T01 Ep15 O caso do Monstro do Maranhão

O Caso



    A cidade de Pinheiro, a uns 350, 360 km da capital do Estado, São Luís, com 83.777 habitantes segundo o IBGE de 2020, até o ano de 2010, era somente conhecida como a cidade natal do ex presidente José Sarney. Lembram dele? O eterno cacique do Maranhão, de uma família que hoje é muito poderosa no Estado e que era o vice escolhido na chapa do Tancredo Neves, que foi eleito em 1984, depois de todo o movimento das Diretas Já, na reabertura politica, e que acabou morrendo meses depois de eleito, então não chegou a assumir, quem assumiu foi o Sarney. Quem tem mais do que 30 anos e quem prestou atenção nas aulas de História do Brasil da escola, sabe quem é o Senhor José Sarney. Mas, depois de 2010, ele deixou de ser o único famoso da cidade.


    Em maio de 2010, um projeto contra a pedofilia e a exploração sexual realizado pela Comissão de Direitos Humanos, começou a fazer passeatas em Pinheiro para conscientizar a população sobre o que era a pedofilia, o estupro de vulnerável, a exploração sexual de crianças e adolescentes e incentivar as pessoas a denunciar esses tipos de crime. E foi durante esse projeto, que denuncias de que, num povoado há mais ou menos 30 km do centro de Pinheiro, um homem matinha a filha presa e que tinha relações sexuais com ela.
A policia começou a investigar e no dia 08 de junho de 2010, depois de uma viagem de mais de 1 hora de veiculo, 2 km de caminhada e mais uma viagem de canoas, a policia chega no povoado de Extremo, na casa de José Agostinho Bispo Pereira, de 54 anos.




José Agostinho



    José Agostinho nasceu no ano de 1956. Ele casou com Maria Arlete Monteiro e com ela teve 4 filhos: Maria Sandra, Sandra Maria, José Inácio e Fábio Júnior. Ele era pescador e lavrador.


    Em 1998, Maria Arlete vai embora deixando os filhos com José Agostinho e nunca mais volta. O irmão dela diz que ela teria ido embora pra se tratar de uma tuberculose. Ela teria ido para Pinheiro pra se cuidar, quando melhorou conseguiu trabalhos de empregada doméstica e ficou por lá. Já a Maria Sandra, filha mais velha do casal, diz que a mãe abandonou todos eles para ir embora com um homem e que ela teria ido para São Luís. Então não sei exatamente o motivo dela ter ido embora, mas fato é de que ela foi e nenhum dos filhos nunca mais a viu.


    Quando a policia chegou nas canoas, encontrou 6 crianças. A mais velha, um menino de 12 anos, chegou a correr para se esconder quando viu a policia chegando, imagina... voce nunca vê ninguém, vive isolado, de repente chega um monte de homem, vestido com roupas diferentes... ele ficou assustado. E esse menino, era deficiente mental, intelectual, então, coitado, ficou apavorado. Ainda tinham na casa de taipa em que todos eles moravam, um menino de 8 anos, que era surdo e mudo, uma menina de 7 anos, uma menina de 5 anos, um menino de 4 anos e um menino de 2 anos. As crianças estavam nuas, desnutridas, sujas.


As seis crianças encontradas pela policia no dia da prisão de José



    José Agostinho foi preso e indiciado por estupro, abandono de incapaz e abandono intelectual.





    Depois de Maria Arlete ir embora, Maria Sandra que tinha por volta de 12 anos, começou a ser estuprada pelo pai. Aos 15, engravidou. Ela resolveu então fugir, porque de acordo com ela " não vou ficar parindo dele para o resto da vida". Ela vai para outro povoado, chamado Refúgio, e lá ele acabou conhecendo um homem, casou e teve outros filhos.


    Um pouco depois da irmã mais velha ir embora, os dois irmãos tambem vão, ficando só Sandra Maria, com 10 anos.


    Sandra começou a ser violentada por José Agostinho aos 11 anos, antes mesmo de menstruar. Quando a policia prendeu José, ela estava com 28 anos. Então ela passou 17 anos sendo violentada, agredida, mantida presa. Ela não saia da casa sozinha para ir a lugar algum. Eles tinham familiares perto, mas ela só ia visitar eles com o pai junto e muito de vez em quando.


Sandra Maria



    Dois meses antes de tudo ser descoberto, Sandra Maria tinha novamente ficava grávida. Com 30 dias do bebe nascido, ela foi com o pai ate a casa do irmão da mãe, João Batista Monteiro de 59 anos, e pediu pra ele e a esposa ficarem com o bebe, mas ele não quis ficar. Dez dias depois, ela voltou, ficou com eles um pouco, comeu se despediu e um pouquinho depois, ele a esposa ouviram o bebe chorando no quarto. Ela tinha deixado o bebe lá. Algumas fontes dizem que era um menino, outras que era uma menina.


    Tanto as 6 crianças encontradas no dia da prisão, quanto o bebe, depois de um exame de DNA, foi comprovado que eram filhos de José Agostinho.





    Depois da prisão, a historia se espalhou. Não só por Pinheiro, pelo Maranhão ou pelo Brasil, ela virou noticia internacional. José Agostinho passou a ser conhecido como o Monstro do Maranhão.


    Apesar da casa de taipa ser num local isolado, com a casa mais próxima sendo há 1km de distancia atravessando um rio, todo mundo do povoado conhecida José Agostinho. Numa entrevista da TV Record, vários vizinhos dizem que eles desconfiavam de que algo acontecia, mas nao falaram nada. 



Casa em que a familia inteira morva


    Teve um que inclusive, que contou ao repórter, que sempre achou estranho que Sandra aparecia grávida, mas nunca ninguém viu um namorado, ou alguem diferente. 


    Nessa mesma entrevista, o repórter encontra a tia da Sandra, irmã da mãe dela, que leva ele lá na casa, olha gente, eu fiquei muito mal com essa reportagem, muito. É muito descaso. Muita pobreza. A tia diz que desconfiou mas que como a Sandra nunca disse nada, nunca falou nada, ela tambem não podia fazer nada pra ajudar. 


    Todo mundo diz que desconfiava, mas falar ninguém falou nada.


    O tio, que ficou como o bebe, falou a mesma coisa. Que ouvia os boatos, mas que nao acreditava e que só foi descobrir quando viu na TV. E que se soubesse ele teria denunciado. 


    José foi encaminhado para a cadeia da delegacia de Pinheiro.


    Tanto Sandra quanto as crianças foram para uma casa alugada pela prefeitura, perto do Conselho Tutelar, receberam o auxilio de 1 salario mínimo e começaram um acompanhamento com psicólogos e assistentes sociais.



Sandra e os filhos


    A Sandra, ela não sabia que, o que o pai fazia, era violência sexual. "Ele me batia muito, me empurrava. Ele me procurava de 3 em 3 dias, de 8 em 8 dias mas eu não pensava que isso fosse crime."


    Ela sempre dizia se sentir culpada pelo pai estar preso, por ele estar sofrendo. Que ela o amava, que não queria o mal dele. Algumas fontes dizem que ela parecia ter distúrbios psicológicos, mas eu achei o tom dessas matérias um pouco preconceituosas, porque logo depois ele dizem que ela era muito rude, algo assim, insinuando que o fato dela dizer que amava o pai dela, mesmo depois de 17 anos sendo estuprada e tudo mais, só podia ser porque ela tinha problemas mentais, mas, eu fico tentando me colocar no lugar dela. Desde que ela se lembra, ela viva aquilo, aquela passou a ser a realidade dela, tudo o que existia. 

    Ela não tinha acesso a nada, a informação, a outras pessoas. Como se esperar que alguem vivendo numa casa de pau a pique, sem nada, nada mesmo, vivendo no barro, sem roupas, sem ter acesso a agua, a luz, vivendo isolada do mundo inteiro, entenda que o que ela está passando, é errado. Mesmo que a tenha incomodado algum dia, é impossível ela continuar com o incomodo por 17 anos. Ela sofreu uma lavagem cerebral. E ainda tinha os filhos. Ela sofreu um abuso psicológico isso sim. É como as pessoas sequestradas por longos períodos, elas acabam gostando do sequestrador, criando um laço.


    Esse caso inclusive, do Monstro do Maranhão, começou a ser chamado internacionalmente, de o caso Fritz Brasileiro, remetendo ao caso do austríaco Josef Fritz, que sequestrou a filha mais velha e a manteve presa no porão da casa da família por 22 anos. Ele começou a violentar a filha quando ela tinha 11 anos e depois a prendeu, inventando que uma seita tinha levado ela. Ele teve 7 filhos com ela. Enquanto ela estava no porão. Ele chegou a incinerar um dos filhos que morreu ainda bebe e 3 dos filhos, ele inventou que a filha deixou na porta da casa e criou como se fossem crianças abandonadas, a avo criou, um caso assim, chocante. 


    A filha mais velha de José, a Maria Sandra, que tambem estuprada pelo pai e engravidou dele, em entrevista, disse que pra ela tanto o pai quanto a irmã erraram:

        "Eu sinto muito... porque eu acho que eles dois erraram muito. Erraram porque se ela quisesse um marido tem muito homem né? Então ela tinha dito: ora meu pai, eu vou procurar um marido pra mim, vou deixar o senhor só... e se meu pai quer procurar uma mulher pode procurar que eu não me importo não."


    Das duas filhas que ele teve com Sandra Maria, ambas passaram por exames de conjunção carnal. A de 7 anos, disse que já havia sido molestada pelo pai avo e a de 5, em pericia, foi constatado que o seu hímen estava parcialmente rompido e que algo, havia sido colocado em sua vagina e a machucado internamente. 


     Tem algumas entrevistas que a justificativa dele, era que, as filhas o provocavam, que era elas que procuravam ele.




    O julgamento dele começou no dia 16 de dezembro de 2010 e foi presidido pelo juiz Anderson Sobral de Azevedo.


    José foi condenado a 28 anos pelo estupro de cada filha e a 35 anos pelo abuso sexual de cada filha-neta.


    No dia 07 de fevereiro de 2011, na delegacia de Pinheiro, 2 presos começaram a brigar. A briga virou uma rebelião. Os presos alegaram superlotação da cadeia e queria uma solução. A cadeia tinha capacidade de 30 pessoas e tinham 97 .


Presos rebelados na cadeia de Pinheiro



    Um dos presos tinha uma serra, os presos se juntaram pra quebrar a cela 5, aonde a rebelião começou e foram para a cela 1. Eles foram abrindo caminho até a cela 3, que era aonde os criminosos sexuais estavam presos, incluindo José Agostinho. Durante as negociações e não chegando a um acordo, 6 prisioneiros foram mortos. Dois deles foram decapitados, entre eles, José Agostinho. Ele foi cortado com uma arma feita pelos próprios prisioneiros que é tipo uma lança, feita de colher, de vergalhão, algo com um cabo que eles chamam de chuço.





    Tem um vídeo da rebelião em que eles inclusive mostram a cabeça do José pendurada do lado de fora das grades e eles batendo na cabeça. bem grotesco gente. Achei bem feito? Achei. Ele fez por merecer. Mas tambem grotesco.


    A ultima reportagem que eu achei sobre a Sandra e as crianças era de que em 2013, a Comissão de Direitos Humanos pediu que ela fosse incluída em programas do Estado e do Governo Federal.


    Eu assisti um vídeo em que o rapaz conta que em 2018, uma tv local fez um apelo dizendo que eles estavam sem o auxilio do salario mínimo, que a casa estava com aluguel atrasado, mas ele não deu a fonte, eu procurei em jornais do maranhão mas não achei nada





Fontes:


Comentários

Postagens mais visitadas