T01 Ep08 O caso Mário Eugênio
O CASO
Mário Eugênio Rafael de Oliveira, nasceu na cidade mineira de Comercinho no dia 13 de janeiro de 1953 e assassinato em Brasília,aos 31 anos, no dia 11 de novembro de 1984.
Mário Eugênio Rafael de Oliveira |
Vindo de família rica, filho de fazendeiros, tinha um irmão, Paulo Roberto Rafael de Oliveira. Chamado de Marão pelos amigos, foi casado com a jornalista Ana Maria Rocha entre 1978 e 1980, mas nao tiveram filhos. Na época do seu assassinato, namorava a tambem jornalista, Telma Iara Gomes. O hobby dele era o motoclismo.
Mário formou-se em Comunicação Social na UnB. E resolveu se enveredar em cobertura policial. Trabalhou no Diário de Brasília, Correio do Planalto, na sucursal do Jornal Estado de São Paulo, hoje Estadão, em Brasília, e estava no Correio Braziliense desde 1976, além de ter seu programa na Rádio Planalto de Brasília, o Gogó das 7, que recebeu esse nome por ser patrocinado pelo Leite Gogó e, ir ao ar, de segunda a sábado, as 7 da manha.
Rádio Planalto de Brasilia, onde Mário tinha um programa, O Gogó das 7 |
Várias reportagens de Mário Eugênio, resultaram em inquéritos policiais, punições para policiais... Ele sempre dizia que não defendia policial ladrão, policial corrupto e que lugar de bandido era preso ou numa cova. As reportagens dele eram sempre muito enfáticas e contundentes, além de ousadas. Por várias vezes, pessoas que tinham sido citadas nas reportagens dele, foram até a redação do Correio Braziliense, para literalmente tirarem satisfação com ele armados. De tantas ameças de morte , ele começou a andar armado, mas nao mudou a forma como escrevia ou abrandou nas denuncias que ele fazia. Como o bordao dele mesmo dizia: “Aqui a noticia é do tamanho da verdade. Doa a quem doer”.
Mário Eugênio na redação do Correio Braziliense conferindo negativos de fotos que ele mesmo tirou para uma reportagem |
Ele tinha sido processado diversas vezes mas nunca foi condenado por nenhuma das acusações de injúria e calúnia. Tinha muitos informantes dentro da policia. O que era bom, mas que também no fim, acabou o prejudicando, conforme o numero de denuncias que ele fazia, aumentou, assim, como a cobrança por esclarecimentos que Mário Eugênio fazia categoricamente. A rede de informação que ele tinha dentro das delegacias dava a ele uma certa proteção, mas a falta da preocupação com a sua própria segurança, já que, ele começou a mirar em brigas muito maiores, beirava a irresponsabilidade.
Mário começou a denunciar a existência de um chamado Esquadrão da Morte em Brasilia, formado por policias e militares do Exército. O Esquadrão seria financiado por comerciantes locais para matar assaltantes que invadiam lojas e roubavam carros na zona nobre do Distrito Federal.
Os bandidos que de vez em quando apareciam em covas, eram presos pela policia para despitar, e depois mortos e desovados.
Em junho de 1983, o secretário de segurança pública, coronel Lauro Rieth (vale lembrar, eu acho, que em 1983, o Brasil ainda estava sob a Ditadura Militar, entao, a maioria dos cargos de chefia em orgãos públicos, era comandada por coroneis, marechais, militares de alta patente em geral. Como obviamente, todo governo democrático, tem, prova disso é que temos hoje, quase 20 depois, vários militares, como chefes de altos cargos ministeriais ou de secretarias, no atual governo. E não é no Ministério da Defesa)tinha mandado apreender a arma calibre 38 que Mário tinha, alegando que a arma era de porte exclusivo das Forças Armadas, enquanto ele estava dentro da redação do Correio Braziliense. Mesmo com porte de arma concedido pela Policia Federal, a arma nunca foi devolvida, mesmo com Mário entrando na justiça para reave-la.
Coronel Lauro Rieth |
Depois de uma denuncia contra alguns policiais, Mário vinha sendo cercado em casa, teve seu carro apreendido, depois, como eu disse, sua arma tambem foi confiscada.
Mesmo assim, o jornalista continuou denunciando atividades do Esquadrão da Morte que já havia assassinado 7 pessoas, algumas menores de idade, suspeitas de roubo.
Em abril de 1984, ele denunciou que militares do Pelotão de Investigações Criminais do Exército, o PEI e policiais da Delegacia Especializada de Furtos e Roubos de Veículos, mataram um chacareiro (que é o dono de uma chacará ou que trabalha em uma) na zona rural de Luziânia, que apesar da policia o acusar de ter roubado o carro de um militar, o tenente Ricardo Aurelino, do Pelotão de Investigações, era inocente.
Mário Eugênio começou a cobrar justiça pela morte injusta do chacareiro. A criticar o aumento da criminalidade e da criação do Grupo de Operações Especiais (GOE), pelo coronel Lauro Riethe (sim, o secretario de segurança publica), que Mário achava que precisava de policiais experientes para que o grupo desse certo, não de policias jovens e recem formados na academia, como estava acontecendo.
A secretaria de segurança, decretou então uma portaria que proibia o acesso de jornalistas em delegacias. Claramente, uma forma de proibir não só a cobertura jornalistica, mas de tentar deter Mário Eugenio. Mas de novo, não adiantou. Mário ameaçou dizer no ar, em seu programa, o nome de todos os envolvivos no caso do chacareiro, caso o seu dever como jornalista fosse prejudicado ou cerceado.
No dia 05 de novembro, ele escreve sobre vários casos policiais não apurados.
No dia 11 de novembro de 1984, após cumprir seu horário na redação do Correio Brasiziliense, ou como Mário gostava de chamar, o Distrito Zero , em alusão a delegacias de policias que sempre são dividas em distritos, começando do 1, o jornalista vai até o prédio onde ficava a Rádio Planalto para gravar naquela noite, o seu programa que iria ao ar as 7 da manha do dia seguinte.
Quadro que Mário Eugênio pendurou na parede ao lado da sua mesa de trabalho no Correio Braziliense, que ele gostava de chamar de Distrito Zero |
Por volta das 23:55, Mário sai da rádio, que ficava no 5º andar e pega o elevador para o terreo. Sai e vai em direção ao estacionamento em frente ao prédio para pegar seu Monza Branco, faltando 2 minutos para a meia noite, Mário é atingido com 7 tiros na cabeça, já na porta do seu carro.
Corpo de Mário Eugênio caido ao lado do seu carro, após ser brutalmente assassinado |
Fonte: Mémoria Globo 25 anos |
Francisco Resende, operador de rádio que estava gravando tambem o Gogó das 7, tinha saido um pouco antes que Mário e estava no ponto de onibus proximo, quando ouviu os tiros e depois viu de longe, um homem com o que parecia ser um chapeú, usando um casaco escuro e com uma arma comprida correndo. logo depois, viu quando um Fusca Branco saiu em velocidade do local onde o homem havia corrido.
A policia foi chamada pela Rádio Planalto e chegou rápido. Também foram até o local, dezenas de policiais, amigos de Mário.
O corpo foi retirado 2 e 40 da manha e o Correio Braziliense avisou a família em Minas.
O enterro aconteceu no cemitério do Campo da Esperança as 10 da manha do dia 13 de novembro.
Enterro do Gogó das 7 |
A principio, a policia indicou que o crime havia sido cometido por algum matador profissional.
No local, o delegado Francisco Feitosa disse que o carro do bandido ficou escondido num estacionamento ao lado da rádio e que a primeira vista, parecia que ele havia sido assassinado ou por uma magnum 45 ou uma escopeta. Foi levantada a hipotese do envolvimento de 2 pessoas.
Capa do Correio Braziliense no dia 12 de novembro de 1984 |
O presidente da associação dos agentes de policia, Ivan Baptista Dias, conhecido como Kojak, um dos maiores amigos do Mário, contou que estava a muito tempo pedindo que ele se Mário se protegesse.
Reportagem contado cronologicamente o crime. Correio Braziliense |
Apesar do coronel Lauro prometer apurar o assassinato, nada aconteceu. Pistas apareciam mas nunca davam em nada.
Então o Correio Braziliense trouxe até Brasilia, Octávio Ribeiro, um famoso e muito experiente jornalista policial, conhecido como Pena Branca.
Em alguns dias, o caso estava esclarecido.
Um amigo de Mário, policial, hoje delegado aposentado, Paulo Cesar Tolentino, confirmou que Mário estava planejando publicar um livro e estava planejando publicar um livro e estava preparando um dossie com fotos de torturas feitas por policiais.
As investigações chegaram no secretário de segurança publica como suspeito de mandante. Testemunhas depuseram que ele teria pedido ao delegado Ary Sardella , coordenar da policia, para escolher alguém que matasse e o Sargento Antonio Nazareno, escolheria quem faria a emboscada.
Ary Sardella, Delegado da Policia Especializada |
Foi planejada uma emboscada para matar Mário chamada Operação Leite (uma homenagem singela né).
Na operação, combinada para outubro de 1984, estavam envolvidos, os policiais Divino José de Matos, Iracildo José de Oliveira, Moacir Loiola, o sargente Antônio Nazareno, o cabo David do Couto, cabo Aurelino Silvino, e o tambem cabo do Exército, Dirceu Perkoski.
Sargento Antônio Nazareno |
Policial Divino José de Matos |
No dia da emboscada porem, Mário nao foi para a Rádio.
A 2ª emboscada foi organizada na casa do Sargento Nazareno, no dia 10 de novembro de 1984, num churrasco, onde estavam Iracildo, Couto e Aurelino. Dessa vez, Dirceu ficou de fora.
Policial Iracildo José de Oliveira |
Cabo Aurelino Silvino |
Os 3 voltam na casa de Nazareno no dia seguinte com Divino e Loiola. De lá foram em direção ao prédio da Rádio Planalto. Antes passaram no Pelotão de Investigações Criminais do Exército para simular que estariam indo a um pedido oficial, fazer campana na Praça dos Namorados para prender suspeitos de assalto lá. A praça, além de ser perto do prédio, tinha um campo de visão otimo para ver quem entrava e saia do prédio.
Durante a campana, uma equipe do GOE que fazia ronda, abordou o Chevette Preto com os 4 homens dentro do carro, todos de boné, Iracildo, Aurelino,Moacir e Nazareno . A equipe reconheceu Iracildo, conversaram um pouco e foram embora.
Nazareno pelo rádio, um outro carro. Quando chega o fiat da policia, Nazareno vai com Iracildo nele até um estacionamento mais perto do prédio para dar cobertura.
Divino e o cabo Couto, ficam num fusca branco, escondidos dentro do estacionamento que o carro de Mário estava, aguardando ele chegar perto do carro.
Cabo David do Couto |
Divino José de Matos, conhecido como Divino 45, apelido dado por Mário Eugênio, foi quem deu os 7 tiros na cabeça de Mário.
Divino 45. Mário Eugênio deu a ele esse apelido pela fama de Divino ser um exímio atirador e gostar de armas com calibre .45 |
Depois do assassinato, todos voltaram para o Pelotão de Investigações Criminais do Exército. Divino lava a capa e a peruca (que Francisco achou ser um tipo de chapeu) e Nazareno desmonta a arma para depois jogar as partes no Lago Paranoá.
Moacir, o primeiro a ser pego, foi preso em Luziânia. Prestou depoimento e um pouco depois, foi encontrado misteriosamente morto dentro da cela da delegacia. O caso foi dado com suicidio.
O juiz Edson Smaniotto decretou a prisão do delegado da policia especializada e coordenador, Ary Sardella e do secretario de segurança publica, Lauro Rieth, além dos outros policiais e militares.
Rieth entrou com 2 habeas corpus. O primeiro, que dizia não haver indicios no auto de culpa, foi negado. O segundo, onde pedia foro privilegiado, foi deferido.
O procurador-geral, Geraldo Nunes, arquivou o processo por falta de provas. Assim como a denuncia contra Ary Sardella tambem foi arquivada.
Lauro não foi condenado, mas nunca mais teve um cargo público.
O inquerito policial indiciou 7 envolvidos.
David, Aurelino e Antonio receberam penas minimas nos seus julgamentos em 1987e depois de cumpridas as penas, foram soltos.
Iracildo morreu em 1999 depois de 11 anos preso cumprindo a condenação.
Divino foi condenado a 14 anos em 94, mas não foi preso. Os advogados de defesa impetraram diversos recursos até 2001. Divino fugiu antes de ser detido e ficou 2 anos foragido. Ele já estava afastado da policia apos apresentar apresentar um atestado de insanidade.
Em 2004, foi preso finalmente e levado para o Complexo Penintenciário da Papuda. Ficou dividindo cela na ala policial até 2008, quando ganhou a progressão do regime semiaberto e depois a liberdade condicional. Nega até hoje que tenha matado Mário Eugênio.
A ultima noticia de Divino que eu encontrei, é de que ele estava em liberdade.
A morte do jornalista foi obviamente um assassinato encomendado, por quem se incomodava com as sucessivas denuncias do que realmente acontecia dentro dos poroes das delegacias e que nao tinha medo da verdade e nem de ninguem. Foi um assassinato covarde, pelas costas, sem chance de defesa e que apesar das condenações, deixou a sensação de que a justiça não foi feita, ja que os mandantes do crime ficaram livres e as penas dos acusados e condenados, foi irrisória.
Até o proximo episódio,
Beijusssssssssssssssssssss
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