T01 Ep14 O caso do crime da motosserra
O Caso
Agilson Firmino dos Santos, o Baiano |
Cláudia Torino, nasceu no Acre, mas acabou se mudando para São Paulo. Lá, conheceu Jerson Torino. Jerson acabou sendo preso por tráfico de drogas. Claúdia, por saber que no Acre, havia uma facilidade em presos, conseguirem liberdade, volta para Rio Branco e tenta a transferência de Jerson para o Acre. Como a Lei de Execução Penal, prevê que o aprisionado fique perto da família, ela consegue a transferência.
Só que Claúdia acabou descobrindo que conseguir a progressão da pena não é tão fácil assim. Ela não conhecia ninguém que tivesse o poder de conseguir o que ela precisava, que tinha a influência para soltar o Jerson, então Cláudia começa a procurar quem pudesse ajudar.
E foi assim que ela conhece José Hugo Alves Júnior.
José Hugo, conhecido como "Mordido", afirmou que poderia ajudar Cláudia. Ele conheceria Hildebrando Pascoal, na época, ex coronel da Policia Militar e deputado estadual e que ele conseguiria libertar Jerson. Para pagar pela libertação, Hugo pediu R$ 20 mil. Mas Hugo, após receber o dinheiro, sumiu.
Cláudia acaba conseguindo contato com o irmão de Hildebrando, Itamar Pascoal, vereador pela cidade de Senador Guiomard e estava se candidatando a prefeito.
Itamar promete ajudar Claúdia a recuperar o dinheiro dela, em troca de voto: ela seria cabo eleitoral dele.
No dia 30 de junho de 1996, Itamar avista José Hugo num posto de combustível chamado Parati, no centro de Rio Branco. Itamar começa a discutir com José Hugo, exigindo que ele devolva o dinheiro da Cláudia. Hugo, mostra que está armado mas Itamar não se assusta e dá um tapa na cara de Hugo. Ao se virar, Hugo atira em Itamar, matando ele na hora.
No posto, estava Agilson Santos Firmino, o Baiano, amigo e funcionário de José Hugo, que foi até o posto com ele e estava dentro do carro. Após os disparos, ele e Hugo vão embora do posto, deixando Itamar morto.
A policia é chamada e o primo de Itamar, Aureliano Pascoal Duarte Pinheiro Neto, que era o comandante da PM na época do crime, mandou fechar Rio Branco a procura de José Hugo e Agilson. Hugo, sem avisar a família, foge para o Piaui.
Agilson, ou Baiano, veio da Bahia para o Acre com a família anos antes pra tentar uma vida melhor. Ele montou um pequeno restaurante que estava indo bem e lá ele conheceu José Hugo, que era dono de uma oficina de caminhões e aonde Baiano, eventualmente trabalhava.
Durante a busca, a policia, a mando de Hildebrando Pascoal, descobrem o endereço de Agilson.
Um grupo de 3 policiais, vão até a casa de Baiano, no bairro de Preventório. A família tinha visto na TV que o vereador Itamar havia sido morto, mas nao imaginaram que Agilson poderia estar envolvido.
Os policiais contam a Ivanilda Lima de Oliveira, esposa de Agilson, que ele teria sofrido um acidente por estar embriagado, e foi preso. Ele estava no quartel da PM, pedindo pra um dos filhos irem até lá. Ela não deixa e diz que ela vai. Os 4 entram na viatura na direção do quartel. Uns 20 minutos depois, os mesmos policiais voltam na casa, dizendo que a Ivanilda estava chamando um dos filhos. Agilson e Ivanilda, tinham 3 filhos, Emanuela, Wilder e Éder, de 15, 13 e 12 anos respectivamente.
Sendo mais velha, Emanuela diz que vai, mas um dos PMs diz que seria melhor ir um dos meninos, porque só tinham homens então seria mais adequado. Wilder Firmino de Oliveira, que tinha problemas mentais, então vai com os 3 policiais.
Cerca de 1 hora depois, após ficar presa no quartel, sendo torturada e questionada sobre o paradeiro do seu marido e de Hugo, Ivanilda volta pra casa e descobre que Wilder tinha sido levado.
No dia seguinte, Ivanilda e a filha saem pra procurar por Agilson e por Wilder pelas ruas, hospitais... No caminho, encontram alguns policiais que abordam as duas, dizendo que ela precisa dizer aonde o Baiano estaria porque seria a única maneira do filho dela ser libertado.
Nesse mesmo dia a tarde, Baiano é encontrado na Estrada Sena Madureira. Ele é amarrado, colocado no porta malas de um carro e depois no caminho, foi transferido para a caminhonete de Hildebrando. Agilson foi levado para um galpão no bairro Estação Experimental, que pertencia ao vereador Alípio Ferreira, amigo de Hildebrando.
Agilson, no galpão, foi amarrado dentro de um banheiro. Para dizer aonde Hugo estaria escondido, Agilson foi torturado brutalmente. Ele teria tido os olhos perfurados, um prego enfiado na testa e ainda vivo, teve os membros e o pênis, cortados com uma motosserra, enquanto estava vivo. Ele ainda recebeu 9 tiros.
O corpo de Agilson foi jogado num terreno baldio da Avenida Antônio Rocha Miranda, perto do prédio da Tv local.
No dia 4 de julho, o corpo de Wilder é encontrado jogado na beira da BR 364. A principio o laudo da morte, identificou a coluna dele quebrada, ácido no corpo e tiros.
A esposa ouve na rádio que acharam um corpo sem os braços e as pernas e que teria sido levado para o IML. Ela chega a ir ao IML, mas com medo, acaba indo embora sem identificar o corpo. Assustada e temendo pela vida dos filhos, Ivanilda, deixando tudo pra trás, se esconde na casa de uma amiga enquanto a família dela na Bahia não envia dinheiro para que ela compre passagens para ela e os filhos saírem do Acre.
Agilson e Wilder foram enterrados como indigentes no Cemitério Jardim da Saudade.
Mas afinal, onde estava José Hugo, que foi a pessoa que começou tudo isso?
Hugo no mesmo dia em que mata Itamar, fugiu para o Piauí, para uma fazenda na cidade chamada Parnaguá, perto da divisa com a Bahia.
Quando a esposa do Agilson foi mantida refém por algumas horas no quartel e seu filho sequestrado, a esposa de Hugo, Clerisnar dos Santos, também foi sequestrada e torturada pra revelar o paradeiro do marido dela, que ela não sabia, porque ele havia fugido sem avisar a ninguém. Clerisnar disse ao grupo comandado por Hildebrando, que ela tinha família em São Paulo e que ele poderia ter ido pra lá, então, um homem chamado de Coroinha, levou a família para São Paulo, mas, acabou sendo preso lá então a família conseguiu ficar livre.
Nesse ponto, Hildebrando resolve espalhar pela cidade, cartazes de Procura-se, com uma recompensa de R$ 50 mil para quem entregasse Hugo.
Vamos parar um pouquinho a história, para conhecer o mandante de todo esse massacre: Hildebrando.
Hildebrando Pascoal Nogueira Neto, nasceu no dia 17 de janeiro de 1952, em Rio Branco.
Hildebrando surgiu para a população acreana em 1985 como ajudante de obras do prefeito da época. Ele decidiu investir na carreira militar e já dentro da corporação, começou a arquitetar, planejar e executar diversos crimes. Hildebrando conseguiu chegar ao posto de coronel da PM.
No fim dos anos 80, dois grupos de extermínio e milicia, já estavam dominando o Acre: o grupo de Hildebrando e o do delegado Enock Pessoa de Araújo.
Enquanto o grupo do delegado executava criminosos que tinham sido presos diversas vezes por vários crimes e que sempre eram soltos, o grupo de Hildebrando matava por dinheiro.
Um grupo não se dava bem com o outro e no fim de 1992, Enock foi assassinado com 4 tiros nas costas ao chegar num supermercado. Agora, só haveria um grupo no Acre.
Em 1994, Hildebrando reforma-se da PM, se candidata e é eleito como o deputado estadual mais votado do Estado, pelo PFL.
No ano de 1995, o Ministério da Justiça recebe denuncias sobre o grupo de Hildebrando. Começam uma investigação e implementam uma subcomissão no Acre para investigar, mas algumas testemunhas acabam assassinadas, o caso vai para a Policia Federal
Em 1998, ele foi eleito deputado federal ainda pelo PFL, mas, uma a Policia Federal encaminha sua investigação para a Câmara dos Deputados e para o Senado, que abrem uma CPI para elucidar as denuncias de Tráfico de drogas envolvendo Hildebrando, acabando por cassar o seu cargo de deputado federal em 1999 e prender ele e outras 46 pessoas.
Em 1996, após o corpo de Agilson ser encontrado num terreno baldio, sem os braços e as pernas, a policia não abriu um inquérito policial para investigar quem seriam os culpados, apesar de toda a cidade do Rio Branco saber quem matou, porque matou e quem mandou. Um ano depois, a policia finalmente, decidiu ouvir testemunhas sobre o caso, mas, novamente, encerraram o caso sem abrir inquérito.
Durante esse tempo, José Hugo foi encontrado no Piaui. Um capitão e um soldado da PM da cidade de Parnaguá, souberam da recompensa que Hildebrando estava dando e entregaram aonde Hugo estava. Não só entregaram, como tambem ajudaram a capturar ele.
Hugo foi levado para uma cidade chamada Formosa do Rio Preto, na Bahia, perto da divisa com o Piaui. Lá ele foi torturado e degolado.
Mas apesar, de inúmeros crimes, assassinatos, que por anos o Esquadrão da Morte de Hildebrando, cometeu e ficou impune, inclusive, o assassinato de 4 pessoas que estavam presentes no dia do esquartejamento de Agilson no galpão e testemunharam tudo, o Poder Judiciário resolveu fazer alguma coisa.
Após a prisão de Hildebrando após a CPI, acusado de tráfico de drogas, corrupção eleitoral (ele teria pago votos com drogas), roubo de cargas e crime organizado, ele foi, em 1999, denunciado pela morte de Agilson Firmino.
Mas ainda demoraria 10 anos, para o julgamento de Hildebrando acontecer.
Ele só teria inicio no Fórum Barão do Rio Branco, em setembro de 2009.
Antes disso, Hildebrando ficou preso no Presidio da Papudinha, em Rio Branco até 2003. No fim de 2003, a Penitenciária Unidade de Regime Fechado2, também no Rio Branco, construída para abrigar Hildebrando e os outros acusados de grupo de extermínio, ficou pronta e ele foi transferido pra lá.
Em 2006, acontece o julgamento pela morte de um ex cumplice , lá em 1997, Sebastião Crispim, que o teria denunciado e logo após assassinado. Hildebrando foi condenado há 25 anos e 6 meses.
No julgamento de 2009, Hildebrando, Pedro Pascoal, seu irmão, dentista e ex policial militar, envolvido na morte de Wilder, filho de Baiano, Aureliano Pascoal, que, eu falei dele no inicio do episódio, era o comandante da PM em 1996, primo de Itamar e Hildebrando e o que ordenou o fechamento da cidade e a caça a Agilson e a Hugo, Amaraldo Pascoal e alguns outros acusados de participarem do assassinato e esquartejamento de Agilson e da morte do filho dele, estiveram por 3 dias, sendo ouvidos.
Em sua defesa, Hildebrando disse que, quem havia matado Agilson, foi o Alípio Ferreira, que era o dono do galpão. Aqui, eu devo dizer que a narrativa do Hildebrando me deixou confusa, o que pra mim, prova que ele só estava mentindo mesmo.
No julgamento, ele conta que no dia 30 de junho, depois de saber que o irmão tinha sido assassinado, ele só queria encontrar o Hugo, e que o interesse dele, era o Agilson vivo. Que a noite, o Alipio, chegou na casa dele por volta das 19:30, dizendo que havia matado Agilson.
E que, como ele havia perdido as chaves das algemas que tinham colocado nele e que ele poderia ser identificado caso encontrassem o corpo com as algemas, Alipio foi no porta malas do carro dele mesmo, pegou o terçado e cortou os braços e as pernas do Agilson pra tirar as algemas. E que ele, Hildebrando não teve nada a ver com isso, nem pediu pra que nada fosse feito. O interesse dele era pegar o Hugo.
E, depois, em varias entrevistas que eu vi do Hildebrando depois, o Hildebrando conta uma historia diferente. Ele diz que ele foi no galpão e que ele conversou como Baiano. Que ele perguntou aonde estaria o Hugo e só. De lá ele foi embora.
Um policial que trabalhava para o Hildebrando, José Alex, depôs no julgamento que foi ele quem achou e pegou o Agilson na estrada Sena Madureira. Ele teria ligado pro Hildebrando, que pediu pra encontrar com o Alex, no caminho, na estrada, mas que, na BR, 7 homens encurralaram o carro dele e pegaram Agilson. Esse policial inclusive deu vários nomes no julgamento.
Para Hildebrando, tudo aquilo não passava de uma conspiração. O governador do Acre, Jorge Viana, que, pra quem ouviu o episódio sobre a morte do Edmundo Pinto, o episódio 4 da temporada, já ouviu, sobre ele, que foi quem perdeu a eleição para o governo do estado em 1991 para o Edmundo, depois se elegeu prefeito de Rio Branco, inclusive ele era o prefeito em 1996, e que depois em 98, ganhou as eleições para governador, o desembargador aposentado Gecino Silva e o procurador federal Luis Francisco, estavam juntos num complô contra ele, depois dele ter denunciado a pratica de caixa dois no Estado.
A família de Agilson anos após saírem com a roupa do corpo fugidos de Rio Branco, voltaram para o julgamento.
No fim dos 3 dias, Pedro foi condenado há 20 anos pelo homicídio de Wilder e Hildebrando a 18 anos, por homicídio triplamente qualificado de Agilson.
Lembram que eu contei que tanto Agilson quanto Wilder tinham sido enterrados como indigentes? Após as condenações, a familia faz o pedido ao Ministerio Publico para conseguirem enterrar eles na Bahia. Mas só em 2010, os corpos sao desenterrados e o traslado acontece.
O Aureliano Pascoal apesar de ter sido inocentado no julgamento de 2009, devido a um recurso do MP pedindo anulação desse julgamento, em 2021, 25 anos depois, foi autorizado novo julgamento.
Mas, Aureliano, que hoje em dia é pastor evangelico, não foi julgado ate agora, porque dois advogados dele nao podiam participar e ai ficaram de agendar novo julgamento mas ainda nao aconteceu nada. A ultima noticia que eu li sobre ele, era sobre uma campanha de ajuda porque ele estava internado com covid.
O Pedro Pascoal, que foi condenado em 2009, foi preso em 2014, mas foi deixado em liberdade. Em outubro de 2016, enquanto dirigia, ele teve um infarto e morreu.
Já Hildebrando, teve progressão de regime em 2016, indo para o semi aberto, mas acabou violando as regras e voltou pra cadeia em 2017. um mes depois, entendendo que ele violou as regras devido a ma instrução dos advogados, ele teve o beneficio concedido novamente e foi posto em prisao domiciliar com tornozeleira eletronica e esta solto desde entao.
Ele hoje vive como filho, que é vereador e com a esposa.
O julgamento pelo assassinato de José Hugo começou em 2019 mas foi adiado para 2020 e depois disso, não consegui encontrar mais noticias. Como sempre, assim que eu souber, eu trago atualizações.
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