T02 Ep16 O caso do Monstro da Ceasa
O Caso
A cidade de Belém, novamente passaria pela agonia de uma serie de crimes que amedrontaria
mães e pais da periferia da cidade.
O ano era 2006. Lan Houses ainda
estavam muito em alta. Lembram do caso da menina Bruna da 1ª temporada, tambem
de Belém e que era frequentadora de lan houses?
Ter um computador, que ainda eram
aqueles de mesa com monitor, CPU, teclado, aquele protetor de tela que
escurecia um pouco o monitor... era no inicio dos anos 2000, item de luxo pra
grande maioria das famílias, então os pré adolescentes e adolescentes dos anos
2000, tinham nas lan houses não só o point pra entrarem na internet, mas de
encontro.
No dia 16 de dezembro de 2006, José
Raimundo Oliveira, de 14 anos, saiu de casa dizendo que iria na lan house perto
de casa e já já voltaria. Não voltou.
A família fez um boletim de
desaparecimento e começou as buscas. A única informação que se tinha, era de
que o ultimo lugar onde ele foi visto, era na lan house SNAP, na Avenida José
Bonifácio.
A agonia da família duraria meses.
Quatro dias depois do sumiço de
José, um corpo é encontrado há 100 metros da beira da Estrada do Ceasa, na mata,
próximo ao igarapé Murucutu. A estrada, que dava acesso ao Centro de
Abastecimento, era vazia e cercada por uma mata, com exceção do começo dela,
aonde existia e existe, um condomínio.
O corpo estava com a cabeça desprendida
e já no osso. O resto do corpo já estava em estado avançado e a genitália,
havia sido arrancada com algum objeto, não sendo localizada no local.
Ele foi periciado e acabou sendo
enterrado no cemitério do Tapaña, como indigente, depois da policia não
conseguir identificar.
A principal linha de investigação
era de que a pessoa encontrada, talvez estivesse envolvida em tráfico de
prostituição infantil.
Quase 1 mês depois, em 11 de janeiro
de 2007, Adriano Augusto Nogueira Martins, 14 anos, pediu ao pai, Agostinho,
para ir na oficina de eletrônicos do seu tio Renato por volta das 2 da tarde. Adriano sempre ia lá olhar como eram os
consertos e sempre dizia que quando ficasse mais velho, iria trabalhar na
oficina.
O tio não estava na oficina então
ele decidiu ir a lan house SNAP jogar com os amigos.
Adriano foi encontrado na mata da
Ceasa no fim da tarde. Estava só com a camisa, sem roupas de baixo.
Estrangulado com um fio de nylon no pescoço. Seu short e chinelo, ao lado da
cabeça.
Infelizmente, no dia 22 de março de
2007, mais um menino do Guamá desaparece.
Ruan Valente Sacramento, de 14 anos,
avisou que iria na Lan House Snap, que ficava perto de casa.
Por volta das 17:30, um homem chega
na portaria do condomínio Morada Verde no começo da Estrada do Ceasa aflito,
avisa que acabara de encontrar um corpo na mata onde foi pegar frutas, o que
era comum na região. O vigia liga pra polícia.
Era Ruan. Ele havia sido enforcado
com um fio de nylon, estava só de camisa, sem as roupas de baixo. O corpo
estava praticamente no mesmo local onde o de Adriano tambem havia sido
localizado. Ao lado da cabeça estavam os seus shorts e o chinelo. Na boca de
Ruan, havia sido colocado um pedaço de galho de arvore.
Imediatamente a policia entende que
as duas mortes só poderiam estar ligadas. O delegado Paulo Tamer acreditava que
não só aqueles dois casos estavam ligados mas como a policia do Guamá estava
com um caso de serial killer nas mãos. A assinatura dos crimes, para ele, era
muito nítida, ambos mortos com o mesmo instrumento, fio de nylon, ambos nus
abaixo da cintura e com shorts e chinelos próximos a cabeça.
O perfil das vitimas tambem se
assemelhava: menores de 15 anos, filhos de pais separados, de famílias pobres,
da mesma região, mesma escola, vizinhos.
O nó nos fios dos dois casos tambem
intrigou a policia, dando ainda mais certeza de que eles estavam conectados. O
nós era muito especifico. Era feito por bombeiros, feirantes, escoteiros ou
militares.
A autopsia de Adriano não revelou
violência sexual. Mas a de Ruan sim. Havia material biológico no corpo.
A causa mortis havia sido asfixia.
A policia decide formar uma força
tarefa com 3 delegados: Fernando Flávio, diretor da Seccional da Pedreira,
Carlos Alberto Antunes, titular do São Brás e Waldir Freire, da seccional do
bairro Comércio.
Além da força tarefa, duas
especialistas são chamadas para ajudar a entender o tipo de criminoso poderia
estar por trás dos crimes: a criminóloga Ilana Casoy e a perita Maria Adelaide.
Na lan house, os policiais descobrem
que um homem chamado André, estava junto com os dois meninos assassinados e
tambem estava com José Raimundo, o menino até aquele momento, desaparecido.
Um retrato falado é feito.
Todas as vitimas estudavam no mesmo
lugar, na Escola Estadual Ruth Rosita.
A força tarefa decidiu que seria imprescindível
alerta a comunidade do perigo que cercava a comunidade e começa a dar palestras
tanto na escola, como nos centros comunitários do Guamá e bairros próximos.
A ideia por trás das palestras, era
além de informar do que estava acontecendo, era acuar o criminoso, porque para
a policia, a chance dele ser morador do bairro e estar próximo, era muito
grande.
Seguindo conselho dado pela Ilana
Casoy, uma varredura é feita na Mata da Ceasa em um determinado raio a partir
do local de encontro dos corpos. Ela acreditava que o serial killer da Ceasa,
teria mais vitimas e elas deveriam estar na mata.
Durante a varredura, um short e um
chinelo é encontrado e fotografado.
As fotos são mostradas para os pais
de José Raimundo que reconhecem os itens como sendo do filho.
Então, aquele corpo encontrado no
dia 20 de dezembro e que ate aquele momento estava enterrado como indigente, é
exumado para exame de DNA. O resultado volta como positivo. Era José Raimundo.
Nos próximos 11 meses, a policia continua
a investigar as agora, 3 casos de homicídio. Eles estavam certos de que
haveriam mais vitimas, afinal, as caracteristicas dos crimes indicavam a ação
de um serial, que não conseguiria ficar inativo por muito tempo, e eles
precisavam descobrir quem ele era antes que isso acontecesse. Um pente fino é
feito nas lan houses da periferia de Belém, cerca de 46 acabam sendo fechadas
por estarem irregulares. Havia uma desconfiança de que talvez, o assassino
estivesse usando a internet pra marcar um encontro com os meninos atraves de
chats ou do Orkut.
Até que o criminoso, talvez nervoso,
talvez por ansiedade, comete um erro.
No dia 06 de fevereiro de 2008, um menor, que chamaremos
de J. morador do bairro da Cremação, um bairro vizinho ao Guamá, que estava na
lan house SNAP, encontra um homem que oferece a ele R$ 10 pra olhar sua
bicicleta enquanto ele ia ao banco.
Ele subiu na bicicleta do homem pra acompanha-lo até a
agencia. Mas o homem entrou na Estrada do Ceasa. Ao entrarem naquela estrada, o
menino desconfiou e perguntou o que eles estavam fazendo ali. O homem disse que
ia parar ali pra se aliviar, mas ia ser rapidinho. Pra que o menino ficasse
mais tranquilo, entregou ao J o seu celular. Mas, sem nem perceber o que
aconteceu, J é agredido.
O homem acaba tropeçando enquanto tentava agredir
sexualmente J e aproveitando o momento, o menino de 11 anos corre o mais que pode
para fugir. Na fuga, o celular do homem que estava na mao dele, cai. Ele
consegue chegar na portaria do condomínio Morada Verde e conta que tinha sido
agredido momentos antes. Os vigias ligam para a policia.
Depois de ouvirem o menino, a policia vai ao local onde
ele contou ter sido agredido e de ter jogado o celular.
Eles encontram o aparelho. Na tela estava escrito um
nome: André.
André Barboza de 26 anos, nasceu na cidade de Guarujá, no
estado de São Paulo, no dia 29 de maio de 1981.
Era filho de Ângela Maria Barboza e pai desconhecido. Aos
3 meses de idade, ainda um bebe, foi adotado afetivamente por Júlia Damasceno
Ferreira e levado para Belém do Pará.
Frequentou a escola até o inicio do ensino médio. Mais
velho, em 1999, acabou indo servir ao
Exército, onde aprendeu jiu jitsu e trabalhou como atuou como armeiro e caçador
Snipe.
Seus pais adotivos adotivos eram donos de um hortifruti
no Guamá. Quando saiu do Exército, André foi trabalhar como feirante com os
pais. Era parte do trabalho dele, ir ao Ceasa, comprar o que abasteceria o
hortifruti.
Ele morava na Passagem Mucajás, 168, entre a Passagem Albi
Miranda e Travessa São Cristóvão, muito próximo a lan house e as casas das
vitimas.
A Lan house havia filmado André subindo e descendo o
estabelecimento com a bicicleta. A imagem é mostrada a J que reconheceu André como sendo o homem que o atacou.
Quatro dias depois do ataque a J, André é preso em casa.
Foram 12 horas de interrogatório. Ele chegou a pedir um
padre e um juiz, mas mesmo depois da chegada deles, não confessou.
André só confessou e deu detalhes de tudo o que
aconteceu, no dia seguinte.
Ele conhecia os meninos, os pais, então era mais fácil
uma aproximação.
Segundo consta na denuncia do Ministério Público, André relata que:
Ele morava bem próximo ao José Raimundo, chamava ele de
Charopinho.
O José pediu crédito pra jogar na lan house. Jogaram
juntos e ele depois chamou o menino pra irem a uma lotérica que ficava na mesma
Avenida, a José Bonifácio, mas em frente ao Colégio Paulo Maranhão.
Depois da lotérica, pediu que fosse com ele numa agencia
do Banco do Brasil
Sando saíram do Banco, começaram a conversar sobre escoteirismo,
porque ele sabia que o menino tinha sido escoteiro.
Passando na Estrada do Ceasa fingiu que precisava urinar
e que ia no mato, fora da estrada. José o acompanhou.
André então manda que ele tire a roupa de baixo. Depois
dá uma chave de braço nele, deita o menino no chão e dá um mata leão, que
aprendeu durante seu tempo no Exército.
Pra ter certeza de que havia morrido, ele pega um fio de
nylon que levava no bolso da calça, arrasta o corpo pra um pouco mais dentro da
mata, passa o fio no pescoço, dá um nó enforcando José.
Ele encontra um garrafa de vidro, de acordo com ele,
verde. Quebra e com o gargalo, corta o pescoço e o pênis do menino.
Vai pra casa, toma um banho e volta pra lan house,
ficando lá ate mais ou menos 10 da noite.
Com o Adriano ele repete o modus operandi.
Encontrou com o Adriano na lan house e pagou uns créditos
pra ele.
Chamou pra irem a lotérica e depois ao Banco do Brasil.
Foi para a Estrada do Ceasa e dizendo ter algo errado na
estrada, atraiu o menino para dentro da mata.
Mandou ele tirar a roupa, imobilizou com chave de braço,
deu um mata leão e enforcou com um fio de nylon.
Depois de tudo, voltou a lan house.
No assassinato de Ruan, ele repete todo o processo. Mas
dessa vez, vai a duas agencias do Banco do Brasil antes de se encaminhar com o
menino para a Estrada do Ceasa. Na estrada, ele conta que Ruan desconfiou e
perguntou Abre Aspas “ Ei cara, tu não é o casa da Ceasa?”
André respondeu que só tinha entrado na estrada porque
sabia que lá no Ceasa tinha uma agencia do Banco do Brasil e ia tentar ir
naquela.
Usando do mesmo artificio, ele consegue levar Ruan pra
dentro da mata, mas dessa vez, ele violenta a vitima sexualmente. Antes de ir
embora, coloca um galho de arvore dentro da boca do Ruan.
A desculpa pra conseguir convencer os meninos a irem com
ele na bicicleta era sempre a de ganhar a confiança pagando a lan house,
pagando um lanche, um refrigerante. Além de conhecer as famílias, o que gerava
nos meninos, uma certa segurança.
Ele frequentava inclusive, a casa do pai do Adriano, seu
Agostinho.
Quando ele sentia que o menino estava a vontade com ele,
oferecia um dinheiro pra eles tomarem conta da bicicleta dele enquanto ele ia
ou a lotérica ou ao banco.
Ele fala que aos 5 e 6 anos, foi violentado no Guamá por
um traficante chamado Max, que já havia sido morto pela policia.
Após confessar, foi encaminhado a Centro de Recuperação
do Coqueiro em Belém.
Ele chegou a ser entrevistado depois da confissão, pela
Ilana Casoy.
Foi marcada uma reprodução simulada para o dia 22 de
fevereiro.
A perita criminal que participou da reprodução relata que
as ripas da cama do André, tinham laços idênticos aos nós dos fios usados no
estrangulamento das vitimas. E que, durante a reprodução simulada, André chegou
a corrigir os policiais sobre como ele cometeu os crimes. As lesões conferidas
nos exames necroscópicos eram como ele relatou na confissão.
Porem a confissão não durou muito. André em pouco tempo
começa a negar tudo.
O julgamento do Monstro da Ceasa, começou no dia 17 de
novembro de 2008. Ele foi indiciado por homicídio triplamente qualificado,
ocultação de cadáver e vilipendio de cadáver, nos casos de José Raimundo e
Adriano e tambem de atentado ao pudor no caso de Ruan.
A tipificação de atentado violento ao pudor foi revogada
em 2009. Antes a pena base era de 2 a 7 anos e de 3 a 9 anos se a vitima fosse
menor de 14. Ela foi agregada ao crime de estupro que tem uma pena base de 6 a
10 anos.
No processo de atentado ao pudor, foi pedido um exame de
insanidade mental. Ele foi considerado imputável mas com uma personalidade
psicopática.
Ele foi condenado a 106 anos de prisão em regime fechado
com 2 anos de diminuição da pena pela confissão.
A defensoria publica pediu a diminuição da pena em 2014,
alegando o excesso no calculo da pena além de outras coisas e o pedido foi
parcialmente deferido.
Dos 104 anos iniciais, caiu para 42 anos.
Condenado, foi enviado para o Centro de Recuperação Penal
do Para II que é o ultimo local que se sabe em que ele esteve.
Ele ainda está preso em regime fechado mais a secretaria
de segurança publica não divulga em que local ele esta atualmente.
Em 2011, ele concedeu a única entrevista depois da prisão
a TV Liberal e nela, ele negou tudo. Se disse um bode expiatório e que jamais
abusou sexualmente dos meninos ou os matou.
No mesmo ano, mas em setembro, o menor J, que sobreviveu
ao Monstro do Ceasa, acabou sendo preso aos 17 anos.
J usando uma arma de brinquedo, tentou assaltar em frente
a uma escola na Travessa Padre Eutíquio. Ele e um outro rapaz Fabricio Marcelo,
de 18 anos, foram vistos assaltando e denunciados em uma divisão da policia
civil que ficava ali pertinho. Por ser menor, foi encaminhado para a Divisão de
Atendimento ao Adolescente.
Uma outra curiosidade interessante desse caso é que uma
tia do André, era uma ativista comunitária e tinha participado das palestras da
policia, ajudado a divulgar o caso e não desconfiou de que o próprio sobrinho,
era o culpado.
Algumas fontes, dizem que o André chegou a ir aos
enterros dos meninos, a consolar as famílias.
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