T01 Ep16 O caso do Monstro da Alba

O caso


    Na comunidade conhecida como Favela Alba, no bairro do Jabaquara, na cidade de São Paulo, no ano de 2015, morava Jorge Luiz Morais de Oliveira, de 41 anos. Jorge fazia bicos de pintor e de pedreiro, desde que havia sido demitido de uma transportadora.



Jorge Luiz Morais de Oliveira, o Monstro da Alba



    Nos anos 90, Jorge havia cometido dois homicídios. Em fevereiro de 1994, ele matou com 5 tiros o porteiro Antônio Romão da Silva, com 22 anos na época. Jorge justificou que teria matado Antônio porque ele havia abusado sexualmente da prima de um amigo, o que não foi provado. No ano seguinte, em maio de 1995, ele assassinou o marceneiro Nillian Joanices Vera San Martin, de 32 anos. Jorge acusou Nillian de ter invadido a casa dele e ter roubado a sua bicicleta. Nillian estava em um bar Jorge entrou no bar, puxou Nillian para fora e com um taco de sinuca, furou o rosto dele, Jorge pegou uma pedra bem grande e batendo na cabeça de Nillian com pedra, o assassinou.






    Pelas duas morte, Jorge foi condenado a 18 anos no total. Quatro anos pela morte de Antonio e 14 pela morte de Nillian.


    Jorge foi solto em janeiro de 2013 e assim que foi solto, voltou para a Rua Francisco Emydio da Fonseca Teles, na Favela Alba. Ele foi morar com a irmã na casa dos fundos de um terreno, localizado numa viela, onde na casa da frente morava sua mãe com seus irmãos, no meio ficava a casa do seu pai.


    Mas Jorge só ficou morando com a irmã até novembro de 2013, quando ela acabou se mudando.


    A maioria dos vizinhos, dizia que Jorge era aparentemente normal. Ele era calmo, sempre parava conversava e era muito conhecida na região já que fazia sempre algum trabalho esporádico pra alguem.


    Jorge era usuário de drogas, principalmente cocaína.


    Maria Irene Moraes, mãe de Jorge, em entrevista, disse que ele só ficava agressivo quando ele passava um tempo bebendo e usando cocaína, mas que fora isso, ele era brincalhão, muito falante e muito tranquilo. Eles acabavam brigavam muito e a partir de um determinado momento, ele fechou a passagem livre para a casa dele e proibiu que os familiares fossem até a casa sem a presença dele.


Maria Irene, mãe de Jorge



    Tudo começou no dia 23 de setembro de 2015.


    Carlos Neto Alves de Matos Junior, de 21 anos, conhecido como "Mudinho", ele era deficiente auditivo, homossexual e usuário de drogas, morava na Bahia mas tinha ido passar um tempo na casa da sua tia, na favela da Alba. Naquele dia, ele e um amigo, identificado como "japonês" nos autos, foram procurar Adriana, uma amiga dele e que era vizinha de Jorge. Adriana conta que ficou conversando com Jorge, Carlos e Igor, amigo de Carlos, até que Jorge chamou o Carlos pra ir na casa dele.


Carlos, conhecido como Mudinho


    Assim que Carlos não voltou pra casa, a família e os amigos começaram a procurar por ele por toda a Alba. Até que descobriram que o ultimo lugar em que alguem o tinha visto, era com Jorge.


    No dia 25 de setembro, Jorge saiu muito cedo de casa. Uma vizinha encontrou com ele que estava com machucados, mas que ele falou serem de mordida de cachorro.


    Um pouco mais tarde, várias moradores e amigos de Carlos apareceram na casa do Jorge procurando pelo amigo que estava desaparecido. A mãe do Jorge disse que havia sim visto Carlos há dois dias, mas que o Jorge não estava em casa. Um monte de gente começou a aglomerar na rua e então a Mara Irene decidiu chamar a policia e autorizar que entrassem na casa.


    A casa estava trancada então o pai de Jorge pegou umas ferramentas pra que a policia conseguisse arrombar o portão.


    Quando os policiais entraram havia muito sangue na casa, no fogão, no chão e manchas de sangue que indicavam arrasto. Ao irem ate o quarto, encontraram Carlos enterrado no chão, somente com os pés com os tênis para fora do chão.


Casa de Jorge




 Enquanto a policia estava dentro da casa, a tia, prima do Carlos foram avisadas que a policia estava na rua e foram até lá. Um dos policiais, tirou uma foto dos pés e dos tênis para que elas identificassem. Era realmente o Carlos.



Carlos enterrado com os tênis, que o identificaram





    No mesmo dia, a pericia do local de crime, encontrou um crânio que estava dentro de uma sapateira e dentes. Coletaram um faca. A perita em depoimento, conta que não havia marcas de luta na casa, que haviam manchas que mostravam que o corpo havia sido arrastado até o quarto e que a policia escavou mais 30 cm no chão e não encontraram mais vestígios de outros mortos. A pericia avaliou que tudo já havia sido coletado e liberou o local.
Mas, ao contrario do que a perita imaginava, o caso só havia começado.


    A policia ligou para Jorge e mãe tenta convence-lo a se entregar. Ele concorda, marca um lugar mas não vai. A irmã, tenta dissuadi-lo e consegue com que ele se entregue num local perto da casa dela.







    Em depoimento, o Jorge diz que, Carlos foi na casa dele com um rapaz com traços de japonês. Os dois disseram pra descerem na favela pra usarem drogas. Jorge teria recusado ir com ele e o rapaz japonês pegou no braço dele. Os dois começaram a brigar e o Carlos pegou uma faca e avançou em Jorge, o que teria feito as marcas que ele tinha no braço e nas pernas. Jorge conseguiu pegar a faca e atacou Carlos nos braços, costela e perna. O rapaz japonês correu e ele acabou matando Carlos. A briga começou no quarto e foi até a cozinha. Ele enterrou o Carlos no seu quarto.



Faca que a policia acredita que Jorge usou para esfaquear Carlos



    Na denuncia, o relato sobre a morte de Carlos tem uma motivação diferente. Tanto o delegado quanto o Promotor, sustentam que, Jorge teria aversão a travestis, usuários de drogas (mesmo ele sendo ne) e homossexuais. E que a morte de Carlos, tinha sido por isso. E não só a de Carlos.


    Durante os próximos dias, a família de Jorge começou a ser ameaçada na comunidade. Logo após a policia liberar o local, parentes de outros desaparecidos na Alba, decidiram invadir o local.





    Entre essas famílias estava a mãe e a companheira de Renata Christina Pedroza Moreira.
Renata era do Rio, mas conheceu Louise, sua companheira, e juntas decidiram morar em São Paulo, em 2014, junto com a filha de 10 anos de Renata. No inicio de janeiro de 2015, Renata saiu com um grupo de amigas pra beber, inclusive uma conhecida como Baianinha, Andrea, que daqui a pouco vamos falar tambem, perto da Alba. No dia 10, a dona Maria de Fátima, mãe de Renata fica sabendo por uma vizinha da filha que a Renata tinha saído e ainda não tinha voltado.


    Dona Maria de Fátima e o ex marido decidem ir para São Paulo. Eles começam a espalhar cartazes com a foto da filha, perguntar se alguem tinha visto.


Dona Fátima, mãe de Renata e Louise, companheira


    A Renata era usuária de drogas. Ela tentou ficar limpa mas infelizmente teve uma recaída. Alguns moradores diziam ter visto ela na Alba comprando drogas, mas ninguém sabia do paradeiro de Renata. Durante sua procura por Renata, Maria de Fátima acabou encontrando Jorge por 3 vezes, que olhou a foto e afirmou não ter visto Renata ou saber onde ela poderia estar. O celular da Renata havia o Buscar ativado e o ultimo local em que havia marcado a localização, era a Rua Francisco Emydio da Fonseca Teles, a rua de Jorge.


    Paloma Aparecida Paula dos Santos, era usuária de drogas, olheira do tráfico e tambem fazia entrega de agua na Alba. No dia 25 de março de 2015, Ariane, companheira de Paloma, ligou pra ela pedindo pra ela ir pra casa, mas Paloma disse que ia resolver uma coisa e depois ia. Mas Paloma não voltou. Como Paloma tinha o costume de sumir por uns dias pra ficar usando drogas, a família ate uns dias não achou estranho. Com os dias passando e Paloma não voltando, a companheira , a família começaram a procurar por ela.


    Lembram da Andrea, a Baianinha, que estava bebendo com a Renata? Em abril de 2015, Andrea Gonçalves Leão saiu de casa um dia, dizendo que voltaria no sábado, uns dias depois. Andrea era usuária de maconha. Andrea não voltou no sábado. Nem nunca mais.


    Um mês depois, em maio, Kelvin Dondoni Cabral da Silva, de 23 anos, trabalhava em um lava jato na Alba. No dia 29, ele passou na casa da mãe depois do trabalho pra brincar um pouco com a sobrinha. As 5 da tarde ele saiu dizendo que ia em casa e voltava por volta das 8 pra jantar com a mãe. Ele estava de moto. Kelvin foi até a casa da namorada que estava grávida, deixou ela lá e disse que voltava mais tarde. Kelvin era usuário de maconha. Por volta da hora que ele teria dito que voltaria na casa da mãe, ligaram do celular dele para a mãe. Deu um toque e quando a Dona Fatima pegou o celular pra atender parou. Ela retornou a ligação mas já deu como celular desligado. Ele nunca mais foi visto pela família.


    Natasha Silva dos Santos, de 21 anos, vendia livros didáticos de porta em porta. No dia 01º de julho de 2015, ela e duas cunhadas, Tatiane e Maria Tereza, foram oferecer livros na Favela Alba. Natasha havia tido problemas com drogas mas já tinha conseguido se recuperar, de acordo com o depoimento de uma das cunhadas. Natasha e Tatiane foram para a rua Francisco Emydio. Tatiane bateu no portão ao lado da casa de Jorge e Natascha no portão do terreno das casas da família de Jorge. Tatiane entrou em uma casa vizinha para mostrar a moradora e ficou na casa por meia hora. Quando saiu, não encontrou mais Natascha. Ela foi no portão de Jorge, ja que foi o ultimo lugar que ela viu Natascha, Jorge atendeu mas diz que não havia a visto. Durante a procura, alguns moradores disseram que teriam visto Natascha saindo com uma pessoa. Outros, disseram que ela estaria em um barraco, sendo estuprada por vários homens. A equipe que trabalhava com elas, foi até um endereço que deram, mas não encontraram Natascha.


     A empresa nos dias seguintes faz uns cartazes e espalha pela Alba. O irmão dela, que estava com o numero de telefone nos cartazes, recebe uma ligação dizendo que a irmã estava pedindo para ser morta em um local dentro da favela, depois de dias sendo estuprada por 5 homens, que essa pessoa viu quando colocaram ela dentro de um carro e matado ela em algum local no interior de São Paulo. Foi feito um BO de desaparecido, mas a família tinha certeza de que ela estava na Favela Alba.


    Uns dias depois, a mãe de Jorge viu com ele um celular diferente. Ela perguntou de quem era o celular e ele afirmou que era de uma moça chamada Natascha que emprestou ao Jorge mas que já iria devolver.


    Depois da descoberta do corpo de Carlos no dia 26 de setembro, disseram para a mãe e a companheira de Renata que um corpo havia sido encontrado na casa do Jorge.
Elas decidem entrar na casa e no dia 28, Louise compra pás e as duas começam a cavar na casa. Elas acabaram descobrindo vertebras, pele humana, lençóis com sangue, facas, roupas, tudo enterrado. Elas então chamam a policia.



    Quando a pericia chega, acabam encontrando mais 5 corpos, entre elas, Renata, que já estava desaparecida há 9 meses.







    Renata foi encontrada enterrada amarrada, sem roupa e sem cabelo, enterrada num corredor entre a casa de Jorge e do pai dele.





    Após exames de DNA, além de Renata, mais 3 corpos puderam ser identificados: Paloma, Andrea e Natascha.



Natascha 

Andrea



    Os moradores, depois de todos os corpos encontrados, destruíram a casa, a policia precisou demolir a casa do pai de Jorge pra conseguir acesso melhor e mãe dele, saiu da Alba. Tudo o que havia no terreno foi destruído, pra que Jorge não tivesse mais para onde voltar.






    Jorge foi questionado sobre os corpos encontrados. A única morte que Jorge confessa é a de Carlos. Alegando legitima defesa. A principio, mostram fotos de Natascha, Renata... E ele não as reconhece.



    Sobre o crânio, ele diz que pegou na casa de um amigo. Que não sabia de quem fosse.
Jorge, depois muda sua versão. Ele relata que quem colocou os corpos na casa dele foi o PCC. Que Paloma ele conhecia, ja que ela era olheira, e que Renata ele conheceu no dia da morte dela. As pessoas assassinadas tinham dividas de drogas e que por isso, o PCC teria matado elas e o obrigado a enterrar. Depois ele diz que o PCC o pagava para enterrar os corpos com droga.


    Ele negou ser homo fóbico ou ter qualquer problema com Paloma por ela ser homossexual ou com Carlos, por ele ser homossexual e travesti.


    O 5 º encontrado não conseguiu ser identificado. A mãe do Kelvin reconheceu pela TV, uma calça e um cinto sendo do filho, mas não foi possivel confirmar que a ossada encontrada era do Kelvin.


    O que consta na denuncia e nos autos do processo:


Jorge atraia as vitimas prometendo drogas e bebidas na casa dele.




    Todas as vitimas em laudos antropológicos apontam fraturas com lesões de esganadura, asfixia mecânica por contrição cervical modalidade estrangulamento e no caso de Carlos, hemorragia interna aguda traumática causada por instrumento pérfuro-cortante. No corpo de Carlos tinha um fio no pescoço.


    Em algumas fontes, diz que Jorge foi condenado por estupro que ele teria cometido em 2015, mas no processo, há a citação de uma acusação de estupro, mas, consta que o juiz pugnou pela impronuncia, o que significa que ela não aceitou a denuncia. A juíza não viu provas que corroborassem a acusação.


    Em 2016, o Tribunal de Justiça começa as audiências de instrução. É solicitado pela defesa um exame de insanidade que declara o réu imputável, que, quem me segue lá no insta sabe, significa que o réu pode ser julgado, eles não constatam "doença ou transtorno mental que prejudicasse sua capacidade de entendimento e/ou determinação quanto às ações que lhe são imputadas".


    Jorge foi indiciado nos artigos 121 §2ª inciso I, III e IV, homicídio qualificado, motivo torpe, emprego de asfixia, emboscada ou recurso que torne impossível defesa e no artigo 211, ocultação de cadáver.






    Ele foi acusado de 5 assassinatos.


    O julgamento acontece em março de 2022. Jorge é condenado a 103 anos de prisão.
Em relação a ossada encontrada em novembro de 2021, ainda não foi identificado de quem são os ossos. Jorge trabalhou na obra dessa casa, então acreditam que os ossos, pertencem a uma vitima do Monstro da Alba.


    A mãe de Kelvin, dona Fátima, ainda busca por respostas. Uma testemunha, ouvida, diz que ele teria sido assassinado pelo tráfico, mas, nada comprova isso. Não sei se foi feito pedido de comparação de DNA das ossadas encontradas ano passado e Kelvin.


Dona Fátima, mãe de Kelvin





Fontes: 



 

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