T02 Ep02 O caso do Serial Killer de Luziânia


 O caso




Diego Alves Rodrigues, tinha 13 anos em 2009, tinha acabado o 8º ano e iria para o 9º em 2010.




No dia 30 de dezembro de 2009, véspera do Ano Novo, Diego avisou a família que iria em uma oficina mecânica perto de onde morava, no mesmo bairro, Parque Estrela Dalva 4, na cidade de Luziânia, no Estado de Goiás e saiu, por volta de 10 da manha.    

A noite, sua mãe, Dona Aldenira, já estava agoniada. Diego não era de passar o dia inteiro na rua, muito menos, sem avisar onde estava.



Diego nunca mais foi visto vivo pela mãe.

Ela procura a delegacia e abre um Boletim de Ocorrência no dia seguinte, 31 de dezembro de 2009.

Aquela virada de ano, de 2009 para 2010, seria o pior da vida de Dona Aldenira.

 

O dia 04 de janeiro de 2010 começou como um dia normal. Paulo Vitor Vieira de Azevedo, tinha 16 anos. Paulo Vitor foi como sempre ia, para o quiosque de lanches do tio materno, onde trabalhava, e que ficava no Centro de Luziânia, perto de um hospital da cidade. A família morava no Parque Estrela Dalva.




Paulo Vitor saiu para ir pagar uma conta de luz. Voltou, entregou a conta paga e disse que iria sair novamente, mas que não demoraria e já já voltava. Não voltou.

A mãe de Paulo Vitor, Dona Sonia, dos 246 municípios do Estado de Goiás, percorreu 105, procurando pelo seu filho. Infelizmente, ela não poderia saber que ele estava tão perto dela.







A família fez e distribuiu panfletos, cartazes com o nome dele, foto e um número para informações em Brasília, principalmente pela area central da cidade e rodoviária. Mas ao invés de ajuda ou de informações, o que aconteceu foi extorsão.



Paulo Vitor já estava desaparecido a 8 dias. A policia não parecia fazer muita coisa, para não dizer que não estavam fazendo absolutamente nada. O telefone, deixado como numero de contato nos panfletos toca, era o numero da irmã de Paulo Vitor. Do outro lado, uma mulher afirma que está com o Paulo Vitor.

A mulher, pede R$ 650 reais para devolve-lo. Apesar dos diversos pedidos da irmã e da mãe para falarem com ele, a mulher enrola e exige o dinheiro. A irmã desconfiada, não quer fazer a transferência para a conta que a mulher, alegada sequestradora, havia repassado. A mãe, desesperada e com esperanças de ter seu filho de volta, decide então depositar R$ 50.00 e avisa a policia.

A policia consegue localizar a mulher. Ela é presa. Mas após averiguação, se comprova que, era só uma estelionatária sem escrúpulos, se aproveitando da dor de uma família, para ganhar dinheiro.

Tudo volta ao ponto inicial.

Enquanto tudo isso acontecia com a família de Paulo Vitor e a procura continuava dia e noite, no dia 10 de janeiro de 2010, George Rabelo dos Santos, de 17 anos, avisa que vai encontrar a namorada. Ela morava no Parque Estrela Dalva 4.




Era normal George sair para visitar a namorada, sair para encontra-la. Mas não era normal que ele não voltasse.





Na mesma semana, no dia 13 de janeiro, uma quarta feira, Divino Luiz Lopes da Silva, com 16 anos, foi brincar com os amigos no Parque Estrela Dalva 5. Desapareceu. Sem deixar rastros.




Dia 18 de janeiro. Quatro meninos já haviam desaparecido.

Flávio Augusto dos Santos, de apenas 14 anos, estava no 8º ano. Ele era menor aprendiz em uma distribuidora de doces. Entrava as 13 horas e saia as 18. Morava no Parque Estrela Dalva 7.




Depois de sair da escola, foi para a casa da irmã almoçar, antes de começar seu horário na distribuidora. Como ainda tinha um tempinho, ele diz a irmã que vai levar a bicicleta dele para uma oficina de bicicletas perto de casa. Flávio desapareceu no caminho. Ele nunca chegou na oficina.

Fazia 4 dias que Flávio estava sumido. Márcio Luiz de Souza Lopes, de 19 anos, mais velho que os meninos que já estavam desaparecidos, foi andar de bicicleta no Parque Estrela Dalva. As 6 da tarde, ele foi visto por várias testemunhas. Após esse horário, ninguém mais o viu. Não vivo.




Márcio havia brigado com o pai alguns meses antes e com alguns amigos, montaram uma republica. Eles eram os responsáveis por manter a casa limpa, pagar as contas....

Boatos começaram a surgir de que, dois homens mais velhos que tambem moravam na casa e que, segundo os mesmos boatos, seriam dois homossexuais que gostavam de meninos novos, estariam envolvidos no desaparecimento.

Os dois, assim como outras pessoas e amigos, foram ouvidos pela policia. Nada indicava que eles tivessem tido qualquer envolvimento. Era só um caso de homofobia e fofoca.

De acordo com as famílias dos 6 meninos sumidos, a policia não parecia estar fazendo muito para tentar encontrá-los.

Diego sumiu no dia 30 de dezembro de 2009. Seu boletim de desaparecimento foi feito no dia seguinte, 31 de dezembro de 2009.

Paulo Vitor sumiu no dia 04 de janeiro de 2010. Seu boletim de desaparecimento foi feito no mesmo dia.

George sumiu no dia 10 de janeiro de 2010. Seu boletim de desaparecimento foi feito no dia 12 de janeiro de 2010.

Divino sumiu no dia 13 de janeiro de 2010. Seu boletim de desaparecimento foi feito no dia 14 de janeiro de 2010.

Flávio sumiu no dia 18 de janeiro de 2010. Seu boletim de desaparecimento foi feito no dia 19 de janeiro de 2010.

Márcio sumiu no dia 22 de janeiro de 2010. Seu boletim de desaparecimento foi feito no dia 24 de janeiro de 2010.

 

O inquérito policial do caso do Diego, só começou no dia 15 de janeiro de 2010. Exatos 16 dias depois do boletim de desaparecimento ter sido aberto.

Os inquéritos referentes aos outros meninos, foram abertos no dia 25 de janeiro. Um dia após o Boletim de Desaparecimento do 6º menino, Márcio, que teve o seu inquérito aberto no dia 27 de janeiro de 2010.

Quando as investigações começaram, 6 meninos do Parque Estrela Dalva já estavam sumidos.

Ainda em 2009, uma CPI para investigar o desaparecimento de crianças e adolescentes, entre os anos de 2005 e 2007, foi criada.

Na primeira semana de fevereiro, as mães do agora conhecidos pela imprensa, como os meninos de Luziânia, foram a uma audiência da CPI, procurando ajuda para encontrar seus filhos.

Foram levantadas diversas hipóteses acerca do desaparecimento dos meninos: tráfico de órgãos, trabalho escravo, envolvimento de algum grupo de extermínio. Linhas de investigação que a própria policia achava-se investigando.

Uma das mães, Dona Cirlene, mãe de George, já não queria mais morar no Parque Estrela Dalva 8. Ela tinha medo de represálias, de que algo pudesse acontecer tambem aos seus outros filhos. E com medo, ela queria se mudar de bairro.

Ainda em fevereiro, a policia achou uma garoupa de bicicleta, muito parecida com a da bicicleta de Márcio, o ultimo adolescente desaparecido, jogado em um matagal. A policia começou a suspeitar de que alguém estaria começando a se desfazer das provas.

Já era março de 2010. Nenhuma pista sobre a localização dos meninos de Luziânia surgiu.

No dia 20 de março de 2010, Erick dos Santos, com 15 anos, estava indo para a escola de dança onde ele dava aulas. Erick não apareceu na sua aula naquele dia.





Erick e sua família, não moravam no Parque Estrela Dalva, mas no bairro de Santa Fé. A policia, e mesmo sua mãe, no inicio, não acharam que o desaparecimento poderia estar ligado aos sumiços do Parque estrela Dalva. Mas estava.

O inquérito policial relativo ao caso do Erick, só começou 1 mês depois do desaparecimento. A policia acreditava que ele poderia ter fugido para Brasília e algumas denuncias de pessoas, alegando terem o visto em Brasília, chegou até a delegacia que investigava o caso.

Enquanto isso, a policia resolveu verificar os celulares dos meninos desaparecidos e descobriu-se que o de Paulo Vitor estava ligado. Ele começou a ser rastreado no inicio do mês de abril de 2010. O celular estava com um chip de numero do Estado do Piaui.

Várias ligações tinham sido feitas para uma empresa de tecidos em Brasília. Iniciou-se a investigação dos funcionários da empresa e descobriu-se que o aparelho não estava com nenhum dos funcionários, mas sim, com o filho de um dos funcionários.

O menino morava no Parque Estrela Dalva. Ele afirmou que havia ganho o celular de presente do tio: Adimar de Jesus Silva.

 



        

         Adimar morava morava há exatos 300 metros da casa do primeiro menino desaparecido, Diego.

         E as coincidências não paravam por ai.

         Enquanto Dona Cirlene, mãe de George, que tinha decidido mudar-se do Parque Estrela Dalva, estava procurando por indicações de casas, ela conversou com Adimar, perguntando se ele saberia onde teria alguma casa para alugar em outro bairro.

         Adimar confessa o assassinato de 6 meninos. E é preso imediatamente.




         Mas afinal, quem era Adimar de Jesus Silva?

         Adimar nasceu na cidade de Serra Dourada na Bahia. Tinha nove irmãos. Ele tinha filhos, uma filha de 18 anos, e todos eram criados pelos pais dele.

         A ex esposa havia morrido. Algumas fontes dizem que foi suicídio, outras de que ele teria a envenenado. A verdade, não sabemos. Fato é de que ela estava morta. Ele tinha 40 anos.

         Na Bahia, ele foi acusado de tentativa de homicídio e processado, mas se mudou para Goiás e já morava em Luziânia há 16 anos.

         Adimar morava com um das irmãs, o cunhado e sobrinha. Era frequentador da Igreja Universal do Reino de Deus. Trabalhava com pedreiro e os vizinhos o achavam uma pessoa reservada, calada, mas que não parecia ser uma pessoa ruim, somente discreto.

         Porém, Adimar não era o homem que os vizinhos acharam que ele era.

         Em 2005, Adimar foi condenado há 15 anos de prisão por estupro de vulnerável contra dois menores de idade, no distrito de Aguas Claras, em Brasília.

        

         Ele ofereceu dinheiro para um menino em troca de ajuda para descarregar um caminhão de telhas. Colocou uma faca no pescoço do menino assim que ele se distraiu e o forçou a fazer sexo com ele. Ao prometer que se o soltasse, ele traria um amigo para Adimar, o menino consegiu fugir e ir atrás da policia. Quando a policia chegou, Adimar estava abusando sexualmente de outro menino.

         Adimar foi preso e enviado para o Complexo Penitenciário da Papuda, no Distrito Federal, onde ficou por 3 anos.

         Adimar possuía 3 RGs diferentes, com números e grafias diferentes do seu nome. Isso acabou com que, durante todo o processo dele em Brasilia, o processo da Bahia não fosse descoberto, já que o nome que constava era Ademar, não Adimar.

         Inclusive em várias fontes, se encontra o nome dele escrito com e, com i e com o D mudo.

         No ano de 2008, enquanto estava preso, a Vara de Execuções Penais, requisitou um exame criminológico de Adimar.

         O exame, realizado no dia 22 de maio de 2008, apontou traços de sadismo, de psicopatia e que, exames psiquiátricos e psicológicos deveriam ser feitos, para a avaliação da progressão de regime.

         Em 2ª instância, a pena de Adimar foi reduzida para 10 anos e 10 meses a ser cumprida em regime inicialmente fechado, o que da direito a progressão de regime.  

         Em março de  2009, o juiz da Execução Penal, mandou Adimar  para o acompanhamento psicológico. Em maio, Adimar passou pelas avaliações psiquiátricas e psicológicas. Os laudos atestaram que ele não tinha qualquer doença mental e que não precisava de tratamento medicamentoso.

         A autorização para as saidas temporárias, foi concedida em agosto de 2009.  Em outubro de 2009, ele foi para o regime semiaberto e pode trabalhar fora da penintenciaria.

         Em dezembro de 2009, Adimar conseguiu ir para o regime aberto, após bom comportamento ( o que eu acho ser obvio, já que ele tinha predileção por meninos e na penintenciaria, tenho certeza de que não havia ninguém na faixa etária que ele tinha como vitima).

         Após preso e confessado os assassinatos, Adimar leva a policia ao local. Era um local conhecido como Fazenda Buracão, há 3 km do Parque Estrela Dalva.




         Os corpos estavam há 300 metros um do outro. Todos tinham fraturas no crânio. Eram 6 corpos. Todos mortos no mesmo dia em que sumiram.




         Na casa de Adimar, foi localizado a bicicleta de uma das vitimas e roupas, que a mae de Erick, Dona Abenilde, reconheceu como do seu filho. Foi nesse momento que a policia entendeu que o desaparecimento de Erick, estava ligado aos outros.






         Foram recolhidos pela pericia, amostras dos corpos para exame de DNA.

         Os resultados dos exames de DNA ficaram prontos. Os corpos encontrados eram de Paulo Vitor, Márcio, George, Divino, Flávio e Erick.

 

         Os 6 corpos foram enterrados no dia 12 de maio de 2015. Cinco dos meninos foram enterrados no Cemiterio Jardim da consolação. A família de Flávio decidiu que o enterro seria realizado no Gama, em brasilia.

         O velórios dos meninos ocorreu no ginásio munical de esportes de Luziânia e levados pelo corpo de Bombeiros logo após, para os cemitérios.

 

         E o que Adimar alegou para essa serie de assassinatos?

         Bem, foram várias as motivações que ele alegou.

         Primeiro, contou que oferecia dinheiro aos meninos em troca de ajuda ( o que, devido ao histórico dele, me parece mais provável ser a motivação real). Depois, a versão era de que, ele foi contratado para matar os meninos e o mandante seria George. George seria um traficante e que os meninos deviam dinheiro a ele. Como não pagaram, George ofereceu R$ 5 mil a Adimar para matar os meninos. Como depois de matar os meninos, George não pagou o combinado, Adimar o matou. O problema dessa versão é o fato de George não ter sido o ultimo assassinado, então não justificava a morte dos outros dois meninos.

         A terceira versão era a auto defesa. Ele teria abusado sexualmente dos meninos e para não ser preso, matou todos, assim não poderia ser reconhecido ( o que faria sentido, se todos tivessem sido abusados sexualmente, mas não consegui comprovar se todos foram).

         Uma das ultimas versões é de um dos meninos morrer por ter tentado extorquir Adimar. Ele teria descoberto que ele já havia matado outros meninos do bairro.

         Ele deu uma entrevista a imprensa assim que foi preso.








         Adimar sempre deixava os meninos irem na frente e por trás, atacava na cabeça das vitimas. Com o mesmo objeto, ele cavava as covas.

         A irmã, o cunhado e um dos sobrinho, chegaram a ser presos para averiguação. Acreditava-se que ele teria tido ajuda de alguem para assassinar os meninos. Mas todos foram soltos.

         A irmã, precisou se mudar, com tanta retaliação que sofreu depois de descobrirem o que havia acontecido com os meninos e de que era o seu irmão o assassino.

         Adimar contou que aos 36 anos, depois de um assalto, teria sido estuprado e espancado por 4 homens, que por fim, cortaram uma parte de sua língua. Os 4 seriam usuários de drogas.

         Alguns, creditam esse relato e alguns outros acontecimentos na vida de Adimar, como talvez, motivo pelo qual ele diversas vezes, acusou os meninos que matou de serem usuários, ou terem envolvimento com drogas de alguma maneira.

         Adimar foi encaminhado para a Delegacia Estadual de Repressão a Narcoticos que ficava em Goiania, depois da repercussão que o caso teve, onde ficou numa cela sozinho. Na cela ao lado, eram 11 presos.




         No dia 18 de abril de 2010, 8 dias depois de ser preso, Adimar acorda na cela por volta das 8 da manha. Almoça no horário, 11:30. Durante o almoço conversa com os outros presos pelas paredes e chega a pedir que lessem o jornal em voz alta pra ele.

         Os presos, segundo Claudio, um que estava na cela, perguntam a ele sobre os crimes.

         Ainda segundo Claudio, Adimar disse que o mais difícil de matar teria sido o ultimo ( o Marcio, de 19 anos). Ele era forte, alto e que ele resistiu e lutou bastante.

         Claudio pergunta se ele tinha matado a esposa como alguns jornais diziam, mas ele nega.

         Próximo ao meio dia, os presos começam a ouvir barulho de algo sendo rasgado e o chuveiro sendo ligado. Após muito tempo da agua caindo, os presos começaram a chamar pelos carcereiros.

         Ao meio dia e quarenta minutos, o corpo de Adimar é encontrado enforcado com uma corda, feita com pedaços do lençol que cobria o colchão da cela. A pericia alegou no primeiro momento que se tratava de suicídio.

 


         Em maio de 2010, após outra procura na encosta do terreno da Fazenda Buracão, outra ossada foi descoberta.

         No fim do mês, foi confirmado que era de Diego.

         Adimar nunca confessou o assassinato de Erick.

         As mães dos 7 meninos entraram na justiça pedindo indenização ao Estado.

         Eu não tive acesso ao processo. Li a apelação cível, no processo da Dona Maria Lucia, mae de Marcio. Aparentemente, o pedido de indenização havia sido negado e houve a apelação que foi indeferida, mas eu não encontrei nada sobre os outros casos.



Fontes de Pesquisa

Metropoles

Wikipedia

Café com Crime

Freak TV

Youtube

JusBrasil

Terra

Agência Brasil

JusBrasil

Correio Braziliense

Guia Me

Correio Braziliense

Folha de São Paulo

Isto É

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