T01 Ep18 O caso Leonardo Pareja

 O caso




"Não sou um super bandido, mas certamente, sou mais inteligente que a policia."



 

    Era assim, que , Leonardo Pareja, se resumia.


Leonardo Rodrigues Pareja




    Leonardo Rodrigues Pareja nasceu na cidade de Goiania, capital do Estado de Goias em 31 de março de 1974.


    Leonardo foi adotado ainda bebe, pelo casal Luzia Rodrigues dos Santos e Pedro Pareja.



Leonardo Pareja




    A historia deles é até bem interessante. Luzia era garçonete e um dia, trabalhando, conheceu o Pedro, que era muitos anos mais velho que ela, não achei a idade certa mas devia beirar uns quase 20 anos ou ate mais. O Pedro era fazendeiro, era dono de transportadora, tinha muito dinheiro. Muito. Então, pra Luzia era ganhar na loteria.


Luzia Rodrigues, Leonardo e Pedro Pareja


  
  Eles casaram só que a Luzia não podia ter filhos e o Pedro ainda não tinha nenhum, foi quando decidiram adotar. No livro, escrito por Leandro França, que conta, a historia de Leandro Pareja , diz que Leonardo seria filho de Pedro Pareja com uma das empregadas da casa e que Luzia teria decidido com o marido, adotar a criança como mãe.



Leonardo e Luzia durante férias




    Leonardo cresceu numa família de classe media alta. Estudou inglês e espanhol, que falava muito bem, estudou musica, piano, violão, fez diversos esportes, estudou nas melhores escolas de Goiânia, ia inclusive para a escola com motorista particular. Era um apaixonado por programação e, como ele mesmo se descreve, era um menino mimado. E foi mesmo. Até os 9 anos, ele era rodeado de tudo o que uma criança merece e poderia ter. Dos brinquedos que queria até férias fora do país.



Leonardo aprendeu a tocar vários instrumentos. Aqui, ele durante uma aula de piano



    Mas por volta dos 10 anos dele, as coisas mudaram. o pai acabou indo a falência e a família precisou se mudar para um conjunto habitacional para famílias pobres em Senador Canedo, um bairro na periferia de Goiânia, aonde a criminalidade era alta e que soube acolher Leonardo da maneira que ele queria: o idolatrando. Ele se forma, acredito que em algum curso técnico, em programação de computadores.



    Leonardo, já vinha apresentando um comportamento desafiador. Começou desafiando o sindico do condomínio em que morava, antes de ir parar na periferia. Ainda nessa fase, começou a pegar sua bicicleta e ir pelo bairro, pichando muros, quebrando retrovisores de carro, pelo simples de prazer de ultrapassar limites.



    A mãe dele, Dona Luzia, diz, em um documentário produzido por Régis Farias, filho do ator Reginaldo Farias, que conta a história de Leonardo,  que Leonardo começou a sofrer bullying na escola por ser adotado e que foi ai que ele mudou de comportamento.


    O pai, apesar do comportamento cada dia mais desregrado do filho, jamais o repreendeu ou o corrigiu. Sempre ficando do lado do filho, que simplesmente adorava o pai. Ele tinha uma conexão com ele muito forte.



    O próprio Pareja diz que fez o que pode para separar os pais. De acordo com ele, a mãe, que era muito mais nova que o marido, começou a sair, a ir a festas, de acordo com Leonardo, a trair o marido e Leonardo, amando o pai como amava, não concordava com o comportamento da mãe e não achava que o pai, merecia. Mas, quando os pais finalmente se separaram, ele foi morar com a mãe.





    Aos 16 anos, começou a furtar e a roubar. Primeiro, começou furtando casas, carros, depois começou a roubar.


    Em Senador Canedo, Leonardo conheceu Gildo. Gildo era um famoso ladrão de carros. Leonardo diz viu nele, algo que ele queria para ele próprio, uma pessoa sem medo, destemido, adorado pelos outros bandidos, inteligente. Gildo se tornou o ídolo de Leonardo.
Ele estava com 18 anos. Foi quando em abril de 1992 , em menos de 1 hora, decidiu com um comparsa, assaltar postos de combustível. Onze no total.


    Durante 4 dias, a policia ficou atras dele. Depois do trabalho da P2, que e um serviço da Policia de inteligência, ele acabou sendo preso.


    No fim de 1992, o pai de Leonardo acaba morrendo, enquanto ele estava preso e a partir dai, Leonardo perdeu qualquer limite que talvez ele tivesse.


    Ele foge da Casa de Prisão Provisória de Goiânia que estava detido. Ele acaba sendo recapturado, é julgado e condenado a 9 anos e 6 meses de prisão por assalto a mão armada.
Ele já havia cumprido 2 anos dessa condenação no Centro Penitenciário de Goiás até que, durante uma briga, ele foi esfaqueado e levado para o Hospital de Urgências. De lá, ele conseguiu fugir. Era dezembro de 1994.


    Leonardo foi para Minas Gerais, cidade de Ituiutaba, que fica super pertinho do limite entre Goiás e Minas.


    Em Minas, ele e alguns parceiros, começaram a praticar roubos. Ele inclusive conta que, eles foram roubar uma casa e durante o assalto, as 3 filhas do dono da casa começaram a gritar, de nervoso, de desespero, e ai, ele pegou um violão, não fica claro se ele já tinha um ou se ele pegou da casa, mas ele do nada, começou a tocar uma musica pra acalmar as meninas, pra elas entenderem que, a intenção dele, não era machucar ninguém.


    A violência é inclusive, um ponto interessante da personalidade do Leonardo. Ele nunca assassinou ninguém. E ele gostava muito de dizer que ele evitava ao máximo ser violento. Ou agredir alguem. Na cabeça dele, estar com uma arma apontada pra alguem não era violento. Violência era bater, xingar, ameaçar, e ele não fazia isso. Não só ele, como pessoas que ele fez refém, ou que estiveram com ele, enfatizam isso. Que o Leonardo sempre tenta educado, calmo, gostava de resolver no dialogo. É um traço bem interessante.







    Em agosto de 1995, ele e os comparsas foram presos em Minas e condenados a 38 anos de prisão. Mas, não havia cela que segurasse Leonardo. Ele e um amigo, Sérgio Ricardo Salles, conseguiram fugir.


    Os dois vão para a Bahia. E é nesse momento, aos 21 anos, que Leonardo Pareja vai se tornar conhecido no Brasil inteiro.






    Leonardo e Ricardo Sérgio Rocha vão para Salvador. Em Salvador, no dia 01 de setembro de 1995, com um Citroen roubado, eles abordam Paulo Gadelha Vianna e sua filha, Fernanda, de 13 anos. Paulo era cunhado de Antônio Carlos Magalhaes Filho, um dos filhos de Antônio Carlos Magalhães, famoso cacique da Bahia. Algumas fontes dizem que Leonardo e Ricardo abordaram Paulo no apartamento em que ele e a família moravam outras dizem que foi na saída de um restaurante. Eu, acho mais plausível ter sido na saída de um restaurante.


    Eles acabam soltando o Paulo para ele conseguir o dinheiro do resgaste da filha. Eles libertam, dão os dados de uma conta bancária e vão com Fernanda para a cidade de Feira de Santana, a 120 km de Salvador.



Fernanda Viana



    Em Feira de Santana, eles vão até um hotel na cidade, chamado Samburá e fazem check in normalmente. Sem que ninguém desconfiasse de que Fernanda estava sequestrada pelos 2 homens.


    Sergio, no dia seguinte, sai com o Citroen até um orelhão para ligar para a família de Fernanda, dizer qual seria o valor do resgaste. Alguns policiais locais, acabam reconhecendo o Sérgio, porque naquele momento, o sequestro de uma sobrinha de um dos maiores políticos da Bahia, já era conhecido e noticiado pela imprensa.


    Sérgio acabou preso e o hotel cercado não só pela policia militar e pela civil, mas por todas as redes de tv do pais, com entradas inclusive ao vivo, informando como estava indo o sequestro. Algo bem parecido com o que houve no caso Éloa. Até mesmo com uma repórter da Globo, ligando para ele atraves de um celular e fazendo uma entrevista com ele, muito parecido com o que houve entre Sonia Abraao e Linderbeg Farias.






    O tenente Paulo Cesar Cabral, que liderava as negociações, decidiu tentar acabar com o sequestro pelo cansaço. A PM cortou a luz do hotel, tentou cortar a comida.... Mas Leonardo, acabou provando ser um criminoso mais perspicaz do que a policia achava.


    O que mais me intrigou nesse caso, no Leonardo, não foi a boa aparência dele, porque ele realmente era bonito, mas o quão articulado, inteligente, ele era. Ele era debochado, sarcástico, ele não tinha tatuagens e nem gostava delas, não usava drogas, não tinha vícios de linguagem, não xingava, não falava palavrões, era conciso, calmo, observador e principalmente, desafiador.


    A maneira com que, ele lidou com a policia e a imprensa durante o sequestro é interessante, porque ele brincou tanto com um quanto com outro, sem que as pessoas percebessem. Ele era manipulador, dissimulado. E eu acho que a policia não estava acostumada com isso, não sabia lidar com alguem fora do estereotipo que eles haviam criado, do que um criminoso seria. Um bandido, assim como é hoje, deveria ser preto, pobre, sem educação formal, com pouca habilidade de comunicação e agressivo. E ai, a policia da Bahia e da de Goiás e de Minas, antes deles, se deparam com alguem fora desse padrão. E eles simplesmente, acabam sendo ridicularizados em cadeia nacional. o Leonardo chega a brincar com a Rede Globo, com os jornais locais... Foi uma coisa muito interessante.





    O tal tenente, que achava que ganharia o Leonardo no cansaço, acabou ele, sendo vencido pelo cansaço. Ele começou a dormir no estacionamento do hotel, no chão. Enquanto o Leonardo estava confortável dentro do hotel.


    O sequestro durou 3 dias. Por varias vezes, ele apareceu em janela, o próprio Paulo Cesar Cabral, foi pessoalmente levar telefone celular pra ele, comida, ele chegou a pedir determinadas comidas porque a Fernanda estaria passando mal, então ele pediu fruta, sucos.. E ele ganhou. A Fernanda sofria de asma então ele pediu que mandassem um medico pra atender ela. O medico foi, ficou quase 2 horas com eles dentro do hotel, examinando a Fernanda, medicando...


    O Leonardo saiu diversas vezes do hotel. Ele, sua camisa branca e seu Ray Ban Wayfare. A policia teve varias oportunidades de atirar nele ou de surpreendê-lo pelas costas, mas a capacidade do Leonardo em tirar vantagem, paralisou a policia.


    Foi oferecido um motorista da policia rodoviária federal para o Leonardo e uns 20 min sem que ele fosse perseguido depois de fugir, tbm ofereceram um Gol pra ele mas ele não quis.
O Leonardo começou a entrar em contato com as tvs locais, rádios locais e dar entrevistas. A conversar mesmo. Toda vez que um representante da policia falava na tv, ele ligava na mesma emissora e dava a sua versão dos fatos. Claro que, a Globo por exemplo, amou. Como eu disse, uma repórter deles, a Lilian Teles, que eu ate acho que ela inda esta na Globo, ligou no numero de celular que a policia tinha deixado com ele, e ficou um tempo entrevistando o Pareja.



    Nas saidas dele do hotel com Fernanda, ele colocava lençóis sobre os dois para enganar os policias, pra que eles não soubessem quem era quem e não atirassem.



OBS: Não é veridica a informação de que Leonardo foi condenado por assassinato. Ele só foi condenado por assalto a mão armada



    Depois de 62 horas, ele trocou Fernanda, por um advogado e amigo da familia, o Luis Augusto de Lima da Silva. Ele conseguiu um monza e que a policia nao o perseguisse. Os dois entrarem no Monza e foram embora de Feira de Santana, sem que nenhum tiro fosse disparado e Leonardo, fugindo, como ele queria. Alem de extremamente famoso.


Fernanda, em sua primeira aparição na varanda do apartamento da família, após ser libertada



    O Leonardo chegou a deixar um bilhete de agradecimento dentro do hotel para a policia. Tamanho era a necessidade de peitar e desafiar autoridades que ele tinha.
O Luís foi libertado há uns 400km de Feira de Santana.






    Depois, Leonardo roubou outro carro, pegou um homem aleatório como refém, que ele logo soltou e foi em direção a Goiás.



    Esse sequestro foi acompanhado pelo Fantástico, pelo Jornal Nacional.. Eram matérias ao vivo todos os dias. Claro que, o fato , da menina ser sobrinha de um dos maiores e mais conhecidos políticos do pais, colaborou com isso. É até um dos comentários que o Pareja faz durante o documentário. Se ele tivesse com uma menina filha de qualquer pessoa, a policia teria matado ele e ela. Mas que ele sem querer deu sorte, porque ele não sabiam quem eram as pessoas que ele havia pego. E que ele só estava vivo, porque eram pessoas que tinham certa importância.




    O Leonardo ficou por mais de 40 dias fugindo. Mas não desaparecido. Sempre antes de chegar em alguma cidade, ele ligava para a imprensa e avisava em que dia ele chegaria. E ele ia. E mesmo avisando, a policia simplesmente não conseguia pegar ele.


    Quando finalmente Leonardo decidiu se entregar, ele exigiu um juiz, se entregou foi enviado para o Cepaigo, Centro Penitenciário Agroindustrial de Goiás, em outubro de 1995.


    Mas, a historia de Leonardo Pareja não acabou ali.


    No documentário, Leonardo narra e denuncia, torturas que ele havia sofrido.


    A proposito, um dos diferenciais do Leonardo eram as denuncias. Ele era um denunciador da policia. Com a notoriedade que ele ganhou após o sequestro, ele passou a denunciar não só torturas, mas sobre como o sistema policial funcionava em Goiás. Ele denunciou extorsões, esquemas de corrupção, parcerias entre seguradoras de carro e a policia... Ele começou a ser chamado pela imprensa de o bandido bom. Quase um Robin Hood, porem ser roubar para dar ao povo. Ele roubava para ele, mas denunciava todo um sistema que na verdade era conhecido, mas que na época, ninguém tinha coragem de falar. Ele dizia em entrevistas sobre como diversos ladroes de carro por exemplo, estavam presos, mas nenhum receptador.





    O Pareja conta que, depois de uma das suas fugas do Cepaigo, ele havia prometido a um amigo de prisão, um tal de Charles, que deve ser a alcunha dele, de que ajudaria ele a fugir também.


    Usando uma identidade falsa, ele foi ate o presidio de Anápolis, aonde o Charles estava, e com uma identidade falsa, com o nome de Nikson Rodrigues de Farias.


    Ele conseguiu entrar e combinou com Charles de que, iria ate o Para, levantar um dinheiro para pagar a libertação de Charles.


    Pareja roubou um carro e foi pro Para, só que, um dos policiais do esquema que iria receber o dinheiro pra ajudar na fuga do Charles de Anápolis, denunciou o Pareja pra policia do Para.


    Então quando ele chegou lá, acabou sendo preso. Em Belém, ele foi torturado e só conseguiu sair, depois de pagar R$ 4 mil reais.


    Quando ele conseguiu voltar pra Goiás, ele foi ate o presidio, com a mesma identidade, e contou pro Charles que agora ele ia ajudar na fuga, só que na violência, não mais pagando.
Ele juntou uns caras e invadiu o presidio. Eles renderam os agentes penitenciários, que não tem porte ou posse de armas, ameaçou todo mundo, ele chegou a atirar em um dos seguranças. Ele ate diz que poderia ter atirado na cabeça, se fosse necessário, ele não queria , mas se precisasse atiraria, mas que optou por atirar só na perna mesmo. Bem, ele conseguiu a chave da cela do Charles e fugiram.


    Depois de retornar ao Cepaigo, lá em outubro de 1995, 5 meses depois, Leonardo Pareja se tornou o principal ator de mais uma situação midiática.


    Em março de 1996, o diretor do Cepaigo, o coronel Nicola Limongi Filho, já estava na na direção há do Presidio há 5 anos. Os presos denunciavam e reclamavam de Nicola há muito tempo. O acusavam de organizar mortes dentro do presidio, de dividir os presos, da piora drástica da alimentação, de ofensas, perseguição, ordens de agressões e de violência, de proibir visitas, de nao ouvir aos pedidos de presos, de incitar maus tratos a presos por contravenções leves e de nunca, fazer visita aos blocos. No Cepaigo, ele era conhecido como "Nazista".




    As reclamações foram acumulando durante os anos ate que, uma disputa politica entre o juiz de execução penal Stenka Isaac Neto, que deveria fazer visitas periodicas ao presidio para ouvir os presos e fiscalizar a direção, ficou por 6 meses sem aparecer no Cepaigo e o coronel Nicola, chegaram ao limite.


    O Leonardo entre denuncias que ele faz no documentário, ele fala sobre a policia civil de Goiás. Ele acusa o diretor Geral da Policia Civil Hitler Mussolini (sim, por mais bizarro que pareça, o nome do diretor era Hitler Mussolini), acho que sabemos de quem os pais dele gostavam né. e o deputado estadual Abdul Sebba, de serem chefes de uma quadrilha dentro da policia, e de pressionarem tvs e jornais locais, para abafarem diversos crimes que eles cometiam. Ambos, eram protetores de Nicola Limongi.



    O presidente do TJGO, desembargador Homero Sabino, pediu a abertura de uma comissão para averiguar a situação do Cepaigo. E no fim de março de 1996, exatamente no dia 28, essa comissão foi ate o presidio fazer uma visita.


    Em poucos minutos de visita, começou a confusão.


    Naquele dia e pelos próximos 5, Aparecida de Goiânia foi o ponto de atenção do Brasil e do mundo.





    Um grupo de presos, decidiu começar uma rebelião e fazer a comissão de refém,
Entre os lideres da rebelião estavam:


    Onei Severino, conhecido como "Chulé", um preso só conhecido como "Pio", outro chamado de "Cezinha", o "Ferreirinha", "Ceguinho", "Tico", Eduardo Rodrigues Siqueira, conhecido como "pigmeu" e tbm como "Juquinha" e, Leonardo Rodrigues Pareja.


    Leonardo, quando a rebelião começou, estava preso numa cela, na solitária, cumprindo castigo por uma falsa tentativa de fuga.


    A TV assim que soube que havia começado uma rebelião, começou a transmitir ao vivo tudo o que acontecia.




    Leonardo, começou a liderar as negociações para a libertação dos refens.


    Entre os reféns, estavam, o diretor do presidio, Nicola Limongi, o presidente do TJGO, Homero Sabino, o filho dele,  Aldo Sabino, o secretario de segurança, o diretor do fórum, juízes, juízas, advogados, até o advogado do próprio Leonardo Pareja foi feito refém.


    Os presos estavam armados com chuchos, paus, estiletes, armas.


O que o Leonardo decidiu fazer. Ele separou a comissão em graus de importância. E dependendo de quão importante vc era, ele dividiu todos em celas e deixou 1 preso da confiança dele, como vigia da cela.


    Uma equipe de TV, afiliada da Rede Globo, chegou a tambem ser mantida presa no Cepaigo por um periodo de tempo, fazendo reportagem dentro das celas, conversando com as pessoas.É muito surreal, pelo menos pra mim, ver o repórter, camera man, filmando, de terno, narrando o que estava acontecendo enquanto no fundo, os presos armados ameaçando as pessoas. É super bizarro. Mas dá pra refletir o ponto em que tudo aquilo estava se tornando.







    Todos os reféns, afirmam categoricamente, que Leonardo os tratou muito bem, que não deixou que passassem fome, que fossem agredidos. Principalmente o Nicola Limongi. Afinal, ele era a razão da rebelião. E apesar, de vários presos, quererem mata-lo, Leonardo não permitiu. Matar Nicola seria como assinar a própria certidão de óbito, sem ele, nada impediria que a policia entrasse e tudo não acabasse num massacre. a Lembrança do que havia acontecido em Carandiru, apenas 4 anos antes, ainda era presente. E nem o Leonardo nem o governador de Goiás, queriam repetir isso no Cepaigo.





 

    Mas, a rebelião não impediu que Leonardo comemorasse seu aniversario de 22 anos no dia 31. Ele pediu bolo, pediu refrigerante, e ali mesmo, entre os rebelados, fez uma festa. Pra vocês verem o nivel de presunção que ele tinha.


    O primeiro pedido dos rebelados, foram 6 armas, 6 caixas de munição, 6 coletes, 3 carros, ou tempra ou santana e R$ 20 mil reais. A policia mandou os pedidos dentro dos carros, dividos, mas, no terceiro carro, Leonardo decidiu que tinha algo errado e desistiu da negociação. Ela um carro com 2 portas, fora do que ele havia pedido, carros potentes com 4 portas, Mas, os rebelados ficaram com os dois carros que já tinham entrado e com os outros pedidos que estavam dentro dos carros. De bobo, ele não tinha nada. Ao contrario da policia, que novamente, se via de mãos atadas numa situação em que Leonardo, era a estrela principal e fazia, em cadeia nacional, a policia de idiota.




    Os presos que não se rebelaram foram primeiro levados para um presidio feminino, o que obvio não deu certo. De lá, o governo decidiu mandar todo mundo pro Serra Dourada, o estádio que fica em Goiânia administrado pelo governo estadual. E durante essa troca, vários fugiram. Foi uma decisão desastrosa. A população ficou desesperada porque se num presidio, eles conseguiam fugir e se rebelar, imagina num estádio de futebol que ficava no meio da cidade?


    É até de uma certa maneira engraçado porque muitos dos reféns, inclusive o presidente do Tribunal de Justiça, o próprio Limongi, no documentário, deixam bem claro que de uma certa maneira, eles são agradecidos ao Pareja. O Limongi chega a literalmente dizer que devia a vida dele primeiramente a Deus e depois ao Pareja.



Leonardo Pareja e Coronel Nicola Limongi, no murdo do Cepaigo durante negociação



    Aqui ate caberia uma pequena analise. Se colocar nessa posição de liderança, não seria uma maneira de alimentar a personalidade narcisista dele? A necessidade de ser a atenção? Ou talvez a frieza dele em tomar decisões naquela situação era uma habilidade necessária pra que no fim o pior não acabasse acontecendo? Ele era uma força manipuladora muito forte ou o grupo eram pessoas facilmente manipuláveis? Fato é de que, a maneira com que o Pareja conseguiu administrar não só a situação mas as pessoas envolvidas naquela rebelião, é formidável. Sem dar um tiro, sem gritar, sem ameaçar ninguém e ainda recebendo elogios das pessoas que ele estava mantendo refém, ele foi capaz de controlar a situação, e conquistar a confiança dos presos e dos reféns. Pesquisando sobre o caso, ouvindo os relatos, nota-se que, o relacionamento criado entre o Pareja e alguns reféns, aliás, o Homero Sabino relata um sentimento parecido com Síndrome de Estocolmo. Ele declarou depois em entrevistas, que amava Pareja como um filho. Aldo, o filho do próprio Homero, que estava junto como refem, jogou futebol com os presos para distrair.





    E, no meio desse caos, com comandantes da PM tentando negociar, tvs, jornais, rádios, lotando os muros do presidio, Leonardo decide fazer algo que pra mim, foi o ponto mais emblemático de toda essa história, de toda a vida do próprio Leonardo Pareja.


    Ele chama um amigo dele, o Veriano, que mais pra frente é razão de como toda a historia termina, e pede pra ele pegar uma bandeira do Brasil e um violão e ir com ele ate a caixa d'agua do presidio. A caixa d'agua era o ponto mais alto do complexo, então a visão que se tinha de lá era ótima. Voce conseguia ver tudo o que estava acontecendo do lado de fora e manter uma certa ciência das movimentações da policia. Mas nao era exatamente pra isso, que Leonardo decidiu subir mais de 15 metros com o amigo.





    O Leonardo queria aproveitar toda aquele espetáculo para passar uma mensagem. Seja por razões pessoais ou para o seu próprio ego, seja pelos companheiros de prisão, que não sabiam como aquilo iria terminar. Fosse para imprensa, que acompanhava o que acontecia no presidio 24 horas por dia. A mensagem, segundo Pareja era de que ali, existiam pessoas e que nem só dentro das prisões tinham bandidos, na policia tambem.





    Quando os dois chegam no ponto, Leonardo e Veriano sentam e com o violão, Leonardo começa a tocar "Vida de Gado" de Zé Ramalho, para que todo mundo lá fora, o visse.
Eu vou colocar agora um trecho da musica com o próprio cantando que esta no documentário de Regis Faria. 







    Foi criada uma comissão para negociar. Leonardo e Antônio, conhecido como "Carioca", levaram primeiro o secretario de segurança publica e um coronel, até um muro do presidio para tentarem novamente entrar num acordo. Depois, levaram o coronel Nicola Limongi.
Leonardo Pareja, negociando com a comissão no muro, acabou sendo capa da, na epoca, a revista de maior circulação no pais, a Veja, de abril de 1996. Com a manchete "O bandido e os otários".



Revista Veja, abril de 1996. Capa


    O segundo pedido dos rebelados foram, 9 pistolas, 25 coletes a prova de bala, telefone, 9 metralhadoras, carros e uma entrevista coletiva antes da fuga.


    A policia entrou tudo o que Pareja havia pedido, até os carros, que eram Tempras, Monzas, Santanas de 4 portas. Os presos, cobriram todas as janelas dos carros, exceto o para brisa do lado do motorista com jornais.


    Pareja deu uma entrevista coletiva e garantiu que iria sair junto com o grupo , mas que voltaria ao presidio para cumprir a pena.


    A saida dos carros com os refens e os presos, varios até no porta malas, foi transmitida ao vivo em todas as emissoras. Oito carros em fila indiana, andando a menos de 20 km por hora, sendo escoltados para fora do presidio por uma viatura da policia, enquanto Pareja, dirigindo um Tempra, passava pelos reporteres com o vidro baixo e dando tchau.




    Depois de saírem, Pareja fez questão de dar um passeio por Aparecida de Goiânia, segundo ele, pra mostrar a cidade para um dos fugitivos que ja estava preso ha mais de 20 anos e não conhecia a cidade. Ele parou num bar, já em Goiânia, comprou cerveja, refrigerante, pagou uma rodada de cerveja pra todo mundo que estava no bar, fez piadas com motoristas, foi assediado, deu autógrafos e ate recebeu pedido de meninas, implorando para serem levadas tambem.





    O grupo, durante a negociação, recebeu como parte do acordo, 10 horas de fuga sem perseguição. O grupo se dispersou. Um foi em direção Brasília, outros para Tocantins e uns continuaram no Estado de Goiás.





    No mesmo dia da fuga, 6 fugitivos foram presos no Distrito Federal. Eles foram parados por uma barreira da policia Eles levavam Homero Sabino. mesmo sob os protestos de Homero, pedindo e relembrando que o acordo os teria dado 10 horas, a policia optou por não negociar. Começou um tiroteio.


    No fim daquela noite, em Porangatu, Goiás, o grupo que levava um juiz roubam um Kadett. O motorista do Kadett era um oficial do Exercito. Ele, uma amiga que estava tambem no carro, são levados junto. No trajeto, o oficial que estava, armado, atira em um dos presos e o mata. O Kadett capota. Os reféns conseguem fugir, mas os presos ficam presos nas ferragens.


    No dia seguinte, um Verona com alguns presos mas que não tinham reféns trocam tiros com a policia. O grupo foge a pé pela mata, em algumas horas, um deles é recapturado.
Outro grupo rouba um Uno com um casal tambem em Porangatu. Eles são perseguidos e acabam soltando o casal.


    Um dos refens, é solto e largado sozinho em Anápolis.


    Em Brasilia, um carro Fiat com a estudante de veterinária Carolina Cardoso de Andrade e o estudante de odontologia Célio Pechazzi, foi parado na barreira pela policia para averiguação. Os dois, que estudavam na Universidade de Marilia em São Paulo, tinham ido a Brasilia passar a pascoa com as familias. Infelizmente, logo atras , um Verona com fugitivos chegou atras. A policia começou a a atirar. Carolina morreu com um tiro no coração. Célio foi atingindo no torax. Algumas fontes afirmam que apos ir ao hospital e ficar uns dias, Celio teria morrido mas só encontrei confirmação da morte da Carolina.






    Leonardo Pareja, que estava com Aldo Sabino, o advogado e filho de Homero, é cercado num posto de combustível na BR 153 nas proximidades de Porangatu.
Pareja pede que um juiz seja chamado para que ele se entregue. O juiz o escolta até o quartel da PM.





    O ultimo dos reféns, o juiz do fórum de Goiânia, é liberto em Cuiabá.
Pareja é transferido para o 7º Batalhão da PM em Goiânia.






    Mas o 7º Batalhão não era onde Pareja queria estar. Ele queria voltar ao Cepaigo. Mesmo sob protestos da mãe, do seu advogado e até do Judiciário.

Leonardo ao se entregar


    No Cepaigo, houve um desentendimento entre o Leonardo, o Amauri, conhecido como "Carioca" e o "Chulé", que já conhecemos antes, envolvidos na rebelião. Depois que Chulé foi assassinado com mais de 30 facadas dentro da cela em que ficava, Leonardo já sentia que qualquer ameaça já não existia e que, mesmo que houvesse, ele estava preparado para morrer, mas o Cepaigo era a casa dele, aonde ele se sentia mais confortável. Talvez lá fosse o lugar em que, sua necessidade do poder de reconhecimento, era maior suprido.



    A diretoria do Cepaigo foi reestruturada. No lugar do Nicola Limongi, assumiu o Coronel Vilmones, o juiz Stenka foi substituído pelo juiz Carlos Alberto França, que era da Vara da Infância e da Juventude. As coisas, pelo menos, naquele momento, estavam mais calmas.
E então Leonardo Pareja voltou.


    Até o dia 09 de dezembro de 1996, cinco meses depois de conseguir voltar ao Cepaigo.
As 6:30 da manha, Leonardo acordava para o café da manha quando ouviu Veriano, seu amigo, o mesmo que ajudou a subir a bandeira do Brasil e seu violão no dia da rebelião, sendo assassinado a facadas.






    Leonardo tentou correr para ver o que acontecia com o amigo mas nao deu tempo: no caminho, ele foi assassinado com 7 tiros. Quatro deles, dado por seu outro amigo, Eduardo Siqueira, o "Juquinha", que havia prometido a ele fidelidade.


Eduardo Siqueira, o Juquinha


    Cinco presos foram acusados e condenados pela morte de Leonardo Rodrigues Pareja. No total, as condenações somaram 45 anos e 6 meses:


Eduardo Rodrigues Siqueira, o juquinha
Euripedes dutra siqueira
Jose carlos dos santos
Ivan cassiano da costa
Raimundo pereira do carmo filho

 

    Todos participantes do grupo lider da rebeliao de abril de 1996.







    Naquele mesmo dia, além de Leandro e Veriano, mais um preso tambem foi assassinado.





    Um novo plano de fuga estava sendo armado dentro da prisão, uns dizem que Pareja teria entregado todo o plano para a policia. Outros dizem que a inveja causou a morte dele. Certo é de que Leonardo Pareja acabou se tornando uma lenda. Um bandido que as pessoas começaram a torcer. Que as câmeras da televisão amavam. Um criminoso de bons modos, fala mansa, calmo, inteligente, sagaz, observador, que sabia como o sistema funcionava e usava ele ao seu favor. Que conseguiu ser adorado por todos os reféns que fez na vida. Que apesar de nunca ter matado ninguém, era temido. Respeitado. Quase idolatrado. Líder de cartas na prisão. De pedidos de casamento. Um menino estudado, com oportunidades, mas que não foi para o crime por falta de opção, mas por opção.






    Que escolheu denunciar a policia e o sistema carcerário, com uma destreza e uma malicia que o Brasil não viu antes ou depois dele.







    O juquinha, foi assassinado no dia 23 de outubro de 2018. Na mesma penitenciária aonde ele disparou 4 vezes no antes amigo. Na nova Cepaigo, reformada e rebatizada de Penitenciária Odenir Guimaraes, perfurado com ataques de chucho.


    O ultimo ato performático de Leonardo Pareja aconteceu em seu sepultamento. Um bandeira do Brasil foi posta sobre o seu caixão. Como se um herói estivesse partindo. Mas enquanto o caixão ia descendo, um policial militar foi em direção ao caixão e puxou a bandeira. Bem simbólico né?






    Dona Luzia, mãe de Leonardo recebeu do Estado uma indenização no valor de R$ 105.320,44 mais um salario minino até 2039 pela morte do filho dentro da prisao.
Em 2020, ela acabou falecendo de Covid, aos 75 anos.




    Esse foi o episodio de hoje, me conta o que vc achou desse caso. Voce já conhecia? Deixa seu comentário nas nossas redes sociais ou vem participar do nosso grupo do Telegram pra bater um papo.











Fontes de Pesquisa:








Comentários

Postagens mais visitadas