julho de 1977, Maria Doroteia viu a filha se arrumando para sair, animada. Hilton não notava Claudia tao compenetrada ao se arrumar a um tempo.

 

         Ela vestiu uma calça branca de algodão, blusa estampada de florzinha, sapato creme, de corda, cabelos soltos, curtos e no pescoço, uma corrente com uma flor vermelha, pulseira de metal, anéis de prata, um outro anel de borboleta e uma bolsa estilo indiano com espelhinhos, dentro alguns itens pessoais e uma agenda.

 

         Foi assim, que ela foi vista pela última vez pela família.

 





         Apesar de sair sozinha de casa, Claudia ainda encontraria uma amiga antes de ir até o Leblon, onde ficava o apartamento de Michel Frank.

 

         Em seu depoimento, a amiga, Denise Camargo conta que, Claudia e ela se conheciam desde crianças, quando ainda moravam no mesmo prédio, mas depois que o pai mudou, Denise ia pouco lá então não eram tão próximas quanto antes.

 

         No dia 23, sábado, a Claudia telefonou pra ela e perguntou se ela ia sair. Denise disse que não e Claudia foi pra lá. Nesse interim, Denise combinou de ir a casa de Caio Mauro Furtado de Mendonça, um amigo, em Ipanema. Quando Claudia chegou, chamaram um taxi e Denise avisou que iria para Ipanema. Denise soltou do taxi na Rua Prudente de Morais, desceu no prédio de Caio e se encaminhou a portaria pra pegar o dinheiro pra pagar o taxi que Caio deixou com o porteiro, mas Claudia disse que não precisava porque ela iria até o Leblon e lá, no fim da corrida, ela mesmo pagava. Se despediram e aquela foi a última vez, que alguem conhecido, viu Claudia com vida.

 

         É a partir da chegada de Claudia na Rua Desembargador Alfredo Russel, numero 70, que não se sabe com 100% de certeza o que ocorreu, o que existem é versões e mais versões. Seja de quem estava no apartamento de numero 302, seja da policia e do Ministério Público.

 





         O apartamento pertencia a Michel Albert Frank, o mesmo que apenas poucos dias antes, havia conhecido Claudia no Le Meridien.

 

         Claudia sobe.

 

         No apartamento, estavam, ou passariam, além de Michel, o casal Simonelli, Bernardete e Carlo, Daniel Labelle, as empregadas do apartamento, Valninia Rodrigues dos Santos e sua irma, Eurídice e Georges Michel Kour.


         Era sábado, dia 23 de julho de 1977.

 

         Dois dias depois, dia 25, uma lancha do serviço de salvamento fazia patrulhamento pela região entre a praia de São Conrado e a Praia do Leblon. Passando pela Gruta da Imprensa, Chapeu dos Pescadores, eles notaram algo na pedra, a poucos metros da agua. Era um corpo.

 





         Eles chamam a policia.


         Ninguém sabia quem poderia ser aquela mulher.

 

         O Cabo Leitão, da PM, faz o registro do encontro do cadáver na 15ª delegacia, na Gavea.

 

         No primeiro platô do Chapéu dos Pescadores, havia sangue, o que mostrava que o corpo ou bateu lá antes de chegar no ponto em que foi encontrado ou ele esteve lá antes de ser posto onde ficou.

 

         Os peritos que atenderam o local do encontro de cadaver, Orlando Gullo e Jorge José Lucas que trabalhavam no Instituto de Criminalística Carlos Éboli, apontaram naquele primeiro momento que a vitima havia sido assassinada por esganadura, em outro local e que a bolsa Favo (uma bolsa italiana importada) amarrada ao pescoço dela e cheia de pedras, tinha a intenção de fazer peso pra que o corpo caísse ao mar e afundasse.

 
















         O corpo foi encaminhado para o IML.








 

         O caso acaba passando no Jornal Nacional e Dona Maria Doroteia ao assistir a reportagem sentiu que poderia ser Claudia. Ela já estava há dois dias fora de casa sem dar noticias.

 

         Hilton tinha viajado a trabalho.

 

         Maria Doroteia vai a banca de jornal no dia seguinte ver se alguem publicou mais informações sobre o caso. E em um dos jornais havia um detalhe sobre a moça encontrada: no pescoço ela usava uma corrente com uma flor vermelha.

 





         Maria liga pra Márcia pedindo pra irem ao IML. A Márcia e o namorado da época acompanham Maria até o IML mas elas ficam nervosas e não conseguem ter coragem de entrar pra reconhecer. Entao, Márcia pede que uma médica amiga da família vá ao IML e ajude a reconhecer.

 

         Ela vai e confirma que a moça encontrada no Chapeu dos Pescadores era Claudia.

 





         Assim que elas tem a confirmação, avisam ao DNER, onde Hilton trabalhava. Quando ele volta de uma viagem no Santos Dumont, um amigo de trabalho dá a noticia de que ele precisava ir urgentemente pra casa. Na hora Hilton percebeu que sua filha só poderia estar morta.

 

         Claudia foi velada e enterrada no Cemitério São Joao Batista em Botafogo.

 

 




         No dia seguinte ao encontro do corpo, uma pessoa liga para a Radio Globo querendo saber o numero da policia e conta que viu o que aconteceu com a moça encontrada morta no Chapeu dos Pescadores. Ele mesmo viu quando 2 pessoas a levaram até lá, descreveu as pessoas e as roupas, o carro onde estavam e ele sabia o numero da placa.

 

         O repórter de plantão na Rádio daquele dia, Dimas Cordeiro, imediatamente liga para a delegacia da Gavea pedindo para falar com o delegado Jamil Warwar, mas ele não estava. O repórter consegue o numero da casa dele e deixa recado com a esposa de Warwar para que ele ligasse assim que puder para a Rádio Globo.

 


Dimas Cordeiro




         Quando os dois conseguem se falar, Dimas repassa todas as informações que o informante relatou, inclusive a de que, ele tinha anotado a placa do carro Brasilia de cor avermelhada que ele viu.

 





         Era uma baita informação, o caso tinha uma testemunha ocular e que anotou a placa e viu claramente os homens que jogaram o corpo.


         O chapéu ou Laje dos Pescadores como as pessoas tambem conhecem fica em São Conrado. É uma encosta onde as pessoas vao muito pra pescar porque tem uma laje que dá pra sentar, ficar em pé.

 






         Claudia morava em Copacabana, na Rua Fernando Mendes, quase na esquina da famosa Avenida Atlântica. O apartamento de Michel era no Leblon, sentido a São Conrado, é dois bairros a frente, logo depois de Ipanema. É bem pertinho. E aí que vem São Conrado. Ao lado do Leblon, separados pela avenida Oscar Niemeyer e o Vidigal. A Laje é próxima ao Motel Vip’s, onde dois anos antes, a Leila Cravo foi jogada de um dos quartos.  

 

         A policia já sabia quem era a vitima e agora sabia que alguem viu o que aconteceu.

 

         Agora eles precisavam ir atras do informante.

 

         Um repórter consegue achar o homem. Era Luis Gonzaga de Oliveira, conhecido como Indio, um operário prestador de serviço da empresa Tecnosolo Engenharia.

 






         Luis, a época, prestava serviço e dormia, em um pequeno barraco na Avenida Niemeyer com outros 3 trabalhadores na altura do Chapeu dos Pescadores.

 

         Ele estava sofrendo com uma dor de dente que não o deixava dormir. Ao ouvir o barulho do lado de fora do barraco, ele vai ver o que é. Era por volta da meia noite.

 

         De manha, o Luis contou tudo aos colegas de barraco e queria ir ver o que os dois homens tinham jogado lá mas os colegas disseram que devia ser algum despacho. Ele foi até lá sozinho mas não viu nada.

 

         No dia seguinte, na hora do almoço que ele soube que a policia achou um corpo lá. Quando voltou pra casa, procurou uma vizinha do barraco, Maria do Socorro pra saber o numero da patrulha e contou a ela o que tinha visto e que ia ligar pra policia, ela não sabia o numero mas sabia a da Rádio. Vinte minutos para as 6 da manha do dia 27 de julho, ele vai até um orelhão liga para a Rádio e fala com o Dimas Cordeiro.

 

         Com a placa da Brasilia, SX 5904, era fácil localizar o proprietário do veiculo.

 

         Ela estava registrada em nome da Swiss Real Estate, uma imobiliária, na Rua Visconde de Pirajá, 580, sobreloja 321.

       

         Uma outra testemunha surgiu nesse interim. Jander Lopes Farias, um pescador que diz ter visto 2 homens e 1 mulher brincando na Gruta da Imprensa, ao lado do Chapéu, as 17:45 mais ou menos no dia 25, domingo.

 





         Ele estava lá pescando até que começou a chuviscar. No caminho de volta ele viu 1 homem vestindo calça bege e camisa clara e ainda outro homem. A um jornalista, ele reconheceu Michel como sendo um dos homens.

 

         Depois de seu depoimento, Luis ficou por uns 45 dias mais ou menos, hospedado no Motel Dunas, que fica na Avenida das Americas na Barra, escondido, sendo vigiado pela policia, pra que a segurança dele fosse garantida.

 

         A placa do carro levou, como eu disse, a Swiss Real Estate que pertencia a Michel Frank. E ao questionarem na Imobiliária de alta classe, localizada em Ipanema quem utilizava o carro, os funcionários informaram que o carro era dirigido por Michel.

 

         Michel Alfred Frank era um dos filhos de Egon Frank e Katalyn Ottilio Fischer Abler. Michel tinha outros irmãos, Jorge e Claude, mas não sabemos se da mesma mãe.

 





         Aos 17 anos, Michel começou a trabalhar. Possuía dupla nacionalidade, a brasileira e a suíça. Falava fluentemente 6 idiomas, era formado em Economia e se viciou nas drogas aos 16.

 

         Em 1977 ele estava com 26 anos.

 

         O apartamento de Michel na Rua Desembargador Alfredo Russel era o que poderíamos chamar de bem tipo de alguem de classe média, claro que, pra quem mora na zona sul, mas sendo filho de quem era, um milionário, alguem que tinha uma empresa bem sucedida, era um apartamento abaixo da sua condição financeira. Tinha uma sala, dois quartos, banheiro, cozinha, area de serviço e o quarto e banheiro da empregada. Nada muito chique.

 

         E nesse apartamento, aconteciam vez ou outra, pequenas reuniões e festas regadas a bebida e drogas. Algumas pessoas do circulo de convívio de Michel, filhos de outros milionários, pessoas bem relacionadas na zona sul, novos ricos, pessoas envolvidas em filmes patrocinados pelo pai dele, artistas, todos iam ao apartamento.

 

         Naquele dia 24 de julho, sabemos que na reunião que teve, além de Michel, estavam na casa Bernardete e Carlo Simonelli, Daniel Labelle e Georges Michel Kour.

 


Bernardete e Carlo Simonelli




         Com a informação de quem era dono da Brasilia, que na verdade era um marrom, Jamil Warwar vai atras de Michel Frank.

 

         A Brasilia, não foi periciada ou apreendida para ser periciada.

 

         A primeira versão de George, que foi o primeiro a ser ouvido era de que Claúdia ligou para o apartamento. Michel e ele estavam jogando carta. Michel mesmo atendeu ao telefone e falou pra ela passar por lá e se desse, levar uma amiga. Ela disse que ia, mas acabou chegando sozinha. Bebeu uísque, ligou algumas vezes usando o telefone do apartamento e tambem recebeu uma ligação, que ele não sabia de quem era, e depois de desligar, ela saiu.

 

         Ele e Michel continuaram jogando mais um pouco e foram dormir. No Domingo de manha Georges saiu voltou mais tarde e ambos foram para Copacabana. De lá, Michel foi até o apartamento do pai onde ocorria uma reunião com o Almirante Carlos Carvalho Rejo e o Procurador Antonio Vieira de Melo.

 

         Ele ficou em casa.  

 

         Quando soube que estava implicado no caso, Michel procurou o pai e relatou a versão de que, no dia 24, a Claudia ligou perguntando se o Pedro estava lá ( ele não explica como ela tinha o numero do apartamento dele). Quando o Michel atende ele fala que se ela quisesse ir lá podia ir com uma amiga, só que ela vai sozinha.

 

         Na casa, estavam, quando ela chegou, ele, Kour, o casal e o Labelle.

 

         Claudia ficou perto da mesa perguntando sobre o jogo, mas não jogou. Ela começou a se sentir mal e ele a levou ao banheiro e depois Bernardete a ajudou. Saindo do banheiro ela pediu um cigarro, mas como ele não gostava do cheiro, pediu que ela fumasse no quarto.

 

         Quando Georges voltou de uma ida ao banheiro, viu que Claudia estava deitada nua no quarto. O Labelle tinha ido dormir no outro quarto do apartamento.

 

         Ele e Georges foram ao quarto onde Claudia estava deitada pensando em fazer sexo com ela mas não conseguiram porque já tinham bebido demais. Nisso, a Claudia caiu da cama se tremendo.

 

         Georges pega um fio da luminária, desencapa e tenta dar choque elétrico nela enquanto ele coloca a mao na boca pra desenrolar a língua.

 

         Labelle acorda vê tudo fica nervoso e vendo que a menina já parecia morta, vai embora.

 

         Com medo da acusação das drogas e da morte, os dois que ficaram decidem levar o corpo só que Michel dorme e só acorda na tarde de domingo.

 

         Os dois primeiro decidem sair pra procurarem um lugar para desovar só que os postos de combustível não abriam no domingo e eles tinham pouco combustível. É quando o Michel liga pra Moises, o gerente da imobiliária, pedindo combustível.

 

         Já com combustível no carro, Michel liga o ar condicionado no quarto e sai.

 

         As 10 e meia da noite, eles voltam, a enrolam em um lençol e a colocam em uma mala. A empregada, que eles chamavam de Valeria, mas era a Valninia, ajuda a carregar a bolsa Favo italiana, depois encontrada no local cheio de pedras.

 

         Primeiro eles vao até a Rio Santos mas como o combustível não daria pra ir até muito longe e voltar, eles abortam e lembram do Chapeu dos Pescadores. Dentro de uma bolsa marrom eles colocam algumas pedras pra ajudar o corpo a afundar.

 

         Só que, ao jogarem o corpo não foi longe. Entao eles precisaram descer, pegar o corpo e jogar de novo, mas ele não chegou na agua.


         É Egon que depois de ouvir tudo o que o filho contou, chama um advogado e um patologista, pra saber se o que o filho dizia, poderia ser verdade.

 

         Jamil Warwar continua a chamar pessoas a serem ouvidas.

 

         O porteiro do prédio, Antonio Jeronimo de Araujo, em depoimento fala que, no dia 24 a noite, o gerente da imobiliária, chegou lá levando gasolina. As 19 do domingo,  Michel e outro homem, branco, baixo e de cabelo encaracolado,  saíram juntos e ele achava que eles tinham ido para São Paulo pela conversa deles.

 





         Moises Jose Teles, o gerente, que tambem foi ouvido e na delegacia relata que foi no dia 24 levar gasolina a pedido de Michel, que queria sair e a brasilia estava sem. Ele não subiu ao apartamento, foi direto na garagem.

 

         No apartamento quando a policia foi revistar, dias e dias depois, se deparou com 2 homens, Wilson Rodrigues e Antonio Lauriano, empregados de uma construtora de um dos empreendimentos de Egon e que estavam lá pintando o apartamento.

 

         Segundo eles, após uma festa a duas semanas, antes do crime, alguem deixou um cigarro aceso cair no tapete, que pegou foto e chamuscou a parede. Mandaram que eles fossem lá pintar tudo. Não tinha ninguém na casa. Eles entraram com uma copia da chave mas nem precisaram porque a porta da frente tava aberta.

 

         As duas empregadas, e irmãs, Euridice e Valeria, estavam na casa no sábado. Euridice fez o almoço para Michel, Georges e Labelle e deixou o jantar pronto, antes de ir embora.


         Valéria diz que chegou as 18 de sábado e só Michel e Georges estavam lá. Labelle chegou 30 minutos depois.





         Lembram da agenda que claudia levava na bolsa no dia que saiu de casa, ela foi encontrada, apareceu, na Lagoa Rodrigues de Freitas. A fonte não diz em que ponto exato, porque a Lagoa é circundada pelos bairros da Lagoa, do Jardim Botânico e do Leblon. Do apartamento de Michel para a Borges de Medeiros, que é a Avenida da lagoa, são necessários duas ruas. É bem pertinho. Uns 3 km mais ou menos.

 

        

         Já sabemos quem era Michel Frank. Então vamos saber agora quem era Georges Michel Kour, o segundo homem apontado como envolvido no caso.

 





         Georges Michel Kour nasceu no Líbano. E lá conheceu Vera Lucia Saba.

 

         Vera Lucia, mineira descendente de alemães, húngaros, norte americanos e árabes,  de 1m70, era uma Miss. Primeiro ela foi Miss Clube Monte Libano, no Leblon. Em 1962, em um Maracanazinho com mais de 15 mil pessoas, vencendo 21 candidatas, Vera se torna a Miss Guanabara 1962 ( como o Estado do Rio de Janeiro era conhecido).





 

         Após vencer o concurso, Vera foi com o pai concorrer ao Miss Mundo na Inglaterra.

 








         Ela não ganhou o concurso e a família aproveitou a oportunidade e foram ao Líbano, onde tinham família, passear pela região, de férias.

 

         Em Damasco, na capital da Siria, pais vizinho ao Libano,  ela conheceu Georges, que era dono de salões de beleza.

 

         Os dois se apaixonaram mas a família de Vera foi terminantemente contra. Um namoro atrapalharia sua vida nos concursos e casar a impediria de participar, já que só mulheres solteiras podiam concorrer.

 

         Mas nada disse importou. Diante da negativa da família, Vera fugiu para casar com Georges.

 

         Em 1963, os dois, casados, voltaram ao Brasil.

 

         A primeira filha do casal, Katia Vergino Kour nasceu no dia 15 de novembro de 1963. O segundo filho, Ricardo, nasceu no dia 19 de dezembro de 1966.

 




         A família foi morar na zona sul carioca. O primeiro trabalho de Georges foi no Salao Chopin na Avenida Atlântica. Depois ele abriu seu próprio salao, na Avenida Atlantica com a esquina da Rua Fernando Mendes, rua em que os Rodrigues moravam.

 

         Georges conhecia Claudia desde a infância. Dona Maria Doroteia era uma das suas clientes.

 

         Alguns anos depois de voltarem ao Brasil, o casamento de Vera e Georges acabou.

 

         Ele ficou morando na rua Cinco de Julho, em Copacabana, com a mãe, Vergina, seu irmão Jean e os dois filhos. Ricardo era hemofílico então precisa de constante cuidado e fazia tratamento em um hospital na Tijuca, zona norte do Rio.


         Já adiantando um pouco, Ricardo acabou adquirindo HIV atraves de uma transfusão de sangue e morreu em maio de 1991, aos 24 anos. Katia, a primeira filha de Georges, acabou falecendo em 2009 em um acidente de carro.

 




         O Georges depois abriu seu salao no 4º andar do já citado Hotel Le Meridien, que além de muito bem frequentado e famoso, tambem era conhecido pelo seu show de cascata de fogos de réveillon.

 

         Warwar chegou a uma psicóloga que frequentava o apartamento e suas festas e ela comentou sobre Jucelio Gonçalves Dutra, que fornecia sua casa para usuários de drogas se encontrarem e que Michel costumava ir. Acontece que a casa de Jucelio ficava nada mais nada menos, que na Avenida Oscar Niemeyer, numero 550, casa 1. Perto de onde? Do Chapeu dos Pescadores.

 











         Quando a policia foi até la o caseiro diz que Jucelio não estava em casa desde o dia 06 de julho, que ele havia viajado para Juiz de Fora, espairecer a cabeça depois da esposa pedir a separação.

 

         A casa, diziam as más línguas, era um ponto de encontro da zona sul, mas para usarem drogas.

 

         Foram realizados 5 tipos de exames no Instituto Carlos Éboli, o cadavérico, o toxicológico, o de corpo de delito em Michel Frank e Georges Kour e o de local de encontro de cadaver.

 

         O laudo do toxicológico de Cláudia deu negativo para drogas.

 

         O laudo de corpo de delito em Michel, concluiu que ele possuía ferimentos nas mãos causados por ação contundente.

 

         Os peritor Orlando Gallo e o Jorge Coelho no laudo deles concluíram que Claudia foi espancada e morta por estrangulamento. Eles foram o perito que fizeram o exame Peri necroscópico, no corpo de Claudia ainda no local. Os exame necroscópico foi realizados pelos legistas Doutor Rubens Pedro Janini e Doutor Amadeu da Silva Lopes. O que esses exames descreveram foram:


 

         “contusão na cabeça com hemorragia subdural e asfixia por estrangulamento com as mãos.”

 

         “ferimentos diversos por todo o corpo, principalmente equimoses no pescoço. Hematomas e escoriações diversas nas faces além de surdimento de sangue pelas narinas e boca. A parte superior do toraz apresentava escoriações e hematomas diversos, bem como os ombros, braços e pernas do lado direito da região dorsal.”










         Então ela tinha escoriações na testa, ferimentos no rosto, equimoses no peito, no braço direito, cotovelo, antebraços, coxas, tornozelo, todo o lado direito dela. Tambem tinha sangue no couro cabeludo e uma hemorragia dentro da caixa craniana, próximo a massa encefálica. A hora da morte foi dada como entre 3:30 da manha e antes do meio dia de domingo.

 

         Warwar estava muito certo de que Claudia morrera aonde foi encontrada. Ela saiu do apartamento do Leblon com Michel e com Georges para a casa de Jucelio, usaram drogas e lá ela foi morta. Essa era a teoria dele. A motivação do assassinato foi a recusa dela em estar presente no tráfico que estava acontecendo ou por estar no lugar errado na hora errada.

 

         E até esse momento, Michel ainda não tinha se apresentado a policia. O Egon chama os advogados Evaristo de Moraes Filho e George Tavares e o patologista Domingos De Paola pra ouvirem Michel e saber, se a versão dele era plausível.

 

         No começo de agosto de 1977, Michel dá uma entrevista, curta, na casa do pai, ao lado do advogado, o Wilson. Na entrevista ele apresenta uma versão.

 





         Estava em casa com Georges, jogando um jogo francês de cartas. As 11 e meia da noite a Claudia ligou. Ele tambem diz que não estava acontecendo festa no apartamento, só uma reunião entre amigos.

 

         Quando ela chegou, ficaram bebendo uísque e ela foi ao telefone fazer algumas ligações. Na madrugada o telefone tocou, Claudia mesmo atendeu porque disse que havia dado o numero de lá e estava esperando um retorno. Logo após desligar, ela foi embora.

 

         Nessa entrevista ele tambem conta que a conheceu atraves do Pedro Rovais e que a viu 2 vezes. A primeira, no lançamento de um filme chamado Gente Fina é Outra Coisa, que a irma dela tinha feito e a 2ª vez foi em reunião no apartamento dele, mas ela estava com o Pedro Rovai.

 

         No dia seguinte, domingo, as 13 ele foi almoçar na casa do pai, que ficava na Avenida Vieira Souto, 412, apartamento 301. Almoçaram e na volta pra sua casa, ligou para o Moises pedindo gasolina.

 

         No dia 25 de julho ele foi para São Paulo a trabalho e só soube do ocorrido no dia 27, quando pediu que o seu advogado fosse a delegacia o representar.

 

         Para as lesões que ele apresentava na mao, ele tambem tinha uma explicação. No mesmo sábado, porem antes da reunião, ele caiu da moto, uma Yamaha,  de um amigo, chamado Cristiano, que além de amigo, era corretor da sua imobiliária. A queda foi na Gavea, pertinho do Joquei. Ele fez um curativo em casa e que depois foi na farmácia na Ataulfo de Paiva, ali mesmo no Leblon, Farmaica Vitoria Regia comprar material pra trocar o curativo.

 

         A investigação ainda estava no começo e uma ordem, partindo do diretor da Policia Civil, Delegado Mário Cesar da Silva, retirou Jamil Warwar do caso, sob a justificativa de que ele deu uma entrevista e que o excesso de exposição que ele estava dando ao caso, estava atrapalhando.

 

         Warwar foi substituído pelo Inspetor Vanderlei josé Silveira.

 

 

         E um fato curioso: depois de afastado, Warwar foi para a Delegacia de Investigação da Policia Especializada e depois, ele foi trabalhar na Delegacia de Itaguai, meu pais Itaguai, cidade onde moro atualmente e tambem onde nasci, olha ai a coincidência. Eu não falo pra vocês que as coisas são conectadas e a gente não sabe? Ele ficou alguns anos na delegacia daqui, a 50. Por fim, ele se aposentou e virou gala de fotonovela, acreditem se quiserem.

 




         Em depoimento na delegacia, Daniel Robert Jean Labelle, um francês, diretor de uma empresa de roupa feminina, estava dormindo quando acordou e viu tanto Claudia, Michel e Georges, nus no quarto, só que Michel estava em pé tentando reanimar a moça e Georges abria e fechava os braços dela. Ele quando vê aquilo conclui que ela está morta e vai embora. Justifica não ter se apresentado antes porque não achou que o que viu era um crime mas um acidente e que além disso, ele não sabia falar português e que não sabia o que fazer.

 




         Ele e Michel conheceram-se no Copacabana Palace e ficaram muito próximos quando a Swiss Real Estate conseguiu o apartamento do chefe de Labelle.

 

         Naquele sábado eles estavam jogando cartas e bebendo caipirinhas no apartamento. Lembrava que um casal e um outro rapaz chegaram depois. Por volta das 23 o Georges o levou até um dos quartos porque ele já tinha bebido demais e acabou dormindo.

 

         O Pedro Rovais, tambem se apresentou para dar a sua historia de como as coisas foram. Ele e Claudia estavam juntos, não necessariamente namorando. Estiveram juntos 4 vezes e ela dormiu uma vez na sua casa. Se conheceram na estreia do filme Gente Fina é Outra Coisa.  No sábado em que tudo aconteceu, ele foi a praia, almoçou com um amigo, jantou com uns amigos e mais a noite foi a um bar. Ele combinou na sexta, de ver Claudia no sábado, mas não lembrava se chegou a desmarcar.  

 

         Domingo de manha jogou vôlei na praia, foi a um bar, dormiu a tarde no sofá de uma amiga. Ele ligou pra casa de Claudia, um homem atendeu e disse que ela tinha saído mas que ainda não tinha voltado.

 

         Ele so soube do que aconteceu na terça, foi quando ligou para Márcia. Conhecia Michel a 5 anos e eram muito amigos.

 

         A Veja conseguiu uma entrevista com o Domingos De Paola, o patalogista que Egon Frank contratou e que ouviu a historia de Michel. Durante a entrevista, De Paula narra que houve uma festa no apartamento onde cocaína foi consumida, bebida e mandrix tambem ( é uma droga sedativa). Claudia se excedeu no uso e teve uma convulsão. Michel e Georges vendo aquilo, tentaram ajuda-la e socorrer Claudia, puxar a língua dela, mas foi em vão. Os dois acabaram dormindo, bêbados como estavam e Georges deu a ideia de se livrarem do corpo.

 





         Então aqui, já temos uma nova versão vinda de Michel. E nessa versão, ele se coloca no local, na hora da morte da Claudia, mas se isenta da ideia de ocultar o corpo e ainda defende a tese de que ele tentou ajuda-la. Quase como se a culpa de morrer, fosse toda dela.

 

         Inclusive o repórter Valério Meinel e o fotografo dessa entrevista receberam o Premio Esso de Jornalismo por essa reportagem.

 

         A matéria foi publicada no dia 04 de setembro de 1977.

 

         Porem, Márcia Lessin soube da entrevista dias antes e avisou a policia que ela tinha certeza de que assim que a entrevista saísse, Michel fugiria. Ela foi a delegacia, pediu que fizessem algo pra impedir que Michel saísse do Brasil.

 

         O promotor do 1º Tribunal do Juri, José Carlos Cruz Ribeiro soube e convocou De Paula para depor e pediu a prisão preventiva de Georges e Michel sob a acusação de crime continuado, tentativa de ocultação de cadaver e indução ao consumo de drogas.

 




         No dia 06, o juiz Mota Moraes decretou a prisão, mas como Márcia previra, Michel já estava longe a muito tempo.  De carro, ele foi até a Argentina, da Argentina voou até Espanha e depois para a Suiça, antes do fim do mês de agosto.

 

         Quando o laudo do IMl saiu, afirmando que Claudia morreu de estrangulamento e descrevendo as lesões, os advogados que Egon tinha contratado em primeiro momento, abandonam a causa. Achavam difícil sustentar a versão de Michel com o laudo apontando algo completamente diferente.

 

         A reunião na casa de Egon, lembram? Que Michel contou na sua primeira versão? Tanto o Almirante e o Procurador, que primeiro confirmaram a reunião, voltaram atras. O dono da tal farmácia que Michel jurava ter ido no sábado, que quando ouvido pela primeira vez confirmou, depois tambem voltou atras e que na verdade, Michel só foi lá na segunda a noite.

 

         E se não bastassem todos esses voltando atrás em seus depoimentos, Cristiano André Fris, o dono da moto disse quando ouvido pela segunda vez, que mentiu. Não houve queda de moto, ele não emprestou moto para Michel e que mentiu porque o amigo e chefe pediu, para que pudesse explicar os machucados, que, para Cristiano, ele contou serem dos dentes de Claudia que o cortaram quando ele tentou salva-la.

 

         Outro advogado é contratado por Frank, Wilson Lopes dos Santos.

 

         É ele que, representando Michel vai a delegacia.

 

         Com mais ou menos a mesma historia que De Paula deu a Veja.

 

         A tese de sua defesa era que Claudia morreu de uma overdose. Mas lembram que o exame toxicológico deu negativo? Ele pediu na justiça a exumação do corpo para refazerem os exames.

 

         Georges foi preso. Michel teve tambem prisão decretada, mas estava foragido.

 

         A família Rodrigues exaustivamente pedia por justiça. Hilton chegou a escrever uma carta ao presidente Geisel pedindo ajuda.

 

         O corpo de Claudia foi exumado no começo no dia 08 de setembro de 1977.

 

         A Policia Federal aproveita o ensejo e investiga o tráfico de drogas envolvendo ate mesmo pessoas próximas a Michel. Diversas pessoas são presas em operações da PF.

 

         Daniel Labelle mesmo foi denunciado por uso de entorpecentes e passou 100 dias preso, depois saiu sob fiança. Labelle foi expulso do Brasil em 1978, por um decreto assinado pelo presidente Geisel.

 

         Ainda não falamos de mais uma personagem nessa história: Valninia Rodrigues dos Santos, a empregada.


         Ela diz que ajudou a descer a mala, sem saber o que tinha dentro, tambem diz que ouviu que uma mulher foi morta lá então o Ministerio Publico e a policia a indiciou tambem por co autora na ocultação do cadaver. Ela pode esperar o julgamento em liberdade.

 

         O casal Simonelli foram ouvidos mas saíram do apartamento antes que o crime acontecesse. Até o momento em que eles foram embora, Claudia estava no apartamento.

 




         Uma ex namorada de Michel, Marina Saboya confirma o vicio dele em drogas. Que ele tentava negar que houvesse.

 

         Claudia voltou ao Cemiterio São Joao Batista no dia 14 de setembro. As viceras ficaram no Instituto Afrânio Peixoto.

 

         A justiça pediu a extradição de Michel Frank sob o artigo 5º do Codigo Penal que trata do principio da territorialidade, que diz, que crimes cometidos em território nacional, sem prejuizo de convenções ou tratados, é aplicado a lei brasileira, independente da nacionalidade do acusado. Se aconteceu aqui, ele responde aqui. E o Brasil possuía um acordo de extradição com a Suiça assinado pelo Getulio Vargas.

 





         O promotor mandou via Itamaraty todo o processo no dia 07 de novembro de 1977 e ele chegou na Suica no dia 02 de dezembro. Mas não adiantou de muita coisa.

 




         Assim que chegou a Zurique, Michel internou-se em uma clinica de reabilitação no dia 28 de agosto e ficou lá por 18 dias.

 

         No começo de outubro ele se apresentou a policia suíça e ficou preso por 2 meses, aguardando as conversas entre as embaixadas e o que a Suiça decidiria.

 

         E um juiz suíço não acreditava que o trabalho da policia carioca possuía indícios fortes da culpa de Michel e ele é liberto.

 

         Aqui no Brasil, a imprensa descobriu que, um ano antes, em outubro de 1976, Michel se envolveu em outro crime. Ele atropelou José Liberato da Silva, de 52 anos, na antiga Avenida Sernambetiva, que hoje é a Lucio Costa, que rodeia toda a praia da Barra começando na Praia do Pontal no Recreio e indo até o Quebra Mar já perto da Joatinga. A vitima faleceu no dia 06 de novembro de 1976. Michel foi indiciado mas nada tinha sido feito. O inquérito estava simplesmente parado.

 

         E antes que eu me esqueça, há um outro fato curioso: o namorado norte americano de Claudia, o Dusty, escreveu depois da morte dela, uma carta, dizendo que Claudia seria mulher dele mesmo que não fosse mais viva. Para alguns, romântico. Para outros, estranho.


         O caso do atropelamento só andou depois que a imprensa começou a escrever sobre ele mas não foi o suficiente. Michel, mesmo estando na Suiça, foragido, foi absolvido do assassinato, do atropelamento, em março de 1979.

 

         Com tudo isso acontecendo, o Luis Gonzaga sumiu. Ele foi depois localizado morando em Teresina no Piaui.

 

         Ele foi ouvido pelo juiz Motta Moraes e contou que viu 2 homens descendo de uma Brasilia. O que ele reconheceu como Michel, ajeitava algo atras, no banco traseiro e o outro homem foi para o Chapeu dos Pescadores. E só. Bem diferente do que ele contou a Radio Globo e tambem em entrevistas, sobre ve-los tirando algo do carro, arrastando, jogando nas pedras.

 

         Muitos boatos surgiram sobre ele. Boatos de que ele poderia ter sido subornado por Egon Frank depois que seu depoimento mudou, passando a omitir a informação de que anotara a placa. E o que aconteceu com ele, reforçou o boato.

 

         Luis, um operário, viajou para Teresina de avião, algo caríssimo em 1977. Chegando lá ele comprou um Volkswagen 4 portas fez de taxi e uma casa, simples, mas própria.

 




         A explicação dele era de que recebera 10 mil cruzeiros de uma emissora por uma entrevista que nunca foi ao ar e que conseguiu juntar dinheiro nos 6 anos que ficou trabalhando fora do Piaui pra conseguir comprar o taxi.

 

         Nem todo mundo comprou essa historia.

 

         A vida de Michel permaneceu bem plena no fim dos anos 70. Ele casou em 1978 com Marilia Guiomar. Conseguiu um emprego em Zurique na Bolsa de Comercio Norte Americana.

 

         Com a negativa de extradição, sobrava o julgamento de Georges, preso no Presidio Nelson Hungria, em Gericinó, zona oeste do Rio.

 


        Em 1978, 1 ano depois da morte de Claudia, o reporter Odilon Coutinho, localizou e entrevistou Michel em Zurique, ele deu a sua versão que, uma das, sobre o que ocorreu, ao Fantástico. 



         Em 1979, Miguel Borges dirigiu um filme sobre o caso, chamado O caso Claudia. O roteiro foi escrito por Valério Meinel, autor do livro Porque Claudia Lessin vai morrer, escrito em 1978 ( o mesmo ganhador do premio Esso pela entrevista com o De Paula), Alvaro Pacheco, Jose Loureiro e no elenco tinha Jonas Block, o Nuno Leal Maia, Roberto Bonfim, o Carlos Eduardo Dolabella e Katia D’Angelo, interpretando Claudia Lessin. A família de Claudia entrou na justiça tentando proibir a exibição do filme mas acabou perdendo a causa.

        

 





         Esse julgamento foi adiado e remarcado diversas vezes. O promotor pediu a suspeição do juiz, tambem pediram a suspeição do promotor. O juiz Motta processou um dos advogados da banca de defesa, por sua vez teve advogado processando jornalista.

 

         Até que finalmente, a data foi marcada. Seria dia 27 de novembro de 1980.

 

         Um pouco antes dele realmente acontecer, em maio de 1980 o advogado que representada Michel, Wilson Lopes, surgi do nada com outra versão. Claudia morrera no apartamento durante:

 


         “uma loucura toxica no apartamento de Michel onde deve ter sido agredida pelos dois.” 

 


 

         E de que o vigia noturno que prestava serviço ao prédio de frente ao de Michel ajudou, sem saber, a carregar a mala onde Claudia estava.

 

         Provas ele não apresentou. Nem da loucura toxica nem de que o vigia teve contato com Michel naquele dia.

 

         Foi aberto um processo contra Michel na Suica e lá foi elaborado um documento pelo Instituto Médico Legal, ainda em 1978. Nele, os peritos não conseguiram avaliar os efeitos que a provável ingestão e uso de cocaína, álcool e mandrix, teria causado em Claudia. Lembrando que no fim das suas versões, era essa a causa da morte dela, segundo Frank.

        

 

         Antes desse julgamento acontecer, outro ocorreu, o de Doca Street. E nesse, que foi o primeiro dele, Doca foi absolvido pelo assassinato de Angela Diniz. Já se podia prever o que viria.

 

         Georges, assim como Michel, foram indiciados por homicídio triplamente qualificado, motivo torpe, asfixia e meio que impossibilitou a defesa da vítima e tambem ocultação de cadáver.

 




         O juiz era Paulo Cesar Dias Panza. O promotor foi José Carlos da Cruz Ribeiro e o assistente de acusação Osvaldo Mendonça. Os advogados de defesa eram Láercio Pelegrino e Jair Auller.

 

Laércio Pelegrino



         O conselho de sentença foi formado por 5 mulheres e 2 homens, 5 eram funcionários públicos, tinha uma advogada e uma bancária.

 




         O único crime que ambas as defesas admitiam era o de ocultação de cadaver, que é uma leve bem menor. A pena base é de reclusão de 1 a 3 anos.

 

 

         Um outro fato curioso, mas sobre o julgamento. Na época existiam maquinas que passavam slides feitos em um tipo de chapa e o tribunal pediu essa maquina emprestava a TV Globo para que eles conseguissem passar durante o julgamento as fotos de quando encontraram o corpo, da exumação, da reprodução simulada que a pericia fez no apartamento e no Chapeu dos Pescadores. O Tribunal não possuía esse equipamento, caro na época, então foi a Globo e funcionários dela, que operaram a maquina.

 

 

         O julgamento de Georges Kour durou 5 dias.

 




         A tese do Ministério Público era a que, no apartamento, acontecia uma orgia que começou no sábado e só terminou no domingo. Com drogas e bebidas. Claudia foi atraída ao apartamento acreditando que o seu namorado, Pedro Rovai, estava lá. Os dois acusados, mataram Claudia e para esconder o crime, levaram o corpo na Brasilia de Michel, parada em frente ao prédio e lá no Chapeu dos Pescadores, jogaram o corpo.

 

         Um outro perito, Nelson Caparelli fez outro laudo dizendo que Claudia não morreu nem de traumatismo craniano e nem de esganadura. Segundo ele, só a hemorragia subdural não dava para afirmar nada. Sobre a alegação dela ter usado drogas, ele disse que cocaína desaparece do sistema em 4 dias e que só podia ser detectada nas viceras e não no sangue, como ele alegava que o IML fez e que como as vísceras foram examinadas após a exumação, 42 dias depois, não poderia ter sido detectado alguma droga.

 

         Domingos De Paola, o patologista, em depoimento, conta que não dava pra afirmar que a combinação de drogas e bebidas tenha matado Claudia e que as evidencias mostravam lesões traumáticas.

 

         De todas as testemunhas arroladas tanto pela defesa quanto pela acusação, a que todos esperavam ouvir, era o réu. E ele falou.

 

         Chorando Georges falou no tribunal por 3 horas.

 




         Começou em como conheceu Michel, no carnaval daquele ano, 1977.

 

         No dia fatídico, sábado, ele, Michel e Daniel Labelle estavam jogando gamão, quando o telefone tocou e Michel atendeu, ele ouviu o nome Claudia. Depois os Simonelli chegaram. Claudia ligou novamente e pouco depois apareceu. Ele já a conhecia há anos, ela devia ter não mais que 10 anos, quando eles se conheceram. Por ultimo chegou um cantor chamado Enrico Grossi.

 

         Enquanto estava lá, não viu ninguém cheirando cocaína.


         Claudia em algum momento, que ele não sabia a hora exata, começou a passar mal. Michel a levou ao banheiro e depois a Bernardete a ajudou.

 

         Ouviu quando Claudia pediu um cigarro de maconha e foi fumar nos fundos do apartamento porque Michel não gostava do cheiro.

 

         Quando acabou o jogo, ele foi tomar um banho, segundo ele, pra se refrescar. Enrolou uma toalha na cintura e foi para sala. Sentou-se em um poltrona e acabou cochilando. Acordou com Michel gritando o nome dele e de Labelle.

 

         No quarto de Michel, ele estava em cima de Claudia com a mao na boca dela e ele dizia que ela estava tendo um ataque epilético.

 

         Ele, Georges, subiu no colchão e tentou fazer uma massagem cardíaca. Daniel apareceu na porta, disse que ela parecia morta e foi embora. Era madrugada do dia 24 de julho.

 

         Michel começou a insistir que não podiam chamar a policia porque tinha muita cocaína na casa e ele podia ser preso. Entao ele aceitou ajudar. Os dois amarraram a bolsa no pescoço dela para que o corpo afundasse e levaram até o Chapeu dos Pescadores.

 




         Eu não quero destrinchar o julgamento muito minuciosamente, mas eu queria falar sobre os quesitos. Quesito é basicamente as perguntas que o juiz formula para o juri sobre o caso que esta sendo julgado. Ali vem perguntas sobre a materialidade, a autoria, se existe causa pra diminuir a pena, se existe para aumentar. E eu achei bem interessante como os jurados votaram, então eu vou trazer os quesitos pra vocês.

 

         Eles foram divididos em 3 partes, a primeira sobre homicídio depois sobre drogas e a ultima sobre a ocultação do cadaver.

 

         Na primeira parte o 1º quesito perguntava se o reu estrangulou com as mãos e desferiu pancadas na cabeça de Claudia. O 2º era se o reu praticou o crime com meio torpe. O 4º era se o reu praticou o crime por meio cruel, que seria a asfixia mecânica. O 5, era se o reu praticou o crime, junto com outra pessoa usando um recurso que impossibilitou a defesa da vitima, não permitindo que ela resistisse e o ultimo quesito era se haviam atenuantes.

 

         Nessa primeira parte foram 6 votos a 1 pelo não. Entao 6 pessoas votaram que Georges não cometeu homicídio. Um jurado disse que sim, ele cometeu o homicídio.

 

         Na segunda parte, o 1º quesito era de que se no dia do crime o reu e outras pessoas promoveram uma orgia. O 2º quesito era se na orgia, o reu e outras pessoas usaram drogas. O 3º quesito era se a distribuição da droga foi sem regulamentação, ilegal né, que fala. O 4º e ultimo quesito era se havia atenuante.

 

         E novamente, foram 6 votos pelo não. Georges não usou droga, não tinha droga, não teve orgia, não teve nada. E 1 voto pelo sim.

 

         Na ultima parte, o 1º Quesisto era se, o reu junto com outra pessoa, transportou o corpo na Brasilia até o Chapeu dos Pescadores e jogaram o corpo. A votação foi unanime. Sim teve 7 votos. O 2º quesito era sobre se o reu iniciou o crime de ocultação. Foram 6 votos pelo sim e 1 voto pelo não. O 3º quesito, o crime não foi consumado por algo alhei a vontade. Sim teve 6 votos e o não, 1 voto. O ultimo quesito era sobre ter atenuantes a favor do reu e foram 4 votos pelo não e 3 votos pelo sim.

 

         A deliberação do juri demorou 1 hora.

 

         O que eu acho interessante nessa votação é que um dos jurados, estava muito querendo condenar o Kour por tudo. Ele foi a favor de todos os quesitos.

 

         Mas, mesmo querendo condena-lo por tudo, esse jurado foi voto vencido.

 

         Georges Michel Kour foi absolvido das acusações de homicídio por 6 a 1 e condenado pelo art 211, ocultação de cadaver.

 




         Só que, o que acontece, Georges já estava preso há 3 anos.

 

         O juiz Paulo Cesar Panza o condenou a 2 anos de reclusão e atenuou 1/3 da pena então no fim, a dosimetria foi de 1 ano e 4 meses. Como ele já estava preso há 3 anos, saiu do tribunal andando pela porta da frente.

 

         Ainda aconteceria um outro julgamento, não o de Michel Frank, mas o de Valninia. A empregada da casa foi julgada em agosto de 1981 e absolvida da acusação de ter ajudado no crime, já que carregou a bolsa.

 

         Voce pode estar pensando onde Michel Frank estava e o que estava fazendo enquanto tudo isso acontecia. Ele ainda estava na Suica.

 

         No fim de 1981, ele foi condenado por uso e difusão de toxico a 3 meses, em Zurique mesmo.  E em 1986 ele tambem foi preso, mas por trafico de entorpecentes, em Paris. O Brasil chegou a tentar pedir a extradição dele a França, mas recebeu uma negativa.

 

         A vida amorosa dele tambem foi movimentada. Após 10 anos de casamento com Marilia, ele pediu o divorcio mediante pagamento de pensão por 3 anos, e em francos suíços.

 

         Assim que o divorcio foi oficializado, ele casou com Elbilígia Pinheiro Sombra, uma brasileira, guia turística em Zurique. Juntos tiveram um filho, Tiago.


         O casamento não durou muito.

 

         No dia 19 de setembro de 1989, Michel foi encontrado assassinado com 6 tiros na cabeça na garagem do prédio em que morava na Gotthard Strasse, 65, Ence, Zurique, bem próximo a uma estação de trem . O corpo estava entre a garagem subterrânea e a porta de entrada do prédio. Vizinhos o encontraram.







 

         Michel, esposa e o filho de 1 ano, moravam na cobertura do prédio de 5 andares.

 

         Ele foi enterrado em um cemitério judeu e 3 pessoas compareceram: o irmão mais velho, George, um advogado e o psicanalista dele. Egon não apareceu e Katalyn, mae de Michel, que na época morava na Australia, tambem não.

 





         Na lapide, a família trocou as informações para dificultar a localização. Ele foi enterrado com o sobrenome Hoffman e a data de nascimento alterado para 1930.

 

         Alguns meses depois, um musico e uma enfermeira, apresentaram-se e confessaram terem assassinado michel depois de irem a casa dele usar cocaína.

 

         Nada foi confirmado.

 

         Em outubro de 1986, a 2ª Camara Criminal aqui do Rio, por 11 votos a favor, anulou o julgamento de Georges Kour sob a justificativa de que o juiz Panza formulou mal os quesitos dos jurados. Aqueles que eu li pra vocês.

 

         A prisão de Kour foi decretada em 1986. Os advogados dele recorreram ao STF e foi concedida uma liminar permitindo que ele aguardasse o tal novo julgamento, em liberdade.

 

         A ultima noticia que encontrei era de, até 1990, não houve novo julgamento.

 

         George abriu um salao em Niteroi e depois sumiu, não se soube mais do paradeiro dele.

 




         Em 1996, um novo laudo apontou que a morte de Claudia foi por overdose.

 

         Márcia Lessin atuou por alguns anos e depois deixou a profissão e se tornou designer de interiores.

 

         Pra terminar esse episodio, quero deixar aqui um poema que Maria Doroteia escreveu para sua filha:



         “Claudia

         Nunca mais verei o teu rosto,

         Nunca mais a tua voz suave e mansa,

         Como tudo esta vazio,

         Tua cama não mais desfeita,

         Tuas vestes guardam o teu perfume

         Teus livros, cadernos, desenhos,

         Tornaram-se recordações da tua curta vida.

         Tao cruelmente ceifada.

         Na capa de um caderno,

         O desenho de tua mao espalmada,

         Mao tao minha conhecida.

 

         Teus amigos se recolheram,

         Evitam sentir tua ausência.

         Alguem trouxe rosas para voce, Claudinha,

         Para enfeitar o teu quarto.

         No cartão, estas palavras:

 

         Para Claudinha,

         Rosa desfolhada,

         Claudia, símbolo,

         Claudia, flor”

 

 

 









Comentários

Postagens mais visitadas